Os registros mais antigos sobre como surgiu a fonoaudiologia são dos anos 30, onde problemas na linguagem em escolares eram discutidos pela medicina e a educação. Na década de 60, deu-se início ao ensino da Fonoaudiologia no Brasil, com a criação dos cursos da Universidade de São Paulo (1961), vinculado à Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1962), ligado ao Instituto de Psicologia. Ambos estavam voltados à graduação de tecnólogos em Fonoaudiologia, sendo que o primeiro currículo mínimo, fixando as disciplinas e a carga horária destes cursos, foi regulamentado pela Resolução n° 54/76, do Conselho Federal de Educação. Nos anos 70, tiveram início os movimentos pelo reconhecimento dos cursos e da profissão. Foram criados, então, os cursos em nível de bacharelado, e o curso da Universidade de São Paulo foi o primeiro a ter seu funcionamento autorizado, em 1977[1]
A Fonoaudiologia (português brasileiro) ou Terapia da fala/Audiologista (português europeu), antes denominada logopedia é a ciência que tem como objeto de estudo as funções neurovegetativas (mastigação, deglutição e aspectos funcionais da respiração) e a comunicação humana neurológica mais complexa que o sistema nervoso pode processar, no que se refere ao seu desenvolvimento, aperfeiçoamento, distúrbios e diferenças, em relação aos aspectos envolvidos na função auditiva periférica e central, na função vestibular, na função cognitiva, na linguagem oral e escrita, na fala, na fluência, na voz, nas funções estomatognáticas, orofaciais e na deglutição." [2]
O fonoaudiólogo é um profissional da saúde e atua em pesquisa, orientação, perícias, prevenção, avaliação, diagnóstico e tratamento fonoaudiológico na área da comunicação oral e escrita, voz, audição e equilíbrio, sistema nervoso e sistema estomatognático incluindo a região cérvicofacial. Este profissional tem ampla autonomia, não sendo subordinado ou mero auxiliar de outras áreas do conhecimento ou especialidades, pode atuar sozinho ou em conjunto com outros profissionais de saúde em clínicas, hospitais, centros especializados em diagnósticos, institutos gerais de perícia, centros de referência em saúde do trabalhador, como auxiliar do poder judiciário no âmbito das perícias judiciais que envolvem a área da audição, fala e linguagem, equilíbrio e demais áreas correlatas, nas esferas civil, trabalhista e criminal, em creches, escolas (comuns e especiais) e comunidades, incluindo o Programa de Saúde da Família, unidades básicas de saúde, unidades de referência para a média e alta complexidade de procedimentos do SUS, emissoras de rádio e televisão, teatro, atendimento domiciliar, empresas de próteses auditivas, indústrias, centros de habilitação e reabilitação, entre outros.
Existe ainda a Fonoaudiologia Forense, que é a atuação em processos judiciais que envolvam exames biométricos para identificação através de voz, fala, linguagem, marcha, face, escrita, postura e tudo o mais que se relaciona com realizações humanas.
A profissão possui seu Código de Ética, que elenca e disciplina os direitos, deveres e responsabilidades do Fonoaudiólogo, inerentes às relações estabelecidas em função de sua atividade profissional. De acordo com o código de Ética da Fonoaudiologia, no Brasil, constituem direitos gerais dos Fonoaudiólogos inscritos nos Conselhos Regionais de Fonoaudiologia, nos limites de sua competência e atribuições:
- exercício da atividade sem ser discriminado;
- exercício da atividade com ampla autonomia e liberdade de convicção;
- avaliação, solicitação, elaboração e realização de exame, diagnóstico, tratamento e pesquisa, emissão de parecer, laudo e/ou relatório, docência, responsabilidade técnica, assessoramento, consultoria, coordenação, administração, orientação, realização de perícia e demais procedimentos necessários ao exercício pleno da atividade;
- liberdade na realização de estudos e pesquisas, resguardados os direitos dos indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos;
- liberdade de opinião e de manifestação de movimentos que visem a defesa da classe;
- requisição de desagravo junto ao Conselho Regional de Fonoaudiologia da sua jurisdição, quando atingido no exercício da atividade profissional;
- consulta ao Conselho de Fonoaudiologia de sua jurisdição quando houver dúvidas a respeito da observância e aplicação deste Código, ou em casos omissos.[3]
Índice
[esconder]Fonoaudiologia no Brasil[editar | editar código-fonte]
No Brasil, existem 114 cursos de Fonoaudiologia cadastrados pelo MEC. O curso denominado Fonoaudiologia tem duração média de quatro anos contendo as disciplinas básicas da área de Medicina, Psicologia ePedagogia, além de matérias específicas da área de Física e aulas de Fonética e Linguística. Para saber quais são os cursos existentes é aconselhável visitar o site do Conselho Federal de Fonoaudiologia.
