Febre ou pirexia é a elevação da temperatura do corpo humano para cima dos limites considerados normais (36 a 37,3 °C), intervalo que compreende 95% da população sadia.[1] A regulação da temperatura é realizada pelo hipotálamo.[2] Pode ser causada por uma série de fatores que incluem: infecção, sequelas de lesão tecidual, inflamação, rejeição de enxerto, processo maligno ou outros fatores.[2] A febre não é uma doença e geralmente não necessita de rápida intervenção, é um sintoma que possui papel de defesa orgânica.[3] Seu controle estrito não previne convulsões (somente em 4% de uma população de crianças sadias ocorre convulsão febril), mas esta pode ser fator desencadeante em pacientes suscetíveis, mesmo com uma pequena elevação de temperatura.[3]
Cerca de 5% das consultas de emergências tem febre como principal sintoma.[4]
Índice
[esconder]Síndrome febril[editar | editar código-fonte]
O quadro febril é caracterizado por[5]:
- Cansaço, letargia e sonolência
- Sensação de frio e tremor (calafrio)
- Suor
- Mal estar e fraqueza
- Perda de apetite
- Pele pálida
- Sensibilidade aumentada a dor (hiperalgesia) e incapacidade de concentração
Complicações[editar | editar código-fonte]
Febres muito altas podem eventualmente causar:
- Desidratação, pelo suor, diarreia ou vômito
- Alucinações
- Convulsão febril em crianças com menos de 5 anos
Funções[editar | editar código-fonte]
É uma reação orgânica primitiva com múltiplas aplicações contra um mal comum, interpretada pelo meio médico como um simples sinal. A reação descrita como um aumento na temperatura corporal nos seres humanos para níveis até 37,8 °C Celsius chama-se estado febril; ao passar dessa temperatura, já pode ser caracterizado como febre e é um mecanismo adaptativo próprio dos seres vivos. A febre é uma reação do corpo contra patógenos com várias utilidades[6]:
- Estimula a proliferação de linfócitos;
- Aumenta a atividade de macrófagos;
- Reduz o efeito de algumas endotoxinas termossensíveis;
- Reduz a atividade dos patógenos que crescem melhor a temperatura ambiente.
Apesar da maior parte das febres ser causada por infecções, nem sempre febre é indicador de infecção. Mede-se tradicionalmente a temperatura corporal através da testa e pescoço (com a mão), da boca, da axila, da membrana timpânica ou do ânus (utilizando um termômetro).
As crianças são mais afetadas pela febre porque, para o organismo delas, praticamente todos os vírus e bactérias são desconhecidos. Então, quando esses micro-organismos invadem o corpo, ele logo produz a prostaglandina.
Mecanismo[editar | editar código-fonte]
A febre geralmente ocorre em resposta a substância pirogênicas, principalmente interleucina 1 e Interleucina 6, que são secretados pelos macrófagos como resposta inflamatória. Essas substâncias pirogênicas agem proporcionando liberação de prostaglandinas que agem no centro termorregulador, o hipotálamo anterior, reconfigurando o ponto de referência da termorregulação para uma temperatura mais alta, e ao fazê-lo, evoca os mecanismos de aumento de temperatura do corpo, fazendo-o aumentar a temperatura a níveis acima do normal (níveis homeostásicos).
O corpo tem várias técnicas para aumentar a temperatura:
- Aumento da temperatura corporal - tremores, que envolvem movimentos físicos e que produzem calor;
- Diminuição da perda de calor - vasoconstrição, ou seja, a diminuição do fluxo sanguíneo da pele, reduzindo a quantidade de calor perdido pelo corpo.
A temperatura do corpo é mantida nesses níveis até que os efeitos dos pirógenos cessem.
Tipos[editar | editar código-fonte]
A febre pode ser classificada como de baixa intensidade (37,8 a 38 °C), moderada (38 a 39 °C) ou alta (mais de 39 °C), dependendo de quanto a temperatura corpórea subiu.
A febre pode ser benéfica, e é parte da resposta do corpo a uma doença; no entanto, se a febre for acima de 41,7 °C, então pode causar danos significativos aos neurônios, com risco de afetar a meninge e essa fase é chamada de hipertermia maligna. A alta temperatura causa a desnaturação de proteínas e enzimas, o que agrava o estado do paciente.
A temperatura normalmente flutua ao longo do dia, e o mesmo se aplica à febre. Se esse padrão característico estiver ausente, a temperatura aumentada do corpo pode ser por causa de insolação, uma disfunção mais séria. A insolação é causada pelo excesso de exposição ao sol e desidratação.
