Manguezal, mangue, mangrove ou mangal[1] é um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, zona úmida característica de regiões tropicais e subtropicais. Associado às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa, está sujeito ao regime das marés, sendo dominado por espécies vegetais típicas, às quais se relacionam outros componentes vegetais e animais.
Ao contrário do que acontece em praias arenosas e dunas, a cobertura vegetal do manguezal instala-se em substratos de vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária das marés de água salgada ou, pelo menos, salobra.
O dia do manguezal é no dia 26 de julho.[2]
Índice
[esconder]Características[editar | editar código-fonte]
O solo[editar | editar código-fonte]
O solo do manguezal caracteriza-se por ser úmido, salgado, lodoso, pobre em oxigênio e muito rico em nutrientes. Por possuir grande quantidade de matéria orgânica em decomposição, por vezes apresenta odor característico, mais acentuado se houver poluição. Essa matéria orgânica serve de alimento à base de uma extensa cadeia alimentar, como por exemplo, crustáceos e algumas espécies de peixes. O solo do manguezal serve como habitat para diversas espécies, como caranguejos.
Vegetação[editar | editar código-fonte]
Em virtude do solo salino e da deficiência de oxigênio, nos manguezais predominam os vegetais halófilos, em formações de vegetação litorânea ou em formações lodosas. As suas longas raízes permitem a sustentação das árvores no solo lodoso.
Os manguezais são encontrados ao longo de todo o litoral brasileiro, onde as principais espécies de árvores típicas deste ecossistema são:
- Rhizophora mangle (mangue-vermelho) - próprio de solos lodosos, com raízes aéreas;
- Laguncularia racemosa (mangue-branco) - encontrado em terrenos mais altos, de solo mais firme, associado a formações arenosas;
- Avicennia schaueriana (mangue-preto, canoé)
- Avicennia germinans
- Avicennia nitida
- Conocarpus erectus (mangue-de-botão)
- Clusia fluminensis (abaneiro)
A espécie Laguncularia racemosa merece destaque por ser a única espécie típica de mangue encontrada no Arquipélago de Fernando de Noronha, num único manguezal localizado na Baía do Sueste.
No Indo-Pacífico, as árvores típicas do mangal são a Rhyzofora mucronata (mangal vermelho), a Avicenia marina (mangal branco), a Brughiera gymnorhyza e o Ceriops tagal.
Importância[editar | editar código-fonte]
Os manguezais desempenham um importante papel como exportador de matéria orgânica para os estuários, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. Por essa razão, constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e diversificados do planeta. A sua biodiversidade faz com que essas áreas se constituam em grandes "berçários" naturais, tanto para as espécies típicas desses ambientes, como para animais, aves, peixes, moluscos e crustáceos, que aqui encontram as condições ideais para reprodução, eclosão, criadouro e abrigo, quer tenham valor ecológico ou econômico.
Com relação à pesca, os manguezais produzem mais de 95% do alimento que o homem captura no mar. Por essa razão, a sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno.
Com relação à dinâmica dos solos, a vegetação dos manguezais serve para fixar os solos, impedindo a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a linha de costa.
As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos. Constituem ainda importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas, por exemplo, como aquelas por metais pesados.
A destruição dos manguezais gera grandes prejuízos, inclusive para economia, direta ou indiretamente, uma vez que são perdidas importantes frações ecológicas desempenhadas por esses ecossistemas. Entre os problemas mais observados destacam-se o desmatamento e o aterro de manguezais para dar lugar a portos, estradas, agricultura, carcinicultura estuarina, invasões urbanas e industriais, derramamento de petróleo, lançamento de esgotos, lixo, poluentes industriais, agrotóxicos, assim como a pesca predatória, onde é muito comum a captura do caranguejo-ucá durante a época de reprodução, ou seja, nas "andadas", quando torna-se presa fácil. É preciso conhecer e respeitar os ciclos naturais dos manguezais para que o uso sustentado de seus recursos seja possível.