A Lei que rege a profissão de Fonoaudiólogo no Brasil é a Lei nº 6.965, sancionada em 9 de Dezembro de 1981, tendo a mesma sido regulamentada pelo Decreto nº 87.218, de 31 de maio de 1982.
A referida legislação além de determinar a competência do fonoaudiólogo também criou o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) e os Conselhos Regionais de Fonoaudiologia (CRFa) que possuem como principal realizam a fiscalização e avaliação do exercício profissional.
Conforme normas oficiais, pode atuar em sete áreas distintas:
Audiologia[editar | editar código-fonte]
O Audiologista é o fonoaudiólogo especialista que se dedica ao estudo do sentido AUDIÇÃO, desde a recepção das ondas sonoras pelo ouvido até o completo processamento das informações auditivas pelo córtex do sistema nervoso central, dedicando-se pois ao estudo da anatomia, da fisiologia, da neurofisiologia e das patologias de todo o aparelho auditivo. Este profissional sem dúvida, é o mais capacitado para diagnosticar, atestar e tratar os distúrbios da audição e suas consequências no dia-a-dia do indivíduo por eles acometido, daí o porquê vem sendo muito requisitado na esfera do poder judiciário para que realize perícias nas questões que envolvem a audição, pois para o judiciário não basta saber que há lesão e o seu grau, é fundamental para a decisão do Juiz saber de que forma aquela lesão afeta a vida do cidadão.
O Audiologista é por vezes confundido com o Otorrinolaringologista que é o especialista que se dedica ao estudo do ouvido, não tendo seu espectro de estudo ampliado para todos os aspectos do sentido da audição, seu processamento e suas influências no processo de linguagem e comunicação humana. O Audiologista realiza exames audiológicos e otoneurológicos (audiometria tonal limiar, audiometria vocal, índice de reconhecimento de fala, imitânciometria acústica, provas de função tubária, teste de reflexos neurológicos estapedianos, emissões otoacústicas transientes e evocadas por produto de distorção, audiometria de tronco encefálico, potenciais evocados de curta, média e de longa latência, monitoração transoperatória em neurocirurgias, vídeonistagmografia comum e infravermelha, vectoeletronistagmografia, rinometria acústica, exames de processamento auditivo central [avaliação de como o sistema nervoso central está processando a audição], dentre outros) para verificar se a função auditiva dos pacientes está normal ou se apresenta algum tipo de problema.
Nesta área, o Fonoaudiólogo especialista em audiologia, realiza diagnósticos, prognósticos e estabelece tratamentos ou auxilia no estabelecimento de condutas de outros profissionais da área da saúde tais como pediatras, otorrinolaringologistas, neurologistas, neurocirurgiões, geriatras, clínicos gerais e outros. O audiologista também dedica-se ao estudo de física, acústica e psicoacústica, fundamentais para que possa compreender o funcionamento eletrônico complexo das próteses auditivas, o que o habilita a selecionar, ajustar, regular e adaptar aparelhos auditivos de forma precisa, para corrigir a função auditiva afetada por diferentes graus e formas de lesões, de pessoas em todas as faixas de idade a partir dos primeiros meses de vida.
Este profissional deve ser consultado regularmente, desde os primeiros dias de vida, onde é realizada uma avaliação da capacidade auditiva do bebê ao nascimento, posteriormente ao completar 1 ano de vida, e ao entrar em idade escolar, ou quando apresentar quaisquer sintomas como dor, sensação de ouvido tapado, tonturas, zumbidos (chiado), estalos, e dificuldades para ouvir.
A otoneurologia se dedica a diagnósticos relacionados à função vestibular que participa do controle do equilíbrio do indivíduo, área de fusão entre a fonoaudiologia, otorrinolaringologia e neurologia, cujas doenças desse sistema são popularmente conhecidas como "labirintites". Juntamente com o Otorrinolaringologista, o audiologista, participa da cirurgia de implante coclear (dispositivo eletrônico implantado no nervo da audição) fazendo exames antes e depois do implante para saber se o paciente reagiu bem ao aparelho, indicando ao Otorrino aonde colocar o aparelho na orelha do paciente.
