A classe gramatical das palavras está dentro da morfologia, a classificação da palavra segundo a sua distribuição sintática e morfológica. Ex: Artigo, numeral, verbo, pronome, substantivo, etc.
Índice
[esconder]História[editar | editar código-fonte]
A classificação gramatical das línguas europeias deriva principalmente da gramática grega. No diálogo Crátilo, Platão discute se as palavras (lógos) são arbitrárias ou intrínsecas à natureza das coisas, tratando de assuntos que se tornariam objeto da etimologia e da linguística. No texto, ele separa o discurso em duas partes distintas: ónoma (nome) e rhema (verbo).[1] No texto, Platão estava interessado na natureza das palavras e não em sua forma, razão pela qual sua divisão é tanto morfológica (nomes vs. verbos, adjetivos, etc.) quanto sintática (sujeito vs. predicado).[2]
O principal discípulo de Platão, Aristóteles, escreveu também reflexões sobre gramática e os tipos de palavra. Para ele, as palavras são signos, sinais falados ou escritos, com que designamos as coisas, pela nossa incapacidade de apreender as coisas em si mesmas – uma noção retomada pela linguística moderna com o conceito de signo linguístico de Saussure.[3] Quanto às palavras, além de aceitar as classes platônicas de onoma e rhema, ele adiciona uma terceira classe: sýndesmos ("coesivos"): as palavras que ao contrário das duas primeiras classes, não tem significado próprio, mas servem para conectar e articular entre si as diferentes partes do discurso.[3]
Os estóicos deram diversas contribuições à classificação das palavras ao longo dos séculos, entre elas:[4]
- A separação entre sýndesmos propriamente dito (conjunções e preposições) e árthron ("articuladores"), as classes que articulam as partes do discurso (incluídos pronomes e artigos);
- A distribuição dos sýndesmos em onze tipos, similares aos que usamos hoje: prepositivos, disjuntivos, sudisjuntivos, comparativos, causais, continuativos, subcontinuativos, ilativos, copulativos, conclusivos e expletivos;
- A introdução da classe dos metokhé (μετοχή), ou formas nominais do verbo;
- A introdução da classe dos epirrhema (literalmente, ad-vérbio), que faria aos verbos o mesmo que fazem aos substantivos os epitheton (ad-jetivo).
Todas essas classificações foram sintetizadas no tratado A Arte da Gramática (Τέχνη Γραμματική) de Dionísio, o Trácio, escrita no século II a. E. C. A obra de Dionísio classificava as palavras em oito classes, que foram passadas ao latim e à maioria das línguas modernas:[5]
- Onoma | Nōmen | Nome
- Rhema | Verbum | Verbo
- Metokhé | Participium | Verbinominal
- Antonymía | Pronomen| Pronome
- Árthron | Articulus | Artigo
- Epírrema | Adverbum | Advérbio
- Próthesis | Praepositio | Preposição
- Sýndesmos |Conjunctio | Conjunção
O gramático latino Prisciano, no ano 500 AD, manteve oito classes, trocando os artigos pelas interjeições: palavras que serviam para expressar emoções no texto. Os adjetivos só formaram uma classe distinta dos substantivos no século XVIII; considera-se que a primeira gramática a fazer essa distinção foi a de Nicolas Beauzée para o francês.[6]
No português[editar | editar código-fonte]
Classificação tradicional[editar | editar código-fonte]
Na gramática da língua portuguesa, a classificação mais tradicional divide as palavras em dez classes. [7]
O substantivo e o verbo podem ser entendidos como classes importantes em uma frase, pois geralmente estes elementos são a base para outras relações, ou mesmo constituintes que são necessários para o entendimento básico da ideia de uma frase. As classes artigo, numeral, pronome, adjetivo e advérbio geralmente especificam o substantivo e o verbo, são classes adjuntas. As classes preposição, conjunção, pronome, servem para ligar, relacionar outras palavras, são classes conectivas. Além destas classes, há uma que serve para expressar sentimentos: a interjeição.[7]
Variáveis[editar | editar código-fonte]
Antonymía[editar | editar código-fonte]
Invariáveis[editar | editar código-fonte]
Outras classificações[editar | editar código-fonte]
Contudo, a classificação tradicional é apontada por linguistas como sendo inconsistente ou inadequada para o português de hoje (e para a maior parte das línguas a que é aplicada). Bagno, por exemplo, aponta o fato de a classe dos pronomes ser formada por palavras que se comportam de modo sintaticamente diverso e deixar de incluir outras com comportamento parecido ao de alguns de seus subgrupos.[8] O próprio autor propõe as seguintes classes para o português: nome, verbo, verbinominal, índice de pessoa, mostrativo, quantificador, advérbio, preposição, conjunção.[9]
Referências
- ↑ Segundo o diálogo de Teeto com o Estrangeiro: "Com efeito, para expressar vocalmente o ser, temos algo assim como duas espécies de signo. / Se os denominas nome e verbo. /Aos que expressam as ações chamaos de verbo./Enquanto aos sujeitos que realizam essas ações, o signo vocal que aplicamos a eles é um nome." Retirado de Mariluze Ferreira de Andrade e Silva. «Platão e os fundamentos da linguagem» (PDF). PUC-Rio. Consultado em 16 de setembro de 2013
- ↑ Bagno (2011), pp. 405-408
- ↑ ab Bagno (2011), p. 410
- ↑ Bagno (2011), pp. 415, 416
- ↑ Bagno (2011), p. 421
- ↑ Beauzée, Nicolas. Grammaire générale, ou exposition raisonnée des éléments nécessaires du langage (em francês). Paris: [s.n.], 1767.
- ↑ ab Mesquita, Roberto Melo; Martos, Cloder Rivas. Português - Linguagem & Realidade. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 26. vol. 1. ISBN 85-02-01251-7
- ↑ Bagno (2011), pp. 462-466 Seção 10.8: Pronome não é classe, é função
- ↑ Bagno (2011), p. 504
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
↑ Bagno, Marcos. Gramática Pedagógica do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. ISBN 8579340373
Nenhum comentário:
Postar um comentário