Pragmatismo é uma doutrina filosófica cuja tese fundamental é que a ideia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das ideias de todos os efeitos imaginários atribuídos por nos a esse objeto, que passou a ter um efeito prático qualquer.
O pragmatismo é um pensamento filosófico criado, no fim do século XIX, pelo filósofo americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), pelo psicólogo William James (1844-1910) e pelo jurista Oliver Wendell Holmes Jr (1841-1935), que opondo-se ao intelectualismo, considera o valor prático como critério da verdade.
Ser partidário do pragmatismo é ser prático, ser pragmático, ser realista. Aquele que não faz rodeio, que tem seus objetivos bem definidos, que considera o valor prático como critério da verdade.
Ser pragmático é ter seus objetivos bem definidos, é fugir do improviso, é se basear no conceito de que as ideias e atos só são verdadeiros se servirem para a solução imediata de seus problemas.O pragmatismo constitui uma escola de filosofia estabelecida no final do século XIX, com origem no Metaphysical Club, um grupo de especulação filosófica liderado pelológico Charles Sanders Peirce, pelo psicólogo William James e pelo jurista Oliver Wendell Holmes, Jr., congregando em seguida acadêmicos importantes dos Estados Unidos.
Segundo essa doutrina metafísica, o sentido de uma ideia corresponde ao conjunto dos seus desdobramentos práticos.
O primeiro registro do termo pragmatismo ocorreu em 1898, tendo sido usado por William James. Este creditou a autoria do termo a Charles Sanders Peirce, que o teria criado no início dos anos 1870.
A partir de 1905 Peirce passou a usar o termo pragmaticismo para designar sua filosofia, rejeitando o nome original, pragmatismo, que estaria sendo usado por "jornais literários", de uma maneira que Peirce não aprovava.
A questão que distingue o pragmatismo do pragmaticismo reside principalmente no entendimento dado a esta locução - "desdobramentos práticos". Segundo a máxima pragmática de Peirce, o sentido de todo símbolo ou conceito depende da totalidade das possibilidades de formação de condutas deliberadas a partir da crença na verdadedeste conceito ou símbolo. Neste leque, incluem-se desde os efeitos mais prosaicos até as condutas mentais mais remotas. Neste aspecto, porque o pragmatismo daria relevância apenas às evidências empíricas e às práticas mais vantajosas para o sujeito individual, pode ser considerado uma doutrina filosófica menos exigente que o pragmaticismo.
O pragmatismo se aproxima do sentido popular, segundo o qual um sujeito "pragmático" é aquele que tem o hábito mental de reduzir o sentido dos fenômenos à avaliação de seus aspectos úteis, necessários, limitando a especulação aos efeitos práticos, de valor utilitário, do pensamento. Peirce, aliás, justifica a invenção do desajeitado termo "pragmaticismo" justamente como meio de tornar a sua concepção de pragmatismo "feia demais para seus sequestradores", ou seja, para evitar que também este conceito tivesse seu sentido psicologizado. Segundo ele, foi o que, lamentavelmente, aconteceu com o pragmatismo depois que saiu do Metaphysical Club.
A Filosofia do Processo (ou Filosofia do Organismo), desenvolvida nos anos 1930 e 1940 por Alfred North Whitehead, mesmo sem contato direto com os Collected Papers peirceanos, mostra-se convergente com acosmologia do pragmaticismo. Em ambos os casos, o universo é concebido como um agregado emergente de eventos e não mais, como na perspectiva filosófica moderna (inclusive a implícita à filosofia da linguagem iniciada por Wittgenstein), como uma coleção de fatos. Recentemente, esta convergência entre a filosofia do processo e o pragmaticismo foi explorada pelo filósofo neerlandês Guy Debrock. A partir delas, Debrock sintetiza o que ele chama de pragmatismo processual. Também recentemente, o projeto realista do pragmatismo foi reformulado por Richard Rorty.[1]
Nas palavras de William James: "O método pragmatista é, antes de tudo, um método de terminar discussões metafísicas que, de outro modo, seriam intermináveis. O mundo é um ou muitos? Livre ou fadado? Material ou espiritual? Essas noções podem ou não trazer bem para o mundo; e as disputas sobre elas são intermináveis. O método pragmático nesse caso é tentar interpretar cada noção identificando as suas respectivas consequências práticas (...) Se nenhuma diferença prática puder ser identificada, então as alternativas significam praticamente a mesma coisa, e a disputa é inútil.[2]
Índice
[esconder]História[editar | editar código-fonte]
Para William James, Sócrates era um adepto do pragmatismo, Aristóteles usava-o metodicamente e Locke, Berkeley e Hume fizeram contribuições para a verdade por esse meio.[3]
O pragmatismo foi a primeira filosofia estadunidense elaborada autonomamente. Inspirada em Ralph Waldo Emerson, seus fundadores foram Charles Sanders Peirce, com seu artigo How to make our ideas clear, e William James, que retomou as ideias de Peirce, popularizando-as em sua coletânea "O Pragmatismo". Durante o início do século XX, o pragmatismo espalhou-se rapidamente pela cultura estadunidense, e foi além até outras culturas e povos.