O audiologista pode também fazer a monitoração de pacientes em coma, auxiliando no prognóstico destes pacientes, realiza exames eletrofisiológicos da audição para auxiliar no processo de diagnóstico de morte encefálica, e pode realizar monitoração da ototoxicidade* ao paciente quando em uso de certas medicações como é o caso do uso dos antibióticos conhecidos como aminoglicosídios (amicacina, arbecacina, gentamicina, canamicina, azitromicina, neomicina, netilmicina, paromomicina, rodostreptomicina, estreptomicina, tobramicina e apramicina e as antraciclinas - utilizadas em quimioterapias.
Este profissional é fundamental em todos os níveis de atenção à saúde, desde a atenção básica, passando pela média até a alta complexidade.
- Ototoxicidade: danos progressivos nas células sensoriais do sentido da audição e do equilíbrio no ouvido interno: pode resultar em ataxia (andar desequilibrado), vertigens; surdez temporária ou permanente.
Linguagem[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Linguagem
Acompanha o desenvolvimento do bebê desde o nascimento, e a partir daí em consultas regulares, nos aspectos relacionados ao processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem. Estuda problemas relacionados com a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, faz diagnósticos de atrasos ou retardos de linguagem, estabelece o tratamento para a habilitação de crianças com atraso ou deficiência desta ordem. Faz avaliação, diagnóstico, prognósticos e estabelece tratamentos para pacientes que adquiriram a linguagem mas a perderam ou passam a apresentar algum distúrbio ou anormalidade por algum motivo, a exemplo de quem sofreu derrame cerebral também chamado de AVE (acidente vascular encefálico), traumas cranianos, isquemias cerebrais, doenças degenerativas do sistema nervoso central (esclerose múltipla, mal de Alzheimer, degeneração olivopontocerebelar, mal de Parkinson, etc.), tumores intracranianos, sequelas de neurocirurgias e outras condições clínicas.
Os problemas podem ser retardo na fala ou emissões das primeiras palavras (demora para falar e expressar-se), deficiência na formação de frases - (fala frases de forma incompleta ou mal consegue terminá-las); omissões e acréscimos de sons na fala (pula palavras ou frases inteiras); troca de fonemas (Troca palavras) ; gagueira (pode ser de origem neural, psicológica ou motora), entre outros.
Motricidade Orofacial[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Motricidade Orofacial
É a área que estuda a musculatura da face, boca e língua. Soluciona problemas relacionados á: sucção, mastigação, deglutição, respiração, posicionamento da língua de modo errado, dificuldade ou impossibilidade de deglutir alimentos de forma segura que são chamadas de disfagias. É também capacitada para atender problemas de má oclusão (mau alinhamento dentário), tonicidade e mobilidade facial (flacidez muscular de bochecha, lábio e língua), pacientes com bruxismo, entre outros. Realiza avaliações, diagnóstico, prognósticos e estabelece tratamentos para pacientes com comprometimento de alguma das funções primeiramente descritas e que afetam a região da cabeça e pescoço. Também atua na área de estética para quem quer um rosto mais redondo ou mais quadrado ou musculoso e quem tem rugas no canto dos olhos e em outras partes do rosto através de exercícios musculares.
Disfagia[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Disfagia
Anteriormente a disfagia era considerada uma das áreas de atuação do Fonoaudiólogo especialista em Motricidade Orofacial, porém, atualmente se constitui em uma nova especialidade da Fonoaudiologia. A disfagia pode ser definida como dificuldade de deglutição. Caracteriza-se por um sintoma comum de diversas doenças. Pode ser causada por alterações neurológicas como o acidente vascular cerebral (AVC), ou derrame, outras doenças neurológicas e/ou neuromusculares e também alterações locais obstrutivas, como as doenças tumorais do esôfago.
Disfagia temporária é comumente observada em pacientes submetidos a cirurgia da coluna cervical via anterior, traumas e pequenos acidentes vasculares cerebrais.
