Numismática (do grego clássico νόμισμα - nomisma, através do latim numisma, moeda) é a ciência que tem por objetivo o estudo sob o ponto de vista histórico, artístico e econômico das cédulas, moedas e medalhas, muito embora o termo também seja empregado como sinônimo ao colecionismo desses itens. A numismática engloba ainda outros objetos "monetiformes", ou seja, assemelhados às moedas, como os jetons (geralmente emitidos por corporações para identificar seus membros), moedas particulares (destinadas a circular em círculos restritos, como uma fazenda) ou ainda os pesos monetários (que serviam para conferir os pesos das moedas em circulação). Na atualidade, desenvolveu-se também o conceito de colecionar moedas como forma de investimento, visto que as moedas costumam se valorizar com o passar dos anos e, dessa forma, podem garantir lucro aos “investidores” no momento da revenda. [1]
Índice
[esconder]Ciência numismática[editar | editar código-fonte]
A numismática faz uso de diversas áreas do conhecimento para estudar as moedas, buscando identificá-las e situá-las no tempo histórico. Porém na atualidade a moeda se tornou, também, um documento histórico, sendo utilizada como “fonte” de dados para pesquisas, pois uma moeda pode facilmente fornecer dados sobre o povo que a cunhou, como sua forma de governo, língua, religião, forma como comercializavam, situação da economia, e até mesmo grau de sofisticação dos povos – através da análise do método de cunhagem – e por isso a numismática tem um papel cada vez maior no estudo da história dos povos.
A preocupação principal da numismática é a moeda, enquanto peça cunhada. Cabe ao numismata analisar as moedas por diferentes métodos e buscando nelas diferentes informações. Durante esse processo o numismata fará uso de conhecimentos adquiridos através de outras disciplinas como a história, a cronologia, a metrologia, a simbologia, a epigrafia, a heráldica, a iconografia, a geografia, a economia, noções dos processos de metalurgia e da evolução nas artes, entre outros campos que podem ser abordados.
A numismática clássica divide-se em duas partes distintas:
- a teórica, que estuda a nomenclatura numismática e os métodos de classificação e conservação das moedas.
- a histórica, que estuda o desenvolvimento da moeda nas diferentes partes do mundo ou de uma região específica, promovendo também a classificação de suas emissões.
Nos trabalhos científicos a distinção entre essas duas áreas é frequentemente sutil, já que além de distintas essas partes são complementares.
História da numismática[editar | editar código-fonte]
Desde o Império Romano a aristocracia cultivou o interesse de colecionar moedas, sem no entanto estudá-las. O costume romano compartilhado por imperadores, como Augusto, foi mantido por reis europeus durante a Idade média. A coleção de reis como Luís XIV da França e Maximiliano do Sacro Império possibilitariam o surgimento da numismática durante o Renascimento, graças à vontade dos humanistas em recuperar a cultura greco-romana, e a iniciativa de organizar as coleções reais. Assim a numismática surgiu durante o renascimento e se consolidou como ciência nos séculos seguintes.
Assim temos nomes como o abade Joseph Eckhel que trabalhou na coleção imperial de Viena, capital da Áustria. Temos o colecionador francês Joseph Pellerin, que contribuiu para a coleção real francesa, e temos também um dos nomes mais famosos, Francesco Petrarca, poeta que desenvolveu a numismática na Itália.
O objetivo de Petrarca era conhecer a história de cada povo. Petrarca demonstrou também como a numismática pode se tornar uma paixão contagiosa. Em 1390, coube a ele, indiretamente, a cunhagem de moedas comemorativas pela libertação da cidade de Pádua, pelo visconde Francisco II de Carrara.[2]
Seja pela cultura, pela observância de técnicas ou simplesmente pelo desafio de colecionar, a relação entre cultura e numismática sempre é presente. Mesmo aqueles que colecionam moedas ou cédulas como um simples hobby, sem se dedicar à pesquisa, adquirem uma boa bagagem de cultura geral.
Há uma série de curiosidades que os numismatas cultivam. Por exemplo, a serrilha das moedas surgiu porque era frequente, antes disso, raspar a borda das moedas de metais mais nobres (ouro e prata) para juntar esse mesmo metal em pó, diminuindo o diâmetro da moeda e o seu valor no peso (mas não o valor facial) - na gíria numismática este acto de subtrair metal original á moeda é chamada de cerceio. Outro exemplo, embora não de interesse direto para a numismática, é a quantidade de objectos que já serviram de moeda em diferentes culturas: das conchas e seixos até animais como elefantes ou o couro de outros. Ainda hoje, em vários países do Oriente as moedas são perfuradas para nelas serem enfiados cordões.[3]
Numismática no mundo[editar | editar código-fonte]
Brasil[editar | editar código-fonte]
A numismática desenvolveu-se no Brasil, principalmente a partir do século XIX, seguindo em parte o modelo europeu.
A aristocracia teve papel fundamental para o desenvolvimento da numismática no Brasil, por ser a classe mais instruída e também por ter condições de formar coleções numismáticas, lembrando-se que na época as coleções deviam se formar basicamente de moedas greco-romanas. Temos também a contribuição especial do imperador Dom Pedro II, amante das artes e da história e que frequentemente fazia viagens ao exterior donde trazia “lembranças”.