O pragmatismo se impôs nos EUA como corrente dominante antes da Segunda Guerra Mundial, sofrendo posteriormente um longo eclipse, dada a predominância da filosofia analítica. Seu ressurgimento deveu-se sobretudo à obra de Richard Rorty. Egresso da corrente analítica mas extremamente original, Rorty foi criticado por suas ideias acerca do fim da filosofia e por seu pretenso relativismo. Considerava-se principalmente um discípulo de Dewey, mas também fortemente inspirado pelos grandes nomes da filosofia continental - Hegel, Nietzsche, Heidegger, Foucault e Derrida. Até hoje o pragmatismo é bastante popular e difundido nos EUA e tem um forte impacto sobre sua cultura.
Filosofia[editar | editar código-fonte]
Para Pierce o significado de qualquer conceito é a soma de suas todas consequências possíveis.[4]
Para William James a utilidade da filosofia deveria ser investigar apenas o que realmente faz diferença na nossa vida prática. Assim, ele vai contra as reflexões filosóficas abstratas e insuficientes, princípios fixos e absolutos, sistemas fechados e teorias sobre origens.[1] James defende que teorias são instrumentos e não respostas para enigmas, pois respostas nos permitem descansar tranquilos enquanto instrumentos somente são úteis quando utilizados com finalidades práticas.
Epistemologia[editar | editar código-fonte]
O pragmatismo original é contra a ciência pela própria ciência. Para ele um estudo só se justifica caso tenha alguma utilidade social, mesmo que a longo prazo, mas dando preferência ao que tiver utilidade imediata. E, ao mesmo tempo, defende que uma teoria só pode ser comprovada pelas suas evidências práticas, tendo assim semelhanças com o empirismo.
Também existem muitas semelhanças entre a filosofia pragmática de William James e a análise do comportamento fundada pelo psicólogos Skinner.[5] É importante lembrar que William James foi um dos fundadores da psicologia moderna portanto provavelmente influenciou Skinner diretamente na fundação do comportamentalismo.
Críticas[editar | editar código-fonte]
O filósofo e Prêmio Nobel de Literatura Bertrand Russell criticou especialmente o critério de Verdade do pragmatismo. Segundo Russell, para os pragmatistas uma crença deve ser julgada verdadeira na medida em que as consequências práticas da adoção dessa crença sejam boas. Então, diz Russell, 'verdade' seria qualquer coisa na qual compensasse acreditar. "A noção de que é muito fácil saber quando as consequências de uma crença são boas - fácil a ponto de uma teoria do conhecimento não precisar levar em conta uma coisa tão simples - tal noção, devo dizer, parece-me uma das mais estranhas assunções que uma teoria do conhecimento possa fazer." Para Russell, é óbvio que existe uma transição entre considerar uma crença útil e assumi-la como verdadeira - uma diferença que a definição pragmatista de 'verdade' ignora, sem no entanto destruir o significado comumente dado à palavra 'verdade', o que resultaria, na sua opinião, em uma irremediável inadequação entre critério de verdade e significado da palavra verdade - entre os 'fato' e as 'verdade'. "'Fatos', dizem eles [os pragmatistas], não são verdadeiros nem falsos, ou seja, a verdade não tem nada a ver com os fatos. Russell aponta inconsistências lógicas na filosofia pragmatista, tais como jogos de palavras e afirmações tautológicas. O pragmatismo não apresenta nenhuma razão para que a verdade e a utilidade andem sempre juntas. Além disso, adotar utilidade como critério de verdade nem mesmo é útil, segundo Russell, porque geralmente é mais difícil descobrir se uma crença é útil do que descobrir se ela é verdadeira. Finalmente, não sendo apresentada nenhuma razão pela qual a verdade e a utilidade devam andar juntas.[6]
Max Horkheimer, em Eclipse da Razão, faz uma crítica semelhante e acrescenta que, ao definir todo meio apenas pelo fim que ele almeja atingir, o pragmatismo fomenta uma sociedade que não dá valor para a reflexão e a meditação - e por isso mesmo é que foi fundado e se tornou tão popular nos Estados Unidos. Dewey revidou as críticas, defendendo que o objetivo do pragmatismo não é chegar a um objetivo último supersantificado - isso é absolutismo. Ao contrário, o objetivo é justamente levar à reflexão sobre o que é o melhor para a humanidade, refletindo sobre as mudanças necessárias para se adequar ao contexto dinâmico das nossas sociedades.[7]
Referências
- ↑ a b JAMES, William (1948) "What pragmatism means." Pragmatism - a reader, p.93.
- ↑ JAMES (1948), p. 94.
- ↑ "Pragmatism: A new name for some old ways of thinking". In JAMES, W. Pragmatism: A New Name for Some Old Ways of Thinking / Four Related Essays Selected from "The Meaning of Truth". New York/London/Toronto: Longmans, Gren and Co., pp. VI-301. Publicado originalmente em 1907.
- ↑ Peirce, C.S. (1977) O que é Pragmatismo. In Peirce, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva. Publicado originalmente em 1905.
- ↑ TOURINHO, Emmanuel Zagury. Behaviorismo radical, representacionismo e pragmatismo. Temas psicol. 1996, vol. 4, n°2, pp. 41-56 .. ISSN 1413-389X.
- ↑ "William James's Conception of Thruth". In RUSSELL, Bertrand Russell (1910) Philosophical Essays, p. 72s.
- ↑ Cornelis de Waal (1995) Sobre Pragmatismo, p. 22.
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- O desenvolvimento do pragmatismo americano, por John Dewey. Scientiae Studia vol. 5 n°2 São Paulo, abril-junho de 2007.
- A Filosofia de W. James, por Arthur Arruda
- « O pragmatismo de Whitehead » Tr. Susana de Castro, in Redescrições, São Paulo, Centro de Estudos em Filosofia Americana, Ano 1 Número 1, 2009, por Michel Weber
- inglês
- RUSSELL, Bertrand. Philosophical Essays. London: Longmans, Green, and Co., 1910.
- Russell on Pragmatism, por Jane Duran. Russell: The Journal of the Bertrand Russell Archives. McMaster University Library Press n° 14 (summer 1994): 31-7. ISSN 0036-01631
- A John Dewey reference page
- A Mead Project reference page
- Pragmatism CybraryO sinônimo mais próximo de pragmatismo é objetividade.A pessoa pragmática não perde tempo, ela só faz aquilo que é necessário para atingir seus objetivos e não se dispersa com coisas inúteis, outros projetos, perda de tempo, dúvidas sobre o caminho, hesitação.O pragmático é uma pessoa prática, simples em seus propósitos e planos. Essa praticidade e simplicidade fazem com que o caminho apareça claro e límpido à sua frente, tudo o que ele precisa fazer é caminhar com determinação sem se distrair.O pragmatismo é a capacidade de manter sua mente no aqui e agora e, com muita objetividade, racionalidade e discernimento, optar pelas tarefas corretas que se feitas no tempo certo levam à concretização do objetivo com maior excelência.De uma forma bem clara, pragmatismo significa fazer o que tem que ser feito e ponto final, sem dispersar-se com “outras coisas”, por mais importantes que sejam, mas que não estejam ligadas ao seu objetivo.Numa analogia com o mundo animal, o pragmatismo é a postura do leão perseguindo sua caça. O foco está todo concentrado em seu objetivo e o leão não se dispersa fazendo “outras coisas” que não estejam ligadas a obtenção de sua caça como tomar água, parar para socializar com outros leões ou descansar.É claro que compreendemos que o leão que se dispersa perde a caça e é por esse motivo que ele é pragmático! No entanto, em nossa vida cotidiana precisamos nos dar conta de que oportunidades são como a caça do leão. Ao nos dispersarmos com “outras coisas” não relacionadas ao nosso objetivo, corremos o risco de perdemos a oportunidade permanentemente.A pessoa dispersiva pode até ter objetivos definidos e vontade de concretizá-los, mas ela se espalha tanto que não sobra energia para fazer o que tem que ser feito para que o objetivo tome vida. O que lhe falta é justamente objetividade em suas ações e atitudes, falta foco, praticidade. A pessoa faz um monte de coisas o tempo todo, está sempre ocupada, mas no final das contas, todo esse trabalho não rende nada, o objetivo ainda continua lá como uma idéia no horizonte.O que leva ao pragmatismo é aperspicácia somada aos objetivos definidos. A pessoa sabe exatamente o que ela deve fazer e se mantém fiel ao caminho traçado, custe o que custar, não se deixando distrair ou desviar.Uma das maiores ameaças ao pragmatismo é a emotividade excessiva. A pessoa muito emotiva, que leva tudo para o lado pessoal, se frustra com facilidade, fica decepcionada quando alguém não faz o que ela esperava, quando as coisas não acontecem do jeito que ela queria.Toda essa choradeira, todo esse drama desvia a atenção da pessoa do caminho principal rumo aos seus objetivos, ela sai na tangente, se preocupando com picuinhas, desavenças pessoais. Essa pessoa coloca muito tempo em pensamentos dedicados a ruminar sobre as coisas que não dão certo em sua vida, as pessoas que não gostam dela, as coisas que essas pessoas fazem pra ela e, no meio tempo, ela perde oportunidades de seguir em frente com seus objetivos. A “luta” contra o mal em sua vida acaba recebendo todo o foco, ao invés dos seus objetivos.A inteligência emocional acaba tendo um papel fundamental nesse caso, equilibrando as emoções e deixando o espaço mental da pessoa livre para que ela possa se focar com clareza em seus objetivos. Parece até um paradoxo dizer que a inteligência emocional ajuda a pisar nas emoções para que a pessoa possa seguir em frente, mas essa é a realidade.Numa sociedade tão patológica em que encontramos profissionais dizendo baboseiras como a possibilidade da raiva ser positiva ou que devemos sempre extravasar nossas emoções, é difícil argumentar e fazer compreender que a inteligência emocional muitas vezes requer segurar ou até mesmo reprimir as emoções.Por quê? Porque você pode saber que a raiva que está sentindo é pura imaturidade e cabe a você somente lidar proativamente com esse traço aprendendo a não mais sentir essa raiva. Extravasar a raiva e explodir revela ainda mais imaturidade e orgulho e não é a forma mais proativa de lidar com essa emoção.A pessoa que acredita que sempre extravasar as emoções é o caminho fica tão distraída com suas batalhas pessoais, com se fazer entender, com provar o seu ponto, fazer justiça, não deixar ninguém pisar nela, calar a boca do outro, etc. que ela perde o foco, a objetividade e acaba se dispersando de seus objetivos pragmáticos.Assim como a raiva, outras emoções são extremamente dispersantes, principalmente a frustração e o medo. A pessoa frustrada se coloca no papel de vítima e começa a fazer drama sobre a situação. O medo paralisa e desvia. A pessoa covarde acaba fugindo dos pontos cruciais no caminho para seus objetivos, pois não se sente capaz de enfrentá-los. Nesses casos, mais uma vez, pisar na emoção e seguir em frente parece ser o melhor caminho. Em muitos casos, após passar por uma experiência dessas uma, duas, três vezes, a pessoa passa a ter controle sobre a emoção, pois ela aprendeu que não precisa ter medo dela. O pragmatismo então se fortalece e ajuda a pessoa a concentrar-se com mais energia em seus objetivos.
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