São Jorge (275 - 23 de abril de 303) foi, de acordo com a tradição, um soldado romano no exército do imperador Diocleciano, venerado como mártir cristão. Nahagiografia, São Jorge é um dos santos mais venerados no catolicismo (tanto na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa como também na Comunhão Anglicana). É imortalizado na lenda em que mata o dragão. É também um dos Catorze santos auxiliares.
Considerado como um dos mais proeminentes santos militares, a memória de São Jorge é celebrada nos dias 23 de abril e 3 de novembro. Nestas datas, por toda a parte, comemora-se a reconstrução da igreja que lhe é dedicada, em Lida (Israel), na qual se encontram suas relíquias. A igreja foi erguida a mando do imperador romano Constantino I.
São Jorge é o santo padroeiro em diversas partes do mundo tais como: (países) Inglaterra, Portugal (santo secundário), Geórgia, Catalunha, Lituânia, Sérvia,Montenegro, Etiópia, e (cidades) Londres, Barcelona, Génova, Régio da Calábria, Ferrara, Friburgo em Brisgóvia, Moscovo/Moscou e Beirute.
Há uma tradição que aponta o ano 303 como ano da sua morte. Apesar de sua história se basear em documentos lendários e apócrifos (decreto gelasiano do século VI), a devoção a São Jorge se espalhou por todo o mundo.
Índice
[esconder]História[editar | editar código-fonte]
Historiadores têm debatido os detalhes exatos do nascimento de São Jorge por séculos, apesar da data de sua morte ser sujeita a pouco questionamento.1 2 AEnciclopédia Católica toma a posição de que não há base para duvidar da existência histórica de São Jorge, mas põe pouca convicção nas histórias fantásticas sobre ele.3
De acordo com as lendas, Jorge teria nascido na antiga Capadócia, região do centro da Anatólia que, atualmente, faz parte da República da Turquia. Ainda criança, mudou-se para a Palestina com sua mãe após seu pai morrer em batalha. Sua mãe, ela própria originária da Palestina, Lida, possuía muitos bens e o educou com esmero. Ao atingir a adolescência, Jorge entrou para a carreira das armas, por ser a que mais satisfazia à sua natural índole combativa. Logo foi promovido a capitão doexército romano devido a sua dedicação e habilidade — qualidades que levaram o imperador a lhe conferir o título de conde da província da Capadócia. Aos 23 anos passou a residir na corte imperial em Nicomédia, exercendo a função de Tribuno Militar.
Nesse tempo sua mãe faleceu e ele, tomando grande parte nas riquezas que lhe ficaram, foi-se para a corte do Imperador Diocleciano.
Em 302, Diocleciano (influenciado por Galério) publicou um édito que mandava prender todo soldado romano cristão e que todos os outros deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos. Jorge foi ao encontro do imperador para objetar, e perante todos declarou-se cristão. Não querendo perder um de seus melhores tribunos, o imperador tentou dissuadi-lo oferecendo-lhe terras, dinheiro e escravos. Como Jorge mantinha-se fiel ao cristianismo, o imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar aos deuses romanos. Todavia, Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio, aos poucos, ganhado notoriedade e muitos romanos, tomado as dores daquele jovem soldado, inclusive a mulher do imperador, que se converteu ao cristianismo. Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, em Nicomédia (Ásia Menor).
Os restos mortais de São Jorge foram transportados para Lida (Antiga Dióspolis), cidade em que crescera com sua mãe. Lá ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristãoConstantino mandou erguer suntuoso oratório aberto aos fiéis, para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente.
Pelo século V, já havia cinco igrejas em Constantinopla dedicadas a São Jorge. Só no Egito, nos primeiros séculos após sua morte, construíram-se quatro igrejas e quarenta conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, no Império Bizantino, no Estreito de Bósforo na Grécia, São Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica.
Disseminação da devoção a São Jorge[editar | editar código-fonte]
Na Itália, era padroeiro da cidade de Gênova. Frederico III da Alemanha dedicou a ele uma Ordem Militar. Desde Dom Nuno Álvares Pereira, o santo é reconhecido como padroeiro de Portugal e do Exército. Na França, Gregório de Tours era conhecido por sua devoção ao santo cavaleiro; o Rei Clóvis dedicou-lhe um mosteiro, e sua esposa, Santa Clotilde, mandou erguer várias igrejas e conventos em sua honra. A Inglaterra foi o país ocidental onde a devoção ao santo teve papel mais relevante.
