Biografia revela a "verdadeira face" de Padre Cícero
No final de novembro deve estar chegando às principais livrarias brasileiras a verdadeira história de um dos homens mais célebres do Nordeste: Padre Cícero Romão Batista. Depois de alguns anos de pesquisa em documentos oficiais da Igreja Católica, o biógrafo e jornalista Lira Neto revelará certas peculiaridades sobre a vida desse "santo" que ainda é envolta por muitos mistérios.
Eu, como cearense nato, cresci ouvindo os causos do padre Cícero. Apesar de intocável nessas bandas, muito se fala de suas aventuras ao lado do cangaceiro Lampião e, principalmente, sobre o milagre da beata Maria de Araújo.
Apesar de não ter tido acesso ao livro de Lira Neto, que tem como título "Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão" posso adiantar certos momentos da vida deste homem que nos ajuda a perceber um lado mais obscuro da sua personalidade.
Padre Cícero, muito mais que um bom conselheiro religioso (fator que lhe dava poder, inclusive de interferir na vida alheia), era considerado um genial profeta. Certos momentos se recolhia na sua casa, no alto da Chapada do Araripe, e lá permanecia alguns dias, assim como fez Moisés às vésperas da consagração das tábuas dos dez mandamentos. Saindo da reclusão, Romão Batista trazia consigo previsões apocalípticas a respeito dos caminhos da humanidade. Guerras e destruição abalavam o mundo moderno, que comemorava a chegada do século XX.
Porém, muito mais que iluminação divina, Padre Cícero era o único detentor de um aparelho de rádio na cidade. Ouvindo as notícias a respeito das guerras que massacravam o planeta ele se antecipava perante à população, que só teria essa mesma notícia tempos depois, devido a inacessibilidade aos meios de comunicação.
Outro fato interessante que sempre ouço nos dizeres de alguns "antipáticos" ao "padim" é o fato de que a aliança mantida com o rei do cangaço "Lampião" tinha, acima de qualquer laço de respeito, interesses estratégicos de dominação. Quando o cangaceiro chegava ao Juazeiro do Norte, prontamente era recebido por Padre Cícero, que o ajudava a devastar novas frentes enquanto a sua terra vivia a plena paz.
Sem dúvida, um homem brilhante para a época!
Atualmente rola um processo no vaticano para que seja feita uma reabilitação (uma "rehab" básica hauhauha) do padre por parte da Igreja, visto que ele foi excomungado devido ao suposto milagre não comprovado. Reza os ditos que uma hóstea se transformou em sangue na boca de uma das suas mais fervorosas beatas, Maria de Araújo.
A biografia trará outros tantos acontecimentos sobre a vida desse "rei do sertão". Fatos que poderão dar maior cabimento científico a essas lendas que são contadas de geração em geração.
Com mais de 500 páginas, "Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão" deverá levantar ainda mais polêmicas. Seu autor, Lira Neto, é conhecido por escrever ousadas, que relatam detalhes pessoais da trajetória de grandes personagens da história. Dentre elas, podemos destacar "Maysa, Só numa multidão de amores" (2007) que rendeu uma versão controversa para a televisão e "O inimigo do rei, uma biografia de José de Alencar", consagrada com um prêmio Jabuti em 2007.
Padre Cícero
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nota: Para outros significados, veja Padre Cícero (desambiguação).
Cícero Romão Batista | |
---|---|
Presbítero da Igreja Católica | |
Sacerdote | |
Padre Cícero | |
Título | Padre Cícero, Padim Cíço |
Hierarquia | |
Papa | Francisco |
Arcebispo metropolita | Ceará |
Bispo | Joaquim José Vieira |
Ordenação e nomeação | |
Ordenação presbiteral | 30 de novembro de1870 |
Dados pessoais | |
Nascimento | Crato |
Categoria:Igreja Católica Categoria:Hierarquia católica Projeto Catolicismo | |
Cícero Romão Batista (Crato, 24 de março de 1844 — Juazeiro do Norte, 20 de julho de 1934) foi um sacerdote católico brasileiro. Na devoção popular, é conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço.1 Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará bem como do Nordeste.
