Empédocles (em grego antigo: Ἐμπεδοκλῆς; Agrigento, 490 a.C. - 430 a.C.), foi um filósofo e pensador pré-socrático grego e cidadão de Agrigento, na Sicília.[1] É conhecido por ser o criador da teoria cosmogênica dos quatro elementos clássicos que influenciou o pensamento ocidental de uma forma ou de outra, até quase meados do século XVIII.[2][3]
Ele também propôs poderes chamados por ele de "Amor" e "Ódio" que atuariam como forças que tanto podem formar elementos quanto separá-los. Essas especulações físicas faziam parte de uma história do universo que também trata da origem e do desenvolvimento da vida.[4]
Índice
[esconder]Vida[editar | editar código-fonte]
Pouco se sabe sobre sua vida. Seu pai Meto parece ter sido importante na derrubada do tirano de Agrigento, presumidamente Trasideu, filho de Terone, em 470 a.C. Empédocles deu seguimento à tradição democrática da sua família, ajudando a derrubar o governo oligarca seguinte. Diz-se que ele foi magnânimo apoiando os pobres [6]; severo na perseguição dos abusos da aristocracia [7] e até declinou de governar a cidade quando lhe foi oferecido [8].
Sua oratória brilhante [9], seu conhecimento profundo da natureza e a reputação de seus poderes sobrenaturais, incluindo a cura de doenças e previsão de epidemias [10][11] produziram vários mitos e histórias em torno de seu nome.
Ele era tido como mágico e controlador de tempestades. Ele mesmo, em seu famoso poema Purificações parece ter prometido poderes miraculosos, inclusive a destruição do mal, a cura da velhice e controle sobre a chuva e o vento. Empédocles era ligado por laços de amizade aos médicos de Acron [12] e Pausânias [13], que eram seus eromenos[14], a vários pitagóricos e até,há quem diga, a Parmênides e Anaxágoras [15]. O único discípulo de Empédocles mencionado é o sofista e retórico Górgias.[16]
Timeu e Dicearco de Messina falaram da viagem de Empédocles ao Peloponeso e da admiração que lhe foi prestada lá.[17][18]. Outros mencionaram sua estadia em Atenas e na então recém fundada colônia de Túrio, em 446 a.C.[19]. Existem também alguns interessantes relatos de sua viagem ao extremo oriente às terras dos magos [20].
De acordo com Aristóteles, ele morreu com 60 anos (c. 430 a.C.), embora outros escritores o tenham como vivendo até aos cento e nove anos de idade.[21] De forma semelhante, há alguns mitos acerca da sua morte: uma tradição, que é atribuída a Heráclides do Ponto, representa-o como tendo sido removido da terra; enquanto outras o têm perecendo nas chamas do Monte Etna.[22]
Trabalhos[editar | editar código-fonte]
Empédocles é considerado o último filósofo grego a escrever em versos e os fragmentos que restam de suas lições estão em dois poemas: Purificações e Sobre a Natureza. Empédocles estava sem dúvida familiarizado com os poemas didáticos de Xenófanes e Parménides[23] - podem ser encontradas alusões a este último nos fragmentos, - mas ele parece tê-los superado na animação e riqueza de seu estilo, e na clareza das suas descrições e dicção. Aristóteles apelidou-o de pai da retórica, e, embora apenas tenha reconhecido a métrica como ponto de comparação entre os poemas de Empédocles e os épicos de Homero, ele descreveu Empédocles como Homérico e poderoso na sua dicção.[24] Lucrécio fala dele com entusiasmo, e via-o evidentemente como o seu modelo.[25] Os dois poemas juntos compreendem 5000 linhas.[26]Sobreviveram cerca de 550 linhas da sua poesia, embora porque os escritores antigos raramente mencionavam que poema estavam a citar, não é sempre certo a que poema as citações pertencem. Alguns estudiosos acreditam hoje em dia que havia apenas um poema, e que as Purificações formavam meramente o início de Sobre a Natureza.[27]
Purificações[editar | editar código-fonte]
Conhecemos apenas aproximadamente 100 versos da sua Purificações. Parecem terem sido uma visão mítica do mundo, o que, não obstante, foi parte do sistema filosófico de Empédocles, As primeiras linhas do poema foram preservadas por Diógenes Laércio:
Amigos, que habitais a grande cidade, junto aos fulvos rochedos de Ácragas, noalto da cidadela, amadores de nobres trabalhos, respeitáveis abrigos para osPedem uma palavra salvadora para as suas múltiplas doenças.[28][29]
estrangeiros, homens inexperientes da maldade, eu vos saúdo! Eu, porém, caminho entre
vós qual Deus imortal, e não mais como mortal, por todos honrado como me convém,
coroado de guirlandas floridas. Desde minha entrada nas florescentes cidades, sou
honrado por homens e mulheres; seguem-me aos milhares, a fim de saber qual o
caminho da riqueza; uns necessitando oráculos; outros, feridos por atrozes dores,
Era provavelmente este trabalho que continha uma história sobre almas,[30] onde nos é dito que existiram em tempos espíritos que viviam num estado de êxtase, mas tendo cometido um crime (de natureza desconhecida) eles foram punidos ao serem forçados a tornarem-se seres mortais, reencarnados de corpo para corpo. Os Humanos, os animais, e mesmo as plantas são esses espíritos. A conduta moral recomendada no poema pode permitir tornar-nos deuses novamente.