Utilização sustentável dos manguezais[editar | editar código-fonte]
Muitas atividades podem ser desenvolvidas no manguezal sem lhe causar prejuízos ou danos, entre elas:
- Pesca esportiva, artesanal e de subsistência, desde que se evite a sobrepesca, a pesca de pós-larvas, juvenis e de fêmeas ovadas;
- Utilização da madeira das árvores, desde que se assegure a reflorestação;
- Cultivo de ostras e outros organismos aquáticos;
- Cultivo de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias);
- Criação de abelhas para a produção de mel;
- Desenvolvimento de atividades turísticas, recreativas, educacionais e de pesquisa científica.
Exemplos de utilização sustentável[editar | editar código-fonte]
- No Espírito Santo a produção da panela de barro, típica da região, é um elemento da cultura capixaba. É produzida a partir do barro encontrado nas margens do mangue, conhecido como batinga. Após a panela ser modelada e assada a panela é chicoteada com as raízes das árvores do mangue que liberam o tanino que evita rachaduras na panela. Além da panela de barro, os manguezais capixabas são importantes áreas de coleta de caranguejo, camarão lameirão e siri, inclusive por grupos de amigos que se reúnem no tradicional clube de pesca para celebrar a vida, festejar o pôr do sol e curtir os amigos pescando de jereré, tipo de rede usada na pesca.
- O Manguezal do Itacorubi, na ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, considerado um dos maiores mangues urbanos do mundo, possui passarelas e placas informativas para os seus visitantes. Atualmente essa não é a realidade do local, onde as passarelas encontram-se quebradas, com partes em madeira caídas dentro do próprio mangue e as placas informativas encontram-se pichadas e bastante deterioradas pela ação do tempo.
- Na Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, a caminho do Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, é feita a coleta de berbigões pela população local.
Localização[editar | editar código-fonte]
O ecossistema incide em regiões tropicais e subtropicais, no encontro de rios e mares, sobretudo nas costas do Atlântico e Pacífico. Estima-se que, em todo o planeta, existam cerca de 172 000 km² de manguezais.
No Brasil[editar | editar código-fonte]
Do total de mangues no mundo, cerca de 15%, ou cerca de 26.000 km², distribui-se pelo litoral do Brasil, desde o estado do Amapá até Laguna, em Santa Catarina. Nesse país, o manguezal é protegido por Lei, e qualquer área de incidência é considerada de preservação permanente (APP), segundo o inciso VII do artigo 4º da Lei Federal Brasileira nº 12.651, de 25 de maio de 2012.
Em Pernambuco existem cerca de 270 quilômetros quadrados de manguezais; na Paraíba, cerca de 160 quilômetros quadrados; o Maranhão detém 85% dos manguezais da região norte-nordeste, o que equivale a 500 mil hectares. A ilha de Fernando de Noronha é a possuidora da menor extensão de manguezal no país.
Em Moçambique[editar | editar código-fonte]
Os mangais ocorrem ao longo de toda a costa de Moçambique, com exceção das zonas de dunas costeiras, mas são mais abundantes na região norte, tropical, cobrindo uma área estimada em cerca de 400 mil hectares.[3]
As árvores de mangal aqui existentes (e em todo o Indo-Pacífico) são a Rhyzofora mucronata (mangal vermelho), a Avicenia marina (mangal-branco), a Brughiera gymnorhyza e o Ceriops tagal.
Notas
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 1 079.
- ↑ «Calendário do Meio Ambiente 2017 - HypeVerde». HypeVerde. 3 de janeiro de 2017
- ↑ Centro de Desenvolvimento Sustentável das Zonas Costeiras (Moçambique) - Ecossistemas costeiros
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Lacerda, L. D., ed. (2002). Mangrove Ecosystems: Function and Management. Berlin, Germany: Springer-Verlag, link.
- Lamberti, A. (1969). Contribuição ao conhecimento da ecologia das plantas do manguezal de Itanhaém. Bol. Fac. Fil. Ciênc. Letr. USP, n. 317; Botânica, v. 23, p. 1-227. link, link.
- Lugo, A. E. & Snedaker, S. C. (1974). The ecology of mangroves. Annual review of ecology and systematics 5(1), 39-64.
- Soffiati, A. (2016). Tempo e espaço nos manguezais. Rio de Janeiro: Autografia.
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Ibama
- Ministério do Meio-Ambiente
- Ambiente Brasil
- Manual técnico da vegetação brasileira, IBGE
- Estudio temático de FRA 2005 sobre manglares por Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura|
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