O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a Ordem da Jarreteira, fundada por ele em 1330. Por considerá-lo o protótipo dos cavaleiros medievais, o rei inglêsRicardo I, comandante de uma das primeiras Cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam reconquistar a Terra Santa dos muçulmanos. Noséculo XIII, a Inglaterra já celebrava o dia dedicado ao santo e, em 1348, criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como padroeiro do país, imitando os gregos, que também trazem a cruz de São Jorge na sua bandeira.
Ainda durante a Grande Guerra, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos enfermeiros militares e às irmãs de caridade que se sacrificaram ao tomar conta dos feridos de guerra.
As artes, também, divulgaram amplamente a imagem do santo. Em Paris, no Museu do Louvre, há dois quadros famosos de Rafaelintitulados São Jorge e o dragão. Na Itália, existem diversos quadros célebres, como um de autoria de Donatello.
A mais conhecida imagem brasileira de São Jorge seria, possivelmente, de autoria de Martinelli.4
Padroados[editar | editar código-fonte]
Inglaterra[editar | editar código-fonte]
Não há consenso, porém, a respeito da maneira como teria se tornado padroeiro da Inglaterra. Seu nome era conhecido pelos ingleses eirlandeses muito antes da conquista normanda, o que leva a crer que os soldados que retornavam das cruzadas influíram bastante na disseminação de sua popularidade. Acredita-se que o santo tenha sido escolhido o padroeiro do reino quando o rei Eduardo III fundou aOrdem da Jarreteira, também conhecida como Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em 1348. De acordo com a história da Ordem da Jarreteira, Rei Artur, no século VI,colocou a imagem de São Jorge em suas bandeiras.5 Em 1415, a data de sua comemoração tornou-se um dos feriados mais importantes do país.
Hoje em dia na Inglaterra, todavia, a festa de São Jorge comemorada todo dia 23 de abril tem tido menos popularidade ao longo das últimas décadas. Algumas rádios locais, como a BBC já chegaram a promover enquetes perguntando qual seria, de acordo com a opinião pública, o orago dos ingleses, e eis que o eleito foi Santo Alba. Muitos fatores contribuíram a isso. Primeiramente por ter sido substituído, segundo bula do Papa Leão XIII de 2 de junho de 1893, por São Pedro como padroeiro da Inglaterra — recomendação que perdura até hoje.
Posteriormente, pelas reformas do Papa Paulo VI, São Jorge foi rebaixado a santo menor de terceira categoria (segundo hierarquia católica), cujo culto seria opcional nos calendários locais e não mais em caráter universal. No entanto, a reabilitação do santo como figura de primeira instância, e arcanjo, lembrando a figura do próprio Jesus Cristo, pelo Papa João Paulo II em 2000, conferiu nova relevância a São Jorge. Atualmente, haja vista a grande popularidade e apelo turístico de festas como a escocesa St. Andrew's Day, a irlandesa St. Patrick's Day e mesmo a galesa St. Dave's Day, têm-se formado grande iniciativa de setores nacionalistas para que o St. George's Day volte a gozar da mesma popularidade entre os ingleses como antigamente.
Portugal[editar | editar código-fonte]
Pensa-se que os Cruzados ingleses que ajudaram o Rei Dom Afonso Henriques a conquistar Lisboa, em 1147 terão sido os primeiros a trazer a devoção a São Jorge para Portugal. No entanto, só no reinado de Dom Afonso IV de Portugal que o uso de "São Jorge!" como grito de batalha se tornou regra, substituindo o anterior "Sant'Iago!".
O Santo Dom Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, considerava São Jorge o responsável pela vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota e aí está a Ermida de São Jorge a testemunhar esse facto. O Rei Dom João I de Portugal era também um devoto do Santo, e foi no seu reinado que São Jorge substituiu Santiago maior como padroeiro de Portugal. Em 1387, ordenou que a sua imagem a cavalo fosse transportada na procissão do Corpus Christi.
Catalunha[editar | editar código-fonte]
A presença documental da devoção a São Jorge em terras catalãs remonta ao século VIII: documentos da época falam de um sacerdote de Tarragona chamado Jorge que fugiu para a Itália. Já no século X, um bispo de Vic tinha o nome de Jorge, e no século XI o abade Oliba consagrou um altar dedicado ao santo no mosteiro de Ripoll. Encontram-se exemplos do culto a São Jorge dessa época, na consagração de capelas, altares e igrejas em diversos pontos da Catalunha. Os reis catalães mostraram a sua devoção a São Jorge: Tiago I de Catalunha explica em suas crónica que foi visto o santo ajudando os catalães na conquista da cidade de Mallorca; Pedro o Cerimonioso fundou uma ordem de cavalaria sob a sua proteção; Afonso, o Magnânimo dedicou-lhe capelas nos reinos da Sardenha e Nápoles.
Os reis e a Generalidade da Catalunha impulsionaram a celebração da festa de São Jorge por todas as regiões catalãs. Em Valência, em 1343, já era uma festa popular; em 1407, Mallorca celebrava-a publicamente. Em 1436, a Generalidade da Catalunha propôs, nas cortes reunidas em Montsó, a celebração oficial e obrigatória de São Jorge; em 1456, as cortes reunidas na Catedral de Barcelona ditaram uma constituição que ordenava a festa, inclusa no código das Constituições da Catalunha. As remodelações do Palácio da Generalidade (sede do governo catalão) feitas durante o século XV são a prova mais clara da devoção impulsionada por esse órgão público, ao colocar um medalhão do santo na fachada gótica e ao construir no interior a capela de São Jorge.
Brasil[editar | editar código-fonte]
A influência de São Jorge na cultura portuguesa acompanhou a fundação do Brasil pelos portugueses.
Este santo é o padroeiro extraoficialmente, da cidade do Rio de Janeiro (título oficialmente atribuído a São Sebastião) e da cidade de São Jorge dos Ilhéus, além de ser padroeiro dos escoteiros, e da Cavalaria doExército Brasileiro.
São Jorge também é venerado em diversos cultos das religiões afro-brasileiras, onde é sincretizado na forma de Ogum.
Todavia, a ligação de São Jorge com a lua é algo puramente brasileiro, com forte influência da cultura africana, e em nada relacionado com o santo europeu. Em Salvador, Bahia, o santo foi sincretizado a Oxossi.6Na religião da Umbanda, o santo é associado a Ogum. A tradição diz que as manchas apresentadas pela lua representam o milagroso santo, seu cavalo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda.7
Lenda do dragão e da princesa[editar | editar código-fonte]
Baladas medievais contam8 que Jorge era filho de Lorde Albert de Coventry. Sua mãe morreu ao dá-lo à luz e o recém nascido Jorge foi roubado pela Dama do Bosque para que pudesse, mais tarde, fazer proezas com suas armas. O corpo de Jorge possuía três marcas: um dragão em seu peito, uma jarreira em volta de uma das pernas e uma cruz vermelho-sangue em seu braço. Ao crescer e adquirir a idade adulta, ele primeiro lutou contra os sarracenos e, depois de viajar durante muitos meses por terra e mar, foi para Sylén, uma cidade da Líbia.
Nesta cidade, Jorge encontrou um pobre eremita que lhe disse que toda a cidade estava em sofrimento, pois lá existia um enorme dragão cujo hálito venenoso podia matar toda uma cidade, e cuja pele não poderia ser perfurada nem por lança e nem por espada. O eremita lhe disse que todos os dias o dragão exigia o sacrifício de uma bela donzela e que todas as meninas da cidade haviam sido mortas, só restando a filha do rei, Sabra, que seria sacrificada no dia seguinte ou dada em casamento ao campeão que matasse o dragão.
Ao ouvir a história, Jorge ficou determinado em salvar a princesa. Ele passou a noite na cabana do eremita e quando amanheceu partiu para o vale onde o dragão morava. Ao chegar lá, viu um pequeno cortejo de mulheres lideradas por uma bela moça vestindo trajes de pura seda árabe. Era a princesa, que estava sendo conduzida pelas mulheres para o local do sacrifício. São Jorge se colocou na frente das mulheres com seu cavalo e, com bravas palavras, convenceu a princesa a voltar para casa.
O dragão, ao ver Jorge, sai de sua caverna, rosnando tão alto quanto o som de trovões. Mas Jorge não sente medo e enterra sua lança na garganta do monstro, matando-o. Como o rei do Marrocos e do Egito não queria ver sua filha casada com um cristão, envia São Jorge para a Pérsia e ordena que seus homens o matem. Jorge se livra do perigo e leva Sabra para a Inglaterra, onde se casa e vive feliz com ela até o dia de sua morte, na cidade de Coventry.