Sobre a Natureza[editar | editar código-fonte]
Existem aproximadamente 450 versos do seu poema Sobre a Natureza, incluindo 70 que foram reescritos de fragmentos de papiro, conhecidos como Papiro de Estrasburgo. O poema consistia originalmente de 2000 versos hexâmetros [31] e fora feito para Pausânias[32]. Era esse poema que mostrava seu sistema filosófico. Nele, Empédocles explica não apenas a natureza e a história do universo, incluindo sua teoria dos Quatro elementos, mas ele descreve suas teorias da causa, da percepção e do pensamento, assim como também explicações do fenômeno terrestre e processos biológicos.
Filosofia[editar | editar código-fonte]
Embora familiarizado com as teorias dos Eleatas e dos Pitagóricos, Empédocles não pertencia a nenhuma escola definida. Sendo ecléctico no seu pensamento, ele combinou muito do que tinha sido sugerido por Parménides, Pitágoras e pelas escolas jônicas. Era um firme crente nos mistérios órficos, bem como um pensador científico e um precursor da ciência física. Aristóteles menciona Empédocles entre os filósofos jônicos, e coloca-o em relação próxima com os filósofos atomistas e com Anaxágoras.[33]Empédocles, tal como os filósofos jônicos e os atomistas, tentou encontrar a base de toda a mudança. Tal como Heráclito, eles não consideraram vir à existência e o movimento como a existência das coisas, e o repouso e a tranquilidade como não-existência. Isto é porque eles tinham derivado dos Eleatas a convicção de que uma existência não poderia passar para a não-existência, e vice-versa. A fim de permitir que a mudança ocorra no mundo, e contra a opinião dos eleatas, eles viram as mudanças como resultado da mistura e separação de substâncias inalteráveis. Assim Empédocles disse que uma vinda à existência de uma não-existência, bem como uma morte e aniquilação completa, são impossíveis; o que chamamos de vir à existência e a morte é apenas a mistura e separação do que estava misturado. [34]
Os quatro elementos[editar | editar código-fonte]
Foi Empédocles que estabeleceu os quatro elementos essenciais que fazem toda a estrutura do mundo - fogo, ar, água e terra. [35] Empédocles chamou estes quatro elementos "raízes" que, de maneira típica, ele também identificou com os nomes místicos de Zeus, Hera, Nestis e Aidoneu. [36] Empédocles nunca usou o termo "elemento" (em grego: στοιχεῖον) (stoicheion), que parece ter sido usado pela primeira vez por Platão. [37] De acordo com as diferentes proporções em que esses quatro elementos indestrutíveis e imutáveis são combinados uns com os outros é produzida a diferença da estrutura. É na agregação e segregação de elementos que assim resulta, que Empédocles, como os atomistas, encontrou o verdadeiro processo que corresponde ao que é popularmente chamado de crescimento, aumento ou diminuição. Nada de novo vem ou pode vir a ser, a única mudança que pode ocorrer é uma mudança na justaposição de elemento com elemento. Essa teoria dos quatro elementos tornou-se o padrão dogma nos dois mil anos seguintes.
Amor e revolta[editar | editar código-fonte]
Os quatro elementos são, contudo, simples, eternos e imutáveis, e como a mudança é a consequência da sua mistura e separação, foi também necessário supor a existência de poderes em movimento - para trazer a mistura e a separação. Os quatro elementos são colocados eternamente em união, e eternamente separados uns dos outros, por dois poderes divinos, amor e ódio. O Amor (em grego: φιλία) explica a atracção de diferentes formas de matéria, e o Ódio (em grego: νεῖκος) é responsável pela sua separação. [38] Se os elementos são o conteúdo do universo, então o Amor e o Ódio explicam a sua variação e harmonia. O Amor e o Ódio são forças atractivas e repulsivas que o olho comum pode em funcionamento entre o povo, mas que realmente permeiam o universo. Eles imperam alternadamente sobre as coisas, - sem contudo algum ser sempre muito ausente.
A esfera de Empédocles[editar | editar código-fonte]
Como estado original e o melhor, houve um tempo em que os elementos puros e os dois poderes coexistiam numa condição de repouso e imobilidade na forma de uma esfera. Os elementos existiam juntos na sua pureza, sem misturas ou separações, e o poder de união do Amor predominava na esfera: o poder separador da revolta guardava as bordas mais extremas da esfera.[39] Desde essa altura, a revolta ganhou mais balanço e a ligação que mantinha as substâncias elementares puras juntas na esfera foi dissolvida. Os elementos transformaram-se no mundo de fenómenos que assistimos hoje, cheio de contrastes e oposições, operado tanto pelo Amor como pela Revolta. A esfera sendo a personificação da existência pura é a personificação ou representação de deus. Empédocles assumia um universo cíclico onde os elementos regressam e preparam a formação da esfera para o próximo período do universo.
Referências
- ↑ Frank N. Magill. The Ancient World: Dictionary of World Biography. Routledge; 2003. ISBN 978-1-135-45739-6. p. 374 – 375.
- ↑ Terry Breverton. Breverton's Encyclopedia of Inventions: A Compendium of Technological Leaps, Groundbreaking Discoveries and Scientific Breakthroughs that Changed the World. Quercus; 2012. ISBN 978-1-78087-340-4. p. 29–30.
- ↑ Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia. Jorge Zahar; 2005. ISBN 978-85-7110-405-1. p. 34.
- ↑ Adam Drozdek. Greek Philosophers as Theologians: The Divine Arche. Ashgate Publishing, Ltd.; 2007. ISBN 978-0-7546-6189-4. p. 71 – 77.
- ↑ Diógenes Laércio, A vida dos Filósofos Eminentes, viii. 51
- ↑ Diógenes Laércio, A vida dos Filósofos Eminentes, viii. 73
- ↑ Timeu, ap. Diógenes Laércio, viii. 64, comp. 65, 66
- ↑ Aristóteles ap. Diógenes Laércio, viii. 63; comparar, contudo, Timeu, ap. Diógenes Laércio, 66, 76
- ↑ Sátiro, ap. Diógenes Laércio, viii. 58; Timeu, ap. Diógenes Laércio, 67
- ↑ Diógenes Laércio, A vida dos Filósofos Eminentes, viii. 60, 69, 70
- ↑ Plutarco, de Curios. Princ., adv. Colotes; Plínio, H. N. xxxvi. 27, e outros
- ↑ Plínio, História Natural, xxix.1.4-5; cf. Suda, Akron
- ↑ Diógenes Laércio, viii. 60, 61, 65, 69
- ↑ Diógenes Laércio, viii. 60: "Pausânias, de acordo com Aristipo e Sátiro, foi o seu eromenos"
- ↑ Suda, Empédocles; Diógenes Laércio, viii. 55, 56, etc.
- ↑ Diógenes Laércio, A vida dos Filósofos Eminentes, viii. 58
- ↑ Diógenes Laércio, A vida dos Filósofos Eminentes, viii. 67, 71
- ↑ Ateneu, xiv.
- ↑ Suda, Akron; Diógenes Laércio, viii. 52
- ↑ Plínio, H. N. xxx. 1, etc.
- ↑ Apolônio, ap. Diógenes Laércio, viii. 52, comp. 74, 73
- ↑ Diógenes Laércio, viii. 67, 69, 70, 71; Horácio, ad Pison. 464, etc.
- ↑ Hérmipo e Teofrasto, ap. Diógenes Laércio, viii. 55, 56
- ↑ Aristóteles, Poetics, 1, ap. Diógenes Laércio, viii. 57.
- ↑ Ver especialmente Lucrécio, i. 716, etc.
- ↑ Diógenes Laércio, viii. 58.
- ↑ Simon Trépanier, (2004), Empedocles: An Interpretation, Routledge.
- ↑ Frag. B112, (Diógenes Laércio, viii. 61)
- ↑ GERD BORNHEIM. Os filósofos pré-socráticos. – acessado a 9 de Janeiro de 2012.
- ↑ Frag. B115, (Plutarco, No Exílio, 607CE; Hipólito, vii. 29)
- ↑ Suda, Empédocles
- ↑ Diógenes Laércio, viii. 60
- ↑ Aristóteles, Metafísica, i. 3, 4, 7, Phys. i. 4, de General, et Corr. i. 8, de Caelo, iii. 7.
- ↑ Frag. B8, (Plutarco,Contra Colotes, 1111F); Frag. B12, (Pseudo-Aristóteles, Sobre Melisso, Xenófanes, Górgias, 975a36-b6)
- ↑ Frag. B17, (Simplício, Física, 157-159)
- ↑ Frag. B6, (Sextus Empiricus, Contra os Matemáticos, x, 315.)
- ↑ Platão,Timeu, 48b-c
- ↑ Frag. B35, B26, (Simplício,Física, 31-34)
- ↑ Frag. B35, (Simplicius, Physics, 31-34; On the Heavens, 528-530)
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
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