A candidata do PSB acusou seus concorrentes de mentir e espalhar boatos “injustos”, mas não partiu para o ataque com a mesma agressividade. “Prefiro sofrer uma injustiça do que praticar uma injustiça. Nós queremos fazer a nossa campanha oferecendo a outra face”, declarou.
“Marina optou por assumir uma posição de vítima – o que não funcionou”, opina Cortez. “Na prática, acabou transmitindo uma imagem frágil.”
No discurso em que reconheceu a derrota, na noite deste domingo, Marina defendeu sua estratégia e disse não se arrepender de nada que fez na campanha.
“A decisão de que não vale ganhar a qualquer preço não é uma estratégia de campanha. É uma decisão de vida”, disse. “Não me arrependo de não assumir a postura de que ganharíamos a qualquer custo e a qualquere preço.”
2) Tempo de TV
Para Marina, o tempo reduzido do PSB para fazer sua campanha eleitoral na TV teria sido um dos fatores que mais a prejudicaram.
No primeiro turno, a candidata teve dois minutos, Aécio, quatro e Dilma, 11.
“No segundo turno vai ser diferente. Porque será dez a dez. Aí sim vamos ter tempo para mostrar a onda verde e amarela que tomou conta do Brasil”, disse Marina, referindo-se ao fato de cada candidato ter dez minutos de horário eleitoral na TV na segunda etapa da disputa.
Segundo os analistas ouvidos pela BBC Brasil, não há como negar que o tempo de TV de fato faz diferença na campanha.
“Mas também é preciso considerar que, nos telejornais e debates, Marina teve o mesmo tempo de outros candidatos para expor suas propostas”, ressalva Chaia.
3) Disputas internas
Marina nunca foi unanimidade no PSB.
Ela só se filiou ao partido em outubro, após não conseguir viabilizar o registro de sua agremiação política, o Rede Sustentabilidade.
E um dia depois de ser confirmada como candidata, o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, deixou a coordenação da campanha presidencial do partido. “Não participo de campanha de Marina Silva. Ela não é do PSB”, disse.
Neste domingo, já com a notícia da derrota da candidata, o presidente do PSB em São Paulo, Márcio França, votou a tocar na mesma tecla: “A Marina é a Marina. Ela sempre fez questão de mostrar que é da Rede, não do PSB”, disse.
Mazzeo vai além: ” Marina chegou ao PSB pelas mãos de Campos e seu grupo, que estavam envolvidos em disputas internas de poder”.
Para completar, a tensão entre a candidata e alguns elementos do partido cresceu em função de diferenças ideológicas e programáticas e pela recusa de Marina em subir em palanques estaduais com alguns candidatos apoiados pelo PSB.
Em São Paulo, onde o PSB se aliou a Geraldo Alckmin, por exemplo, Marina só teria autorizado o uso de cartazes em que aparece com o governador do PSDB na reta final da campanha.
“Fora da disputa, Marina deve voltar ao projeto de construir um partido que tenha atuação condizente com seus projetos”, acredita Chaia. “Isso é importante para que se possa dar sustentabilidade a uma candidatura.”
4) Inconsistências do programa de governo
Entre os três principais candidatos, Marina foi a que divulgou o programa de governo mais completo.
Aécio prometeu, mas desistiu de publicar um programa detalhado antes do primeiro turno. Dilma não avançou além do documento apresentado no registro de sua candidatura.
O problema é que o documento divulgado pela candidata do PSB, com 242 páginas, acabou se tornando um calcanhar de Aquiles.
Para começar, seu comitê de campanha anunciou uma série de “correções” depois de sua divulgação.
Em uma das mais estrondosas, Marina voltou atrás no apoio a criminalização da homofobia e ao casamento gay, propostas que sofrem oposição de líderes evangélicos.
O programa também foi esquadrinhado pelo PT e PSDB – que tiveram mais material para planejar seus ataques.
Aécio acusou Marina de plagiar o Programa Nacional de Direitos Humanos lançado em 2002 por Fernando Henrique Cardoso.
Dilma colheu no programa material para acusá-la de querer colocar o pré-sal em segundo plano em favor de fontes de energia alternativas.
5) Imagem frágil
Os esforços do PT e PSDB para pintar a candidata como uma líder política frágil, incapaz de lidar com as dificuldades e críticas enfrentadas por quem está no poder, também parecem ter surtido efeito.
