domingo, 2 de agosto de 2015

POVO NORDESTINO

Não me esqueço de uma entrevista dada pelo atual senador por São Paulo, José Serra, quando havia largado a prefeitura de São Paulo para disputar o cargo para governador em 2006. Em um determinado momento da entrevista, ele é perguntado sobre a baixa qualidade da educação do estado de São Paulo (video aqui, vá para 5:25), e eis que ele responde:
“Tem que entender o seguinte, diferente dos estados do sul que são os que estão em melhor situação, São Paulo tem muita migração. Muita gente que continua chegando e tal” (depois ele prometeu duas professoras por sala de aula HAHAHA).
Ele poderia ter citado vários problemas que a educação enfrenta, como a falta de segurança e absenteísmo dos professores por exemplo, mas ele preferiu culpar “quem vem de fora” e inocentar a incompetência (ou desinteresse) do governo do estado.
E ele não está sozinho, este pensamento de que o povo do nordeste é inferior é compartilhado por muitas pessoas neste país. Qualquer um de nós já ouviu os nordestinos serem achincalhados por conta de seu sotaque e por terem um jeito de ser mais simples e sem papas na língua. São chamados de “paraibas” e “baianos” não importando se vieram das Alagoas ou do Rio Grande do Norte.
É um povo que passou anos e anos abandonado a sua própria sorte, porque até então, governo nenhum, NENHUM, nunca fez nada por aquela gente. A região foi devastada pelos invasores portugueses e seculos depois comandados por marajás e Sarneys. A ditadura aumentou o poço da desigualdade no Brasil e não melhorou a vida daquele povo. Sem alternativa de emprego, sem conseguir plantar porque não chove, com dificuldade de criar os filhos porque são muitos e o dinheiro é pouco, inúmeras familias migraram para outras regiões em busca de oportunidade de uma vida melhor.
Buscar uma vida melhor, entendo, é um direito de qualquer ser humano e mais do que isso, aumentar a possibilidade de manter sua própria vida é algo instintivo, incontrolável. O ser humano migrou pelo mundo todo, e sonha em um dia migrar para outros planetas caso este não apresente mais condições para a sobrevivência de nossa espécie. Quando você sai do interior do seu estado e vai para capital, muito provável é porque quer uma vida melhor, e isso é um direito seu.
Muitos parecem querer negar este direito aos nordestinos.
Independentemente de os programas do governo federal lhe renderem votos, o mais importante é que esta gente está melhorando sua vida, pouco a pouco. O povo não é burro: se tem um candidato que melhorou a vida das pessoas e outro que é uma ameaça aos avanços sociais, em quem o povo vai votar?
Burro é quem … deixa para lá.
Em tempo: muitos nordestinos foram acusados de não terem cultura e talz, mas tenho que mencionar que quem elegeu o Tiririca com 1.016.796 de votos, o Pastor Marco Feliciano com 398.087, e deu 250.296 votos ao Paulo Maluf (que foi barrado pelo ficha limpa!) foi o povo de São Paulo.

Preconceito na internet

Depois das votações, muitos imbecis postaram mensagens na internet criticando, humilhando, discriminando os nordestinos por votarem em Dilma, uma vez que a candidata ganhou disparada na região. Um rapaz até fez um tumblr com as mensagens que ele coletou -> http://essesnordestinos.tumblr.com/
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Holocausto…
Os mais votados
Os mais votados
No mapa cada cidade tem a cor do candidato com mais votos, o vermelho (PT) não está só no Norte ou no Nordeste, ele se espalha por parte do sul, centro oeste e Rio de Janeiro e Minas Gerais. Quem responsabilizou os nordestinos pelos votos em Dilma não fez o dever de casa…

Antes de finalizar confira alguns dados.