De acordo com a outra versão9 , Jorge acampou com sua armada romana próximo a Salone, na Líbia. Lá existia um gigantesco crocodilo alado que estava devorando os habitantes da cidade, que buscaram refúgio nas muralhas desta. Ninguém podia entrar ou sair da cidade, pois o enorme crocodilo alado se posicionava em frente a estas. O hálito da criatura era tão venenoso que pessoas próximas podiam morrer envenenadas. Com o intuito de manter a besta longe da cidade, a cada dia ovelhas eram oferecidas à fera até estas terminarem e logo crianças passaram a ser sacrificadas.
O sacrifício caiu então sobre a filha do rei, Sabra, uma menina de catorze anos. Vestida como se fosse para o seu próprio casamento, a menina deixou a muralha da cidade e ficou à espera da criatura. Jorge, o tribuno, ao ficar sabendo da história, decidiu pôr fim ao episódio, montou em seu cavalo branco e foi até o reino resgatá-la, mas antes fez o rei jurar que se a trouxesse de volta, ele e todos os seus súbditos se converteriam ao cristianismo. Após tal juramento, Jorge partiu atrás da princesa e do "dragão". Ao encontrar a fera, Jorge a atinge com sua lança, mas esta se despedaça ao ir de encontro à pele do monstro e, com o impacto, São Jorge cai de seu cavalo. Ao cair, ele rola o seu corpo, até uma árvore de laranjeira, onde fica protegido por ela do veneno do dragão até recuperar suas forças.
Ao ficar pronto para lutar novamente, Jorge acerta a cabeça do dragão com sua poderosa espada Ascalon. O dragão derrama então o veneno sobre ele, dividindo sua armadura em dois. Uma vez mais, Jorge busca a proteção da laranjeira e em seguida, crava sua espada sob a asa do dragão, onde não havia escamas, de modo que a besta cai muito ferida aos seus pés. Jorge amarra uma corda no pescoço da fera e a arrasta para a cidade, trazendo a princesa consigo. A princesa, conduzindo o dragão como um cordeiro, volta para a segurança das muralhas da cidade. Lá, Jorge corta a cabeça da fera na frente de todos e as pessoas de toda cidade se tornam cristãs.
O dragão (o demónio) simbolizaria a idolatria destruída com as armas da Fé. Já a donzela que o santo defendeu representaria a província da qual ele extirpou as heresias.
São Jorge na cultura popular[editar | editar código-fonte]
- Dia 23 de abril, para algumas das religiões afro-brasileiras, é o dia em que se fazem homenagens ao santo.
- São Jorge também é padroeiro de um dos maiores clubes do futebol brasileiro,o Sport Club Corinthians Paulista.
- Jorge de Capadócia é uma música de Jorge Ben, interpretada também por Caetano Veloso, Fernanda Abreu e pelos Racionais MC's.
- Na música "Alma de guerreiro", de Seu Jorge, São Jorge é citado. A música é tema de abertura da telenovela Salve Jorge, de Glória Perez, que tem como tema São Jorge.
- Existe um romance sobre São Jorge criado pelo escritor italiano Tito Casini chamado Perseguidores e Mártires (no Brasil, editado pelas Edições Paulinas, por volta de 1960). No livro, São Jorge é retratado como o verdadeiro paladino da Capadócia que, apesar de ser perseguido pelo tirano imperador Diocleciano, manteve-se fiel ao Império Romano, mas também a Cristo e se recusou a contrair alianças com o genro do imperador, Galério, que pretendia ter o apoio do conde da Capadócia para liderar um golpe contra Diocleciano, o que o santo militar recusou terminantemente.
- A banda inglesa Iron Maiden fala de São Jorge na música "Flash of the Blade", no álbum Powerslave.
- A banda brasileira Angra utilizou a imagem do santo na capa do álbum Temple of Shadows.
- Zeca Pagodinho gravou recentemente em seu álbum "Uma Prova de Amor" a música "Ogum" com uma letra com um forte apelo ao sincretismo, a oração de São Jorge é feita no trecho final da música pelo cantor e compositor Jorge Ben.
- Moacyr Luz e Aldir Blanc fizeram em homenagem ao santo a música "Medalha de São Jorge", que foi gravada pela Cantora Maria Bethânia em 1992.