Contribuiu para reforçar essa imagem o fato de Marina ter chorado ao comentar sobre as críticas do ex-presidente Lula a uma repórter do jornalFolha de S. Paulo.
“Sou uma pessoa sensível, mas não se pode confundir sensibilidade com fraqueza”, justificou a candidata.
O fato foi amplamente explorado pelos adversários, para quem a candidata seria incapaz de fazer o que se propunha – enfrentar os esquemas da política tradicional em favor de uma “nova política”.
“Muitos eleitores ficaram desconfiados dessa história de nova política: eles não entenderam muito bem como ela pretendia governar sem fazer alianças com outros partidos”, diz Mazzeo.
Dilma e Aécio decidirão eleição para presidente no segundo turno
Com 99,99% das urnas apuradas, Dilma tinha 41,59% e Aécio, 33,55%.
No próximo dia 26, PT e PSDB disputarão 2º turno pela 4ª vez consecutiva.
Dilma Rousseff e Aécio Neves durante seus pronunciamentos (Foto: Eraldo Peres/AP e Eugenio Savio/AP)
Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) decidirão em segundo turno, no próximo dia 26, quem será o futuro presidente do Brasil. Com 99,99% das urnas apuradas (
acompanhe a apuração), a petista obteve 43.267.438 votos (41,59%) no primeiro turno e o tucano, 34.897.196 (33,55%), segundo números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Marina Silva (PSB) recebeu 22.176.613 votos (21,32%) e ficou em terceiro lugar, mesma colocação da eleição de 2010. O resultado ficou matematicamente confirmado às 19h56, segundo o TSE – até a última atualização desta reportagem, faltava somente a contabilização dos votos de duas seções eleitorais no Amazonas.
Após a confirmação de que haverá segundo turno, Dilma e Aécio fizeram pronunciamentos em Brasília e em Belo Horizonte, respectivamente.
A petista aproveitou a fala, para uma plateia de militantes do partido, e atacou o PSDB: "O povo brasileiro não quer de volta aqueles que viraram as costas para o povo, que acabaram com as escolas técnicas, esvaziaram o crédito educativo e elitizaram as nossas universidades federais, sucateando-as".
Aécio afirmou que "o sentimento de mudança em todo o Brasil foi uma coisa surpreendente em todos os estados".
A candidata do PSB
declarou que decidirá com o partido quem apoiará no segundo turno e que não se considera uma "derrotada" por ficar fora da etapa decisiva da disputa pelo Palácio do Planalto.
O ministro Gilberto Carvalho afirmou que
o PT está disposto a convencer Marina Silva a apoiar Dilma no segundo turno, e que, para isso, o partido pode incorporar propostas do programa de candidata derrotada. Aécio, que no pronunciamento reverenciou Eduardo Campos, morto em agosto e de quem Marina era vice, declarou que aceitará o apoio de "todos os que tiverem contribuições a dar". Ele disse ter "enorme respeito" por Marina, mas que aguardará a decisão "sobre o caminho que ela achar mais adequado".
Será a quarta vez consecutiva que candidatos de PT e PSDB disputarão o segundo turno – em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu José Serra (PSDB); em 2006, Lula se reelegeu contra Geraldo Alckmin (PSDB); em 2010, Dilma superou Serra.
Nesta eleição, Dilma venceu em 15 estados, Aécio em nove e no Distrito Federal, e Marina em dois. Veja
o mapa e uma comparação com o desempenho dos candidatos de 2010.
Segundo a apuração parcial,
Luciana Genrotinha 1.612.186 votos (1,55%), seguida de
Pastor Everaldo (PSC), com 780.505 (0,75%);
Eduardo Jorge (PV), com 630.099 (0,61%);
Levy Fidelix (PRTB), com 446,878 (0,43%);
Zé Maria (PSTU), com 91.209 (0,09%);
Eymael(PSDC), com 61.250 (0,06%);
Mauro Iasi(PCB), com 47.847 (0,05%); e
Rui Costa Pimenta (PCO), com 12.324 (0,01%).
A campanha eleitoral passou por uma reviravolta após a
morte em acidente aéreo, em 13 de agosto, de Eduardo Campos, de quem Marina era vice.