O propósito fundamental da identificação da causa da disfagia consiste em selecionar o melhor tratamento que pode variar desde o tratamento de reabilitação fonoaudiológico, a alteração de consistência dos alimentos para evitar a aspiração do conteúdo para o pulmão e pode ter um foco completamente diferente como o cirúrgico no caso de doenças neoplásicas do esôfago.
Medidas adicionais paralelas ao diagnóstico das causas seria o de evitar, o máximo possível, as complicações da disfagia: desidratação, infecções pulmonares e subnutrição.
Voz[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Voz
O profissional que atua nessa área pode não só prevenir os distúrbios da voz como melhora-la, atuando no aperfeiçoamento e promoção da saúde vocal, tanto na fala como no canto, até a reabilitação das disfonias, com preocupação especial na prevenção dos problemas de voz. Como quando se torna áspera, rouca ou de difícil emissão. A fonooncologia, por exemplo, atua em todos os aspectos e possibilidades de reabilitação do indivíduo que tenha sido acometido por câncer de cabeça e pescoço, assim como promove a inserção do fonoaudiólogo em equipes hospitalares multiprofissionais.
Ensinar técnicas que auxiliam a correta postura e seu uso quanto a respiração e impostação vocal por exemplo para quem trabalha na área de telemarketing e em meios de comunicação oral.
Saúde Coletiva[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Saúde Coletiva
O profissional que atua nessa área tem como foco a atuação fonoaudiológica no setor público e privado, voltado para uma população específica. É necessário domínio de Epidemiologia, Gestão Pública e Privada, além dos conhecimentos específicos em cada uma das áreas da Fonoaudiologia.
Educacional[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Educacional
A atuação em fonoaudiologia escolar/educacional contempla ações de promoção de saúde, assessoria, orientação e identificação de características/alterações na área de voz, linguagem, comunicação oral e escrita e audição, tendo como população-alvo alunos, professores, pais, auxiliares em educação, demais profissionais que atuam no ambiente escolar e gestores de instituições públicas e privadas. Ver Classificação Brasileira de procedimentos em fonoaudiologia: http://www.fonosp.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2010/01/cbp-em-fono1.pdf É de competência do fonoaudiólogo desenvolver ações de consultoria, assessoria e gerenciamento, com participação direta ou indireta em equipe de orientação e planejamento escolar, inserindo aspectos preventivos ligados a assuntos fonoaudiológicos. O capítulo II, artigo 3º da Lei 6965 de 9 de dezembro de 1981 estabelece sua atuação dentro do ambiente educacional e a publicação "Fonoaudiologia na Educação" de 2010 do Conselho Regional de Fonoaudiologia, 2ª região/SP , disponível em http://www.fonosp.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2010/04/livro-fonoaudiologia-na-educacao.pdfO salário médio do terapeuta da fala é cerca de R$ 21.696,00 por ano. Um grande número de outros fatores determinam o salário do fonoaudiólogo e vai mudar de acordo com a área de trabalho, o local de trabalho, o ambiente (urbano ou rural), a educação e derivados dos anos de experiência.
O salário inicial de um terapeuta da fala é, aproximadamente, de R$ 1.808,00, mas com o progresso dos anos e mais anos de experiência adquirida, o salário sobe também. Com mais anos de experiência, a faixa salarial de um fonoaudiólogo vai continuar a aumentar.
O fonoaudiólogo pode estar inserido em vários ambientes de trabalho, como escolas, clínicas, hospitais, maternidades, asilos, empresas, emissoras de rádio e tv, teatro, etc. Por exemplo, a fonoaudiologia escolar está em constante crescimento onde a necessidade da contratação de fonoaudiólogos para integrar equipes de educação especial é de grande valia.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Termos relacionados[editar | editar código-fonte]
- alfabeto fonético
- articulação
- entonação
- glide
- modulação
- pronúncia
- prosódia
- sílaba
- sotaque
- tonicidade
- ototoxicidade
- prognóstico
Referências
- ↑ «História da Fonoaudiologia». www.fonoaudiologia.org.br. Consultado em 2016-05-19.
- ↑ O que é fonoaudiologia (CFFa, Conselho Federal de Fonoaudiologia)
- ↑ http://fonoaudiologia.com/content/codigo-de-etica-da-fonoaudiologia.html
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Atribuições do Fonoaudiólogo
- Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia - Pesquisa, Ciência e Tecnologia
- Conselho Federal de Fonoaudiologia - História, Leis, regulamentos e normas que regem a profissão no Brasil
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