Em março de 2001, foi escolhido "O Cearense do Século" em votação promovida pela TV Verdes Mares em parceria com a Rede Globo de televisão2 .
Em julho de 2012, foi eleito um dos "100 maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado pelo SBT com a BBC.3
Índice
[esconder]Biografia[editar | editar código-fonte]
Proprietário de terras, de gado e de diversos imóveis, Cícero fazia parte da sociedade e política conservadora do sertão do Cariri. Sempre teve o médico Floro Bartolomeu como o seu braço direito, e integrava o sistema político cearense que ficou sob o controle da família Accioli durante mais de 2 décadas.
Nascido no interior do Ceará, era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô. Ainda aos 6 anos, começou a estudar com o professor Rufino de Alcântara Montezuma.
Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales4 .
Em 1860, foi matriculado no colégio do renomado padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras na Paraíba. Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras. A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérias dificuldades financeiras à família de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha, emFortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luís Alves Pequeno4 .
Ordenação[editar | editar código-fonte]
Durante o período em que esteve no seminário, Cícero era considerado um aluno mediano e, apesar de anos depois arrebatar multidões com seus sermões, apresentou notas baixas nas disciplinas relacionadas à oratória e eloquência5 .
Cícero foi ordenado padre no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato e, enquanto o bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou a ensinar latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo professor José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.
Chegada a Tabuleiro Grande[editar | editar código-fonte]
No Natal de 1871, convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, o padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de Juazeiro, então pertencente à cidade do Crato), e ali celebrou a tradicionalmissa do galo.
O padre visitante, então aos 28 anos, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: - E você, Padre Cícero, tome conta deles!
Apostolado[editar | editar código-fonte]
Uma vez instalado, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão-padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.
Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e com a prostituição.
Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo capelão.
Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, o padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade.
Atuou sempre com zelo na recepção dos imigrantes, dentre eles pode-se destacar José Lourenço Gomes da Silva, líder do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.
Suposto milagre[editar | editar código-fonte]
No ano de 1889, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero, a hóstia ministrada pelo sacerdote à religiosa Maria de Araújo se transformou em sangue na boca da religiosa. Segundo relatos, tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos. Rapidamente espalhou-se a notícia de que acontecera um milagre em Juazeiro.
A pedido de padre Cícero a diocese formou uma comissão de padres e profissionais da área da saúde para investigar o suposto milagre. A comissão tinha como presidente o padre Clycério da Costa e como secretário o padre Francisco Ferreira Antero, contava, ainda, com a participação dos médicos Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima, além do farmacêutico Joaquim Secundo Chaves. Em 13 de outubro de 1891, a comissão encerrou as pesquisas e chegou à conclusão de que não havia explicação natural para os fatos ocorridos, sendo portanto um milagre.
Insatisfeito com o parecer da comissão, o bispo Dom Joaquim José Vieira nomeou uma nova comissão para investigar o caso, tendo como presidente o padre Alexandrino de Alencar e como secretário o padre Manoel Cândido. A segunda comissão concluiu que não houve milagre, mas sim um embuste.
Dom Joaquim se posicionou favorável ao segundo parecer e, com base nele, suspendeu as ordens sacerdotais de padre Cícero e determinou que Maria de Araújo, que viria a morrer em 1914, fosse enclausurada.
Em 1898, padre Cícero foi a Roma, onde se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Ofício, conseguindo sua absolvição. No entanto, ao retornar a Juazeiro, a decisão do Vaticano foi revista e padre Cícero teria sido excomungado, porém, estudos realizados décadas depois pelo bispo Dom Fernando Panico sugerem que a excomunhão não chegou a ser aplicada de fato. Atualmente, Dom Fernando conduz o processo de reabilitação do padre Cícero junto ao Vaticano.