Com o fim do Império, a maior parte da produção numismática brasileira ficou restrita a museus e a trabalhos realizados por poucos pesquisadores principalmente no eixo das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, quadro que começou a se alterar com a popularização das feiras de antiguidade e com a criação de sociedades numismáticas no país.
Neste contexto, algumas personagens se destacam por sua contribuição à ciência numismática nacional. O personagem mais importante, ainda hoje considerado o verdadeiro criador da nossa numismática é Julius Meili. Sua obra estaria, inicialmente, dividida em quatro tomos, sendo o último dedicado às medalhas brasileiras. Dos três volumes concluídos, o primeiro, As Moedas do Brasil Colônia, foi publicado em 1897. Alguns anos mais tarde surge o catálogo Souza Lobo, engrandecendo a ainda escassa fonte de consulta a respeito da nossa história numária[4].
Com o passar dos anos, cresceu notavelmente o número de numismatas e, consequentemente, os acervos compostos de belos e raros exemplares. Foi na década de 1940 que começaram a surgir os primeiros trabalhos do numismata, estudioso e pesquisador, Kurt Prober, com destaque para o seu Manual de Numismática de 1944 e o Catálogo de Moedas Brasileiras de Prata de 1947.
Apesar dos esforços a numismática no Brasil não é tão bem difundida como em outros países. Ainda assim, possui vários grupos de colecionadores bem organizados, cursos e literatura sobre sua evolução no país.
No calendário oficial, o dia 1º de Dezembro é marcado como o "Dia do Numismata".[5] Essa data foi escolhida por reunião da Sociedade Numismática Brasileira por ser o dia, no calendário católico, de Santo Elói (ou Elígio), padroeiro dos numismatas.
A obra "Sylloge Nummorum Graecorum Brasil/SNG", de autoria de Marici Martins Magalhães (UFRJ), apresenta a coleção de moedas gregas e provinciais romanas existente no acervo do Museu Histórico Nacional. Além das moedas gregas propriamente ditas, a SNG inclui as moedas produzidas por todas as antigas civilizações sob a influência Greco-Romana, abrangendo geograficamente desde a costa atlântica da Europa até o noroeste da Índia, e cronologicamente desde as primeiras cunhagens Gregas em aproximadamente 600 a. C até o final do III século d.C.[6]
- Associações Numismáticas Brasileiras
Associação | Estado | Ano de Fundação |
---|---|---|
Sociedade Numismática Brasileira | São Paulo | 1924 |
Associação Filatélica e Numismática de Santa Catarina | Santa Catarina | 1938 |
Organização Numismática de Joinville | 2014 | |
Associação Brasileira de Numismática | Rio de Janeiro | 1951 |
Clube Filatélico e Numismático de Taquara | Rio Grande do Sul | 1954 |
Sociedade Numismática Paranaense | Paraná | 1991 |
Associação Numismática e Coleções do Paraná | 2014 | |
Associação Filatélica e Numismática de Brasília | Distrito Federal | 1995 |
Museu Herculano Pires | São Paulo | 2000 |
Portugal[editar | editar código-fonte]
Em Portugal, a numismática teve um percurso evolutivo considerável no século XIX, através do contributo do Dr Augusto Carlos Teixeira de Aragão, considerado por muitos o pai desta ciência neste país, e que dedicou vários anos da sua vida a estudar, coleccionar, catalogar e organizar exposições da colecção Real Portuguesa ao serviço S. M. o rei D. Luis I de Portugal.
Como referências da sua obra notável podem-se citar as publicações sobre a Description des Monnaies, Médailles et Autres Objects D'Art Concernant L'Histoire Portugaise tendo esta obra em conjunto com a colecção, acompanhado a delegação Portuguesa da época à Exposição Universal de Paris em 1867, tendo-lhe sido atribuída a medalha de ouro da exposição; a Descrição geral e histórica das moedas cunhadas em nome dos reis, regentes e governadores de Portugal em 3 Tomos; e a Descripção Histórica das Moedas Romanas existentes no Gabinete Numismático de sua Magestade EL-Rei O Senhor Dom Luiz I.
Leitura adicional[editar | editar código-fonte]
- Xavier, Hugo. O "Museu de Antiguidades" da Ajuda: NUMISMÁTICA E OURIVESARIA DAS COLECÇÕES REAIS AO TEMPO DE D. LUIS I. Instituto de História da Arte FCSH/UNL, 2011.
Referências
- ↑ Vikram Barhat (19 de abril de 2016). «O curioso - e lucrativo - mundo dos colecionadores de dinheiro». BBC Brasil. Consultado em 25 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 26 de abril de 2016
- ↑ Numismática
- ↑ O que é Numismática?
- ↑ Maldondo, Rodrigo (2015). Moedas Brasileiras Catálogo Oficial. [S.l.: s.n.] ISBN 978-88-906933-3-5
- ↑ 1 de Dezembro - Dia do Numismata
- ↑ «Museu Histórico Nacional». www.museuhistoriconacional.com.br. Consultado em 22 de agosto de 2016
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