Valores normais de temperatura[editar | editar código-fonte]
A ausência de febre é chamada de apirexia e pode ser:
- Temperatura axilar: 35,5 a 37,3 °C, com média de 36 a 36,5 °C.
- Temperatura bucal: 36 a 37,4 °C.
- Temperatura rectal: 36 a 37,8 °C, isto é, 0,5 °C maior que a axilar.
A temperatura rectal maior que a axilar em valores acima de 1 °C, pode ser indicativo de processo inflamatório abdominal baixo ou pélvico.
Causas[editar | editar código-fonte]
A febre é um sintoma comum de muitas condições médicas[7]:
- Doença infecciosas: virose, infecção bacteriana, protozoonose, micose sistêmica...
- Doenças inflamações: artrites, sinovite, meningite, doenças inflamatórias intestinais...
- Doenças imunológicas: artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, sarcoidose, doença de Kawasaki, doença de Still, granulomatose com poliangiite, hepatite autoimune, policondrite recidivante...
- Destruição de tecidos: hemólise, cirurgia, infarto, esmagamento, rabdomiólise, AVC...
- Transtornos da coagulação: Coágulos sanguíneos, trombose, coagulopatia de consumo...
- Câncer: câncer de rim, leucemia e linfomas...
- Doenças metabólicas: gota, porfiria, doença de Fabry...
- Efeito colateral a medicamentos: Antibióticos, procainamida, isoniazida, metildopa, quinidina, difenilhidantoína, Vacina DPT, vacina contra pneumococo...
- Reação a transplantes incompatíveis
Causas de febre no pós-operatório[editar | editar código-fonte]
Após uma cirurgia, é comum haver a elevação da temperatura corporal até 37,8 graus Celsius sem maiores significados. No entanto, temperaturas maiores de 38 graus Celsius podem representar, conforme o tempo decorrido desde a cirurgia:
- Até 48 horas - atelectasia (problema pulmonar).
- Terceiro e quarto dia: pneumonias
- Quinto dia: abcesso (coleção purulenta na área cirúrgica).
Tratamento[editar | editar código-fonte]
Existe certa fobia da febre cercada de mitos tanto para profissionais de saúde quanto para a população em geral de que a febre seja algo que implique rápida ação com algum medicamento, principalmente quando ela envolve crianças. No entanto, existem medidas que podem reduzir a febre de forma natural como banhos e resfriamento do ambiente.[1]
Embora a febre seja uma resposta imunológica própria do organismo contra algum mal, a medicina moderna chegou a desenvolver algumas drogas chamadas de antipiréticos que podem reduzir a febre a níveis tolerados. O antipiréticos mais usados são o paracetamol, a dipirona, o ibuprofeno, cetoprofeno e ácido acetilsalicílico.[1]
Padrões característicos[editar | editar código-fonte]
Algumas doenças apresentam um padrão febril bem característico, chamando a atenção para seu diagnóstico:
- Tuberculose - febre vespertina (todo final de tarde), não muito alta; a febre héctica aparece nos estados avançados de tuberculose pulmonar, que sobe durante a noite e baixa de manhã; é atualmente rara.
- Malária - febre alta por algumas horas e que se repete todo dia ou em dias alternados, dependendo da espécie de Plasmodium que está causando a infecção e de quantas vezes o indivíduo foi contaminado.
- Abcesso: Febre persistente, baixa, com piora à noite.
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ ab c CRFSP. Manejo do tratamento de pacientes com febre. Acesso em 2 de outubro de 2011
- ↑ ab Goodman & Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica. [tradução da 10. ed. original, Carla de Melo Vorsatz. et al] Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2005.
- ↑ ab VERITY, C. M.; BUTLER, N. R.; GOLDING, J. Febrile convulsions in a national cohort followed up from birth. Prevalence and recurrence in the first five years of life. BMJ, London, v. 290, p. 1307-1310, 1985.
- ↑ Nassisi, D; Oishi, ML (January 2012). "Evidence-based guidelines for evaluation and antimicrobial therapy for common emergency department infections". Emergency medicine practice. 14 (1): 1–28; quiz 28–9.
- ↑ Hart, BL (1988). "Biological basis of the behavior of sick animals". Neuroscience and biobehavioral reviews. 12 (2): 123–37. doi:10.1016/S0149-7634(88)80004-6.
- ↑ Craven, R and Hirnle, C. (2006). Fundamentals of nursing: Human health and function. Fourth edition. p. 1044
- ↑ Emedicine. What Are Other Causes of Fever in Adults? http://www.emedicinehealth.com/fever_in_adults/page3_em.htm
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- O que é Febre? Ela é prejudicial? Como se produz a Febre?
- US National Institute of Health factsheet (em Inglês)
- BUPA factsheet (em Inglês)
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