Em 1973, foi canonizado pela Igreja Católica Apostólica Brasileira (diferente da Igreja Católica Apostólica Romana).
Política[editar | editar código-fonte]
Era filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC). Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade. Em 1926 foi eleitodeputado federal, porém não chegou a assumir o cargo1 .
Em 4 de outubro de 1911, o padre Cícero e outros 16 líderes políticos da região se reuniram em Juazeiro e firmaram um acordo de cooperação mútua bem como o compromisso de apoiar o governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis, sendo apontado como uma importante passagem na história do coronelismo brasileiro6
Em 1913, foi destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo, voltando ao poder em 1914, quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido comoSedição de Juazeiro. Foi eleito, ainda, vice-governador do Ceará, no Governo do General Benjamin Liberato Barroso.
Ao fim dos anos 20, o padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.7
Ligação com o cangaço[editar | editar código-fonte]
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em1926. Naquele ano, a Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros.
Existem duas versões para o encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro, recebendo em troca, anistia de seus crimes e a patente de Capitão8 . Na outra versão, defendida por Lira Neto e Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que padre Cícero soubesse.
O certo é que ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam, ouviram padre Cícero aconselhá-los a abandonar o cangaço. Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes.
Falecimento[editar | editar código-fonte]
O padre Cícero faleceu em Juazeiro do Norte em 20 de julho de 1934, aos 90 anos. Encontra-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na mesma cidade do Ceará.
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Benjamin Abrahão Botto - fotógrafo, foi o "secretário internacional" do padre Cícero.
- Padre Cícero - minissérie exibida pela Rede Globo em 1984, tendo como protagonista o ator Stênio Garcia.
Referências
- ↑ a b Finados: devoção a Padre Cícero deve levar 400 mil pessoas a Juazeiro do Norte. Página visitada em 10 de março de 2010.
- ↑ Pequena Biografia do Padre Cícero - O Cearense do Século
- ↑ http://www.sbt.com.br/omaiorbrasileiro/candidatos/
- ↑ a b Padre Cícero Romão Batista. Página visitada em 9 de março de 2010.
- ↑ O que Lula e Padre Cícero têm em comum?
- ↑ O Poder Político em Juazeiro do Norte - Mudancas e Permanências - As Eleições de 2000
- ↑ Turner Publishing, Inc. e Century Books, Inc. Nosso Tempo - "Padre Cícero: o Santo e o Político". Volume I, pg. 99. Editora Klick. 1995
- ↑ Lampião (Virgulino Ferreira da Silva)
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- AQUINO, Pedro Ferreira de. O Santo do Meu Nordeste - Padre Cícero Romão Batista. São Paulo: Ed. Letras & Letras, 1997. ISBN 85-85-387-63-7
- BARBOSA, Geraldo Menezes. Relíquia: o mistério do sangue das hóstias de Juazeiro do Norte. Juazeiro do Norte: Gráfica e Editora Royal, 2004.
- ________________________. A um Sopro do Infinito. Juazeiro do Norte: Realce, 2007.
- CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
- DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joazeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
- NETO, Lira. Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
- NOBRE, Edianne S. O Teatro de Deus: as beatas do Padre Cícero e o espaço sagrado de Juazeiro (1889-1898). Fortaleza: Edições IMEPH/UFC, 2011.
- SILVA, Antenor Andrade. Cartas do Pe. Cícero. Salvador - Bahia, 1982.
- SOUZA, Anildomá Willans. Lampião: Nem herói nem bandido... A história. Serra Talhada: GDM Gráfica, 2006.O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,padre-cicero-mil-e-uma-faces-de-um-mito-da-fe-nacional,476885O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,padre-cicero-mil-e-uma-faces-de-um-mito-da-fe-nacional,476885
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