Até então, as pesquisas indicavam uma situação de estabilidade, com Dilma à frente e Aécio em segundo. O tucano já havia enfrentado denúncias de
suposta concessão irregular para um tio de um aeroporto na cidade de Cláudio (MG), mas a candidatura dele começou a perder fôlego após a morte de Campos.
A campanha foi marcada pela troca de ataques entre os candidatos. A ascensão de Marina, logo após a comoção provocada pela morte de Campos, fez com que se tornassem mais duros os discursos dos adversários. Em eventos de campanha e na propaganda da TV, Dilma pedia com frequência aos eleitores que
votassem contra o "retrocesso" e a favor das "conquistas sociais", ao que a campanha de
Marina respondia dizendo que rival adotava “discurso do medo” e fazia “terrorismo eleitoral”.
Os embates também envolveram Dilma e Aécio. O tucano explorou durante a campanha o tema "corrupção" na Petrobras,
responsabilizando o atual governo pelos escândalos que envolveram a estatal e culminaram na prisão, pela Polícia Federal (PF), de um
ex-diretor acusado de desviar dinheiro da empresa. Dilma se defendeu dizendo que a PF teve autonomia para investigar e os casos de corrupção não eram escondidos "debaixo do tapete".
Os candidatos
Primeira presidente mulher do Brasil,
Dilma Vana Rousseff, 67 anos, nasceu em Belo Horizonte (MG) em 14 de dezembro de 1947. No regime militar, atuou em organizações de esquerda clandestinas, foi presa e torturada. Em 2001, filiou-se ao PT, após deixar o PDT. Antes de ser eleita presidente em 2010, Dilma nunca havia ocupado nenhum cargo eletivo.
Formada em economia, foi secretária de estado no Rio Grande do Sul. Entre 2003 e 2005, ocupou o posto de ministra de Minas e Energia, durante o primeiro mandato do Lula. Em 2005, deixou a pasta e sucedeu José Dirceu na Casa Civil, que deixava o cargo após denúncia de envolvimento no escândalo do mensalão.
Em 2010, elegeu-se presidente no segundo turno com 56,05% dos votos válidos (55.752.483 votos), contra 43,95% (ou 43.711.162) do seu adversário, José Serra (PSDB). No início da campanha deste ano, sofreu pressão interna de parte do partido, que pretendia trocar a candidatura dela pela do
ex-presidente Lula, no chamado movimento
"Volta, Lula".
Aécio Neves da Cunha, 54 anos, nasceu em 10 de março de 1960 também em Belo Horizonte (MG). Assim como Dilma, é formado em economia. Neto do ex-presidente Tancredo Neves, participou de diversos comícios ao lado do avô no início de sua vida pública.
Elegeu-se deputado federal pela primeira vez em 1986, reelegendo-se por mais três vezes. Entre 2001 e 2002, presidiu a Câmara dos Deputados. Ainda em 2002, foi eleito governador de Minas Gerais, cargo que exerceu por dois mandatos, até 2010.
tópicos:
- Aécio Neves,
- Dilma Rousseff,
- Eduardo Jorge,
- Eymael,
- Levy Fidelix,
- Luciana Genro,
- Marina Silva,
- Mauro Iasi,
- Pastor Everaldo,
- Rui Costa Pimenta,
- Zé Maria
RESULTADO PARA PRESIDENTE
Veja votação em cada estado e cidade
CANDIDATOS | VOTOS, EM% | VOTOS VÁLIDOS |
|
Dilma
PT
|
|
41,59% | 43.267.438 |
|
Aécio Neves
PSDB
|
|
33,55% | 34.897.196 |
|
Marina Silva
PSB
|
|
21,32% | 22.176.613 |
|
Luciana Genro
PSOL
|
|
1,55% | 1.612.186 |
|
Pastor Everaldo
PSC
|
|
0,75% | 780.505 |
|
Eduardo Jorge
PV
|
|
0,61% | 630.099 |
|
Levy Fidelix
PRTB
|
|
0,43% | 446.878 |
|
Zé Maria
PSTU
|
|
0,09% | 91.209 |
|
Eymael
PSDC
|
|
0,06% | 61.250 |
|
Mauro Iasi
PCB
|
|
0,05% | 47.845 |
|
Rui Costa Pimenta
PCO
|
|
0,01% | 12.324 |
BRANCOS
| | 4.420.488 |
NULOS
| | 6.678.580 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário