Pilantra significa desonesto ou vigarista. O termo é utilizado popularmente para designar uma pessoa com comportamento enganador, dada a praticar ações que colocam em causa a sua própria honestidade.
O termo pilantra é também atribuído a alguém que aparenta ser diferente do que é na realidade. Está muito associado à corrupção, à mentira, à vigarice ou ao roubo. Pilantra pode ser sinônimo de ladrão quando o sujeito age com má-fé em seu próprio benefício.
Por exemplo: “O pilantra se aproveitou da inocência da idosa fazendo com que ela lhe entregasse todo o dinheiro que tinha guardado.”
Pilantragem é o resultado das atitudes do pilantra ou do grupo de pilantras.
Nas novelas brasileiras, são apresentadas diversas personagens que podem ser classificadas como pilantras. Uma famosa pilantra surgiu na novela Caminho das Índias, com a personagem Ivone, interpretada por Letícia Sabatella.
OPINIÃO: POR QUE SILAS MALAFAIA NÃO É UM PASTOR, MAS UM PILANTRA
"Quando digo que Malafaia é um pilantra, estou dizendo: ele não é um pastor. Ele não acredita em Deus nenhum, a não ser que consideremos a nota de cem dólares como uma divindade."
A discussão não pode começar por outro lado, porque se não, não entendemos do que é que a gente está falando. Tentar um debate sério com o Silas Malafaia, apenas com argumentos e razões, não adianta. Até pode ser bom, para desconstruir muitas das asneiras que ele fala, mas será um fracasso se o formato da resposta for todo certinho, calmo e dentro dos cânones da divergência entre pontos de vista respeitáveis. Ele não tem um “ponto de vista” que seja “respeitável”!
Pedro Bial tentou fazer esse tipo de “debate” no seu programa da Globo e foi um fracasso — e ele sabe disso. Confrontado com pessoas sérias que falavam respeitosamente, de forma serena, expondo suas ideias sem ofender nem desqualificar, Malafaia venceu. E venceu porque impôs as regras do jogo: gritou, ofendeu, mentiu descaradamente, falou todo tipo de asneiras e barbaridades, interrompeu, não deixou os outros falarem, foi agressivo e mal-educado, vomitou ódio que nem comentarista do fórum de leitores da revista Veja com um megafone, fez um escândalo. Contudo, nada disso o prejudicou, porque ele o fez profissionalmente. Na televisão, o que rende é o espetáculo, e ele é mestre nisso. Graças ao formato do programa (que colocou um agressor e suas vítimas para debaterem de igual a igual) e ao desespero em que ficaram seus oponentes, ele conquistou a plateia fazendo um show dos horrores. E foi até aplaudido!
Quando digo que Malafaia é um pilantra, estou dizendo: ele não é um pastor. Ele não é um líder religioso. Ele não acredita em Deus nenhum, a não ser que consideremos a nota de cem dólares como uma divindade. Ele não é teólogo e nem é capaz de fazer uma análise minimamente séria dos textos bíblicos, muito menos ainda uma contextualização histórica, cultural ou filosófica da tradição judaica milenar do Antigo Testamento ou dos relatos fundacionais do cristianismo. Ele não acredita em nenhuma das merdas que fala. Ele nem sequer deve ser, realmente, homofóbico.
Provavelmente ele nem tenha preconceito contra gays! Ele simplesmente interpreta um personagem e ganha muito, muito dinheiro, e muito poder e influência política fazendo isso, como tantos outros da mesma escola. Ele consegue que a prefeitura carioca pague sua marcha do Ku Klux Klan antigay e que o governador e o prefeito o acompanhem no palco. Ele consegue ser temido por candidatos presidenciais e até os ameaça pelo Twitter. Ele indica candidatos a deputado, a vereador. Ele é milionário. Ele e a turma da qual faz parte, que hoje controla o Congresso, são atores, vigaristas profissionais, empresários de um falso ódio sustentado numa falsa fé e nas mais clássicas leis da ciência política e da psicologia social. Então, não adianta lidar com eles como lidaríamos com alguém que fosse um homofóbico convicto, sincero, que realmente odeia os LGBT ou tem falsas certezas sobre a sexualidade humana, ou que realmente acredita que existe um ser superior barbudo que é “contra a homossexualidade”. Ele está cagando para tudo isso! Apenas interpreta o papel!
Se, para multiplicar o lucro como pães e peixes, Malafaia precisasse dizer que as pessoas que gostam de música sertaneja irão para o inferno, porque a única música aceita por Deus é a bossa nova, ou mesmo o samba ou o funk, ele construiria uma pseudoteologia da burrice para isso; acharia três ou quatro passagens bíblicas que, numa interpretação bem tosca, justificassem a rejeição de Deus à música sertaneja, e passaria os sete dias da semana atacando o Luan Santana, ou até o Zezé de Camargo e o Luciano, com a mesma fúria com que hoje ataca o Jean Wyllys, buscando holofotes, palanque, ibope. Buscando ser apresentado pela mídia como alguém que tem uma opinião legítima — radical, mas legítima — a respeito da música brasileira. E tentando se transformar no líder de uma legião de analfabetos funcionais que odeiam a música sertaneja, ficam extasiados ouvindo suas pregações, esvaziam o bolso enchendo a conta dele e votam nos candidatos que ele indicar para que essas melodias de Satanás não tomem conta do Brasil.
O Malafaia é um pilantra. E a resposta que o Boechat deu a ele no rádio, em rede nacional, chamando-o com esse nome e alguns outros — “idiota”, “paspalhão”, “tomador de grana de fiel”, “explorador da fé alheia”, “otário”, “figura execrável e horrorosa”, “charlatão que usa o nome de Deus para tomar dinheiro” — foi a melhor resposta que ele já recebeu.
Não apenas porque todos os termos usados pelo jornalista da Band são precisos e certeiros, mas principalmente porque o tom usado por ele foi exatamente o necessário, o imprescindível para responder a um vigarista como Malafaia. E a melhor parte da fala de Boechat foi, paradoxalmente, aquela que mais está sendo criticada por alguns ativistas da correção política que jamais conseguiram atingi-lo com sua perfeição semântica: “Vai procurar uma rola!”, disse o jornalista, e repetiu várias vezes. “Vai procurar uma rola e não enche o saco!”. Bravo!
Boechat lavou nossa alma e conseguiu, em poucos dias, mais de QUATRO MILHÕES E MEIO de visualizações do vídeo com o qual foi divulgada sua resposta no YouTube, mais outros milhares, talvez milhões, nos outros formatos em que a fala dele viralizou nas redes sociais. Conseguiu centos de memes engraçadíssimos zoando o pastor e o passarinho que também viralizaram nas redes — e todo o mundo está rindo do pilantra. Zueira não tem fim! Se a frustrada campanha de Malafaia contra os anúncios d’O Boticário (belíssimos anúncios que a galera da correção política também criticou desde sua superioridade moral e pureza ideológica) tinha significado já uma dura derrota para o pilantra, da qual tentou se recompor atacando um jornalista famoso, a resposta do Boechat foi nocaute!
Então, por que a polêmica? Alguém acredita, realmente, que o que o Boechat quis dizer foi que o Malafaia é uma bicha enrustida que precisa de rola? Todo o mundo sabe que não é. Foi a resposta de um heterossexual cisgênero para outro, querides! Acham que o Boechat quis dizer que “rola soluciona tudo”, ou que os tomadores de grana como Malafaia o são por falta de rola? É óbvio que não, e se esses sentidos aparecem na leitura de muitas pessoas, a culpa não é de Boeachat, mas da cultura machista e misógina em que ainda vivemos, que essa semana recebeu um soco como há tempos não recebia. Qualquer ativista com um mínimo de vontade de contextualizar, de focar na força pragmática do enunciado, de se desprender da necessidade patológica que parte da esquerda tem de atacar os aliados e condená-los à fogueira por uma vírgula, aliás, qualquer pessoa com um pouco de bom senso entenderá facilmente que mandar Malafaia procurar uma rola é calar a boca dele!
Porque ele está acostumado a responder a pessoas educadas e sérias com uma enxurrada de agressões verbais, gritos e desqualificações. E, de repente, ficou nu, desarmado, porque não foi mais tratado mais como pastor, como teólogo, como homem de Deus, como religioso, como portador de uma opinião tão respeitável como as outras, que até tem o direito de debater de igual a igual com suas vítimas. Pela primeira vez, mandaram ele procurar uma rola. E não foi qualquer um: foi um dos jornalistas com mais ibope do Brasil.
Acabou. Game over.
E por que uma rola? Porque ele passa os sete dias da semana atacando os que gostamos de rola. Sim, gostamos de rola! Qual é a vergonha de falar isso? Não enche o nosso saco, Malafaia. Vai procurar uma rola se quiser, e se não quiser, cala a boca. Ponto final. Você não é ninguém. Até que enfim alguém fala isso claramente e consegue ser ouvido.
Por isso, quem não gostou, por um monte de razões que explicará num complicado texto acadêmico com citações de todos os próceres das ciências sociais, pode ir procurar uma rola também. Sacou? E por favor não encha o saco, que aqui estamos festejando que o pilantra se fodeu. Pronto, falei.
Bruno Bimbi é jornalista, doutorando em estudos da linguagem na PUC-Rio, autor do livro Casamento igualitário (Garamond, 2013) e integrante da Executiva Estadual do PSOL-RJ.
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