domingo, 30 de abril de 2017

BIOGENETICA

Está na ordem do dia falar em Biotecnologia e Bioética. Com uma freqüência incrível estas palavras estão na mídia, anunciando novas e sensacionais descobertas no campo da genética e da medicina em geral. Acontece que nem sempre são colocados os pressupostos para uma adequada compreensão e um adequado posicionamento diante do que está ocorrendo. Por isto mesmo o primeiro passo é tentar compreender melhor certas palavras chave, como é o caso da biotecnologia, da biogenética e da bioética.
Biotecnologia e Biogenética
Quando se fala de “bios”, sempre se está falando de “vida”. E quando se fala de “vida” sempre se pensa em “processo” , “movimento”. Devemos distinguir várias etapas  tanto do conhecer, quanto na capacidade de interferir sobre aquilo que se conhece. É assim que desde sempre o ser humano sabia algo sobre os mistérios da vida, e desde sempre tentou interferir sobre eles. É verdade que num período mais primitivo isto acontecia mais através de mitos e ritos e que pouco a pouco isto passou a acontecer através das ciências e das técnicas. É neste horizonte que devemos entender o estágio atual da Biotecnologia e da Biogenética. Depois de um período “ primitivo”, um período “clássico” chegamos ao período atual, quando Biotecnologia e Biogenética conjugadas acumularam um acervo de saber e de poder nunca imaginados.
Como se percebe, a Biogenética aponta mais para os conhecimentos; a Biotecnologia, mais para a capacidade de interferência. O fato é que atuando juntas  estão provocando a maior revolução da história da humanidade. Concretamente isto significa que até mais ou menos os inícios do século XX pouco se sabia sobre os “genes”, e, conseqüentemente pouco se sabia sobre Genética. Por isto mesmo, pouco se poderia interferir nestes mecanismos mais profundos da vida.
Para uma melhor compreensão do que está ocorrendo convém partir da observação do nosso próprio corpo: ele é constituído por tecidos e órgãos. Acontece que estes tecidos e órgãos são constituídos por 100 trilhões de células. Cada célula dispõe de um núcleo onde se encontram “ cromossomos”. Estes cromossomos ( 23 pares) carregam consigo “genes” (cerca de 20 mil na espécie humana), que, por sua vez,  detêm as “informações” necessárias para a manutenção e reprodução da vida. Hoje não apenas se conhecem muitos segredos da vida, mas, justamente através de uma sofisticada tecnologia voltada para a vida, se é capaz de interferir profundamente sobre este material genético. É por isto que se fala em “ manipulação” genética. Enquanto no passado mais se observava, e mais se agia de “fora” para dentro, hoje se age de “dentro” para fora, e de uma maneira muito mais profunda.
Bioética
É uma ciência nova. Surgiu no contexto dos avanços da Biogenética e da Biotecnologia, com a preocupação de evitar a possível desumanização dos procedimentos oriundos dos laboratórios. Mais exatamente, a Bioética surgiu em 1970 com um livro do americano V. Potter, “Bioética: uma ponte para o futuro”, com a preocupação de mediar o diálogo entre ciências biométicas e ética. Nos seus 38 anos de existência a Bioética já deu grandes passos. Inicialmente ela se centrou mais em torno de quatro grandes princípios: o da autonomia, o da justiça, o da beneficência e o da não maleficência. Com o primeiro se buscava preservar os direitos do “paciente”; com o segundo, os direitos da sociedade; com o terceiro e quarto se procurava preservar o velho princípio de Hipócrates de se colocar ao serviço do bem.
Desde o início a Bioética conseguiu conquistar respeitabilidade tanto face às ciênicas biomédicas. Aos poucos, com os previsíveis desdobramentos, no sentido de irem aparecendo sempre novas coordenadas, a Bioética foi adquirindo um vulto maior. Numerosas publicações, congressos e seminários transformaram a Bioética numa força significativa seja em termos intelectuais, seja em termos de peso sobre as decisões face aos novos problemas levantados pela biotecnologia.

Hoje quem não entende de Bioética encontra-se um pouco à margem das grandes discussões sobre os mistérios da vida.Comissões de Bioética atuam em todas as frentes, o que não significa que sempre o façam do mesmo modo e com os mesmos pressupostos. De fato, não só há várias correntes de Bioética, como também em nome da Bioética se pode estar assumindo posições que não se coadunam nem com o Evangelho, nem com a dignidade humana. Mas, em linha de princípio, a força da Bioética se transformou numa esperança de que nem tudo está perdido.

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