O saldo migratório é o resultado da diferença entre imigrantes e emigrantes para um determinado período (a partir de 31/07/2005), ou seja, Saldo Migratório = Imigrantes (quem chegou) – Emigrantes (quem saiu), logo, se o valor for positivo é que entrou mais gente da cidade do que saiu.
É interessante notar:
  • No litoral do nordeste, próximo as capitais, o saldo migratório é estável, e conforme olhamos para o sertão, ele começa a ficar negativo;
  • O saldo migratório do sul, nas cidades longe de suas capitais, é negativo;
  • O saldo migratório da cidade de São Paulo é negativo assim como da cidade do Rio de Janeiro;
  • O saldo de muitas cidades do centro oeste é positivo.
Em 2010, estudos apontavam que a migração do povo do Nordeste para o Sudeste caiu pela metade, se comparada com os anos 90. E a razão para isso são os programas sociais implantados pelo governo que aumentaram o poder aquisitivo do povo da região. Entre 2008 e 2009, Norte e Nordeste registraram aumento na geração líquida do emprego de 40% e 12% respectivamente. Para se ter uma ideia, no Sudeste a retração foi de 43,4%.
O programa bolsa família, foi citado no último documento do PNUD, sobre desenvolvimento humano: “(…) o Bolsa Família, que custou 0,3% do PIB em 2008-2009, foi responsável por 20 a 25% da redução da desigualdade e por 16% da diminuição da extrema pobreza”.
Atualmente, o Bolsa Família atende a 13,8 milhões de famílias – quase 50 milhões de pessoas. O valor médio do benefício passou de R$ 73,70, em outubro de 2003, para R$ 152,35 em setembro de 2013. O investimento pelo governo federal no Bolsa Família em 2013 é de R$ 24 bilhões, o que representa apenas 0,46% do PIB.
Minas Gerais é o segundo estado que mais recebeu recursos do bolsa família (2003 – 2013), seguido por São Paulo em 3º; Rio de Janeiro está em 8°; o Rio Grande do Sul em 11°, seguido pelo Paraná em 12º.
Em tempo 2: desde 2009 o governo federal vem dando sucessivos descontos no IPI, esperando que o consumo aumente. O problema é que parte deste imposto deve ser repassado aos estados e aos municípios, a soma desta desoneração chegou a casa de R$23 bilhões.
Links
Terra – Saiba tudo sobre o bolsa famíliaDas 2.291 famílias em situação de pobreza no município de Nordestina, 950 delas vivem sem perspectiva de vida, em extrema situação de miséria, retratando a dura e crua realidade desse povo castigado pela seca.
Essas famílias da região estão morrendo de fome e sede devido à pior seca dos últimos 40 anos.
Com uma população de 12.371 habitantes e uma área territorial de 468 km², o município de Nordestina, onde predomina a agricultura familiar, desponta também, de forma negativa na estatística de acessibilidade ao campo de trabalho com 0.07% e habitação com 0.59%. Localizada no polígono das secas, zona sisaleira, região de poucas chuvas e distante 240 km de Salvador, a comunidade tem a prefeitura, como principal fonte de emprego, o que requer uma atenção maior por parte dos governantes. A economia local está restrita ao comércio, funcionários municipais, aposentados e benefícios da Bolsa Família e BPC.
Para se conhecer a extrema pobreza não é necessário andar muito. A comunidade de Palha, área quilombola da zona rural de Nordestina, é um exemplo, onde moram várias famílias esquecidas pela sociedade . Com o marido desempregado e vivendo em condições subumanas numa pequenina casa de taipa de dois cômodos, 4x3 metros, com piso de areia batida, com quatro filhos (um deficiente), a doméstica Ana Paula Silva Reis, 25 anos é um exemplo de miséria absoluta, tendo como única fonte de renda para sobrevivência da todos R$ 166 que recebe da Bolsa Família.
Envergonhada com a situação que vive e sem querer mostrar a casa por dentro, Ana Paula disse que o dinheiro que recebe da Bolsa Família, mal dá para comprar algumas coisas para comer e fraldas para o filho deficiente que precisa estar na escola.
“Olha moço, tem dia que temos o que comer, em outros não. Farinha, só quando minha mãe recebe o dinheiro da aposentadoria para nos dar um pouco. Tenho fé em Deus, que vai aparecer um cristão, que vai olhar para nós e vai construir nosso sonho, que é uma casa para que eu possa viver com um pouco de dignidade com meu marido e os quatro filhos que não tem um lugar para dormir”, desabafa emocionada Ana Paula, lembrando que vai ter que arrumar o que fazer para poder levar comida para dentro de casa porque seu marido, que trabalhava em um motor de sisal está sem fazer nada por causa da paralisação das maquinas de desfibramento.
Menos dramático, mas preocupante também, é a situação da aposentada Enedite da Silva Reis, 58 anos, mãe de 12 filhos, que recebe R$ 500 por mês e ainda tem que ajudar os filhos com a compra de farinha para alimentar os netos.
O lavrador Anfilófio Monteiro da Silva Reis, 60 anos, comentou que trabalhava em um motor de sisal e chegava a ganhar até R$ 80,00 por semana, e agora está desempregado porque as maquinas estão paradas por causa do sol escaldante que fez o sisal murchar, deixando as folhas sem condições de desfibrar, o que vem dificultando a oferta de trabalho na região.
Até o cacto está morrendo no pasto
O lavrador José Ferreira da Silva, disse que não via o açude municipal secar há 40 anos: “Pra mim essa é a pior seca que já vi em minha vida. Se Deus não tiver pena de nós, seres humanos e dos animais, não vai ficar nada vivo. Os mananciais estão secos, as pastagens esturricadas pelo sol escaldante e os animais dizimados pela fome e sede. Um carro-pipa de água custa entre R$ 70 e R$ 150 – de acordo com o tamanho do tanque pipa e da distância da propriedade” relata. 

O criador José Paulo Guimarães Filho, 66 anos, Fazenda Queimada da Farinha, disse que essa é a primeira vez que vê uma seca tão seria: “Até a palma que é um cacto resistente ao sol, está morrendo no pasto e a pindoba, que vem servindo de alimentação alternativa para o gado”.
Sobre a pindoba ele garante que pode ser uma bomba mortal para o animal que comer sua folha em demasia e não conseguir digerir em tempo hábil porque ela possui uma fibra bastante resistente e pode embuchar no estomago do animal, levando-a a morte. “Mesmo sabedor desse risco que corremos, não sei o que seria de nós se não existisse a pindobeira para darmos ao gado nessa hora tão difícil que vivemos com a seca” disse.
A secretária de Assistência Social, Maria das Graças Moura Lopes, garante que se não chover dentro de mais alguns dias, as aulas no município poderão ser suspensas.  

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