- São Jorge é o Santo Padroeiro da Cavalaria do Exército Brasileiro e dos escoteiros.
- Na série animada Ben 10: Supremacia Alienígena, São Jorge aparece como Sir George, o fundador da facção secreta dos Cavaleiros Eternos. O dragão derrotado por ele também aparece como o alienígena Diagon.
Referências
- ↑ Mills, Charles. The History of Chivalry. [S.l.]: Longman, Rees, 2012. p. 9. ISBN 978-1-428642-15-7.
- ↑ Spenser, Edmund. Fierce Wars and Faithful Loves. [S.l.]: Cannon Press, 1998. ISBN 978-1-885767-39-4 página=196.
- ↑ "St. George". Enciclopédia Católica. (1913). Nova Iorque: Robert Appleton Company.
- ↑ Sobre imagens de São Jorge
- ↑ Ashmole, Elias, The History of the most Noble Order of the Garter: And the several Orders of Knighthood extant in Europe. A Bell; E.Curll; J.Pemberton; A Collins; W.Taylor; J.Baker, London 1715
- ↑ Fundação Cultural do Estado da Bahia, Cultos Afro, Orixás, Festa para Oxossi, o Rei de Ketu [em linha]
- ↑ Santos, Georgina Silva dos.Ofício e sangue: a Irmandade de São Jorge e a Inquisição na Lisboa moderna.Lisboa: Colibri; Portimão: Instituto de Cultura Ibero-Atlântica, 2005
- ↑ Bishop Percy's folio manuscript: loose and humorous songs ed. Frederick J. Furnivall. London, 1868
- ↑ The Golden Legend or Lives of the Saints. Compiled by Jacobus de Voragine, Archbishop of Genoa, 1275. First Edition Published 1470. Englished by William Caxton, First Edition 1483, Edited by F.S. Ellis, Temple Classics, 1900 (Reprinted 1922, 1931)
Ver também[editar | editar código-fonte]
Estamos na data em que se celebra a festa litúrgica de um dos santos mais populares do Brasil. Por isso, vamos dedicar esse post para falarmos de São Jorge. Aêêêêê!!!!!
A origem do nome
São Jorge nasceu no século III, na Capadócia – atual Turquia – de origem romana. Seu nome original do santo é Georgius. Jorge vem de geos (terra) e orge (cultivar) que significa, literalmente, cultivando a terra. Outras origens de seu nome podem ser:
- a junção dos termos gerar (“sagrado”) e gyon (areia), o que nos dá “Areia Sagrada”;
- o termo gyon pode ainda assumir o significado de “luta”, o que mudaria o significado anterior para “Lutador Sagrado”;
- por fim, o nome Jorge viria da junção de outros três termos gero, gír e ys (Gerogírys) onde gero = “peregrino”, gír = “cortado” e ys = “conselheiro”, pois Jorge foi peregrino por seu desprezo ao mundo, foi cortado em seu martírio foi e conselheiro na prédica do Reino de Deus.
A vida de São Jorge
O Concílio de Nicéia considerou a legenda de São Jorge apócrifa, pois vários fatos relatados são discrepantes e impossíveis de serem confirmados como verídicos. Assim nos relata Jacoppo em sua Legenda Áurea e, de fato, não há muito como mudar essa situação, em virtude da carência de fontes.
Mas o importante é saber que São Jorge realmente existiu e foi um grande exemplo de vida cristã, muito embora não seja mais possível resconstruir todos os seus passos sobre a terra, como podemos fazer com certa facilidade com outros grandes santos antigos, como São Cipriano e Santo Agostinho. Que falta fazia um Power Point no século III, não é, meus amigos?
São Jorge era um tribuno romano. As fontes antigas dizem que ele teria sido martirizado na cidade persa de Diáspolis, chamada anteriormente de Lida, perto de outra cidade persa chamada Jope. Essa é a versão do calendário de São Beda (em breve, aqui nO Catequista, mais detalhes sobre a vida desse outro grande santo). Outras versões dizem que seu martírio ocorreu sob os imperadores Dioclesiano (sem a participação dele) e Maximiano. Outros dizem ainda que teria sido sob o Governador Daciano, nos tempos de Dioclesiano e Maximiano.
A lenda do dragão
Essa é a parte que o povo gosta. Foi certa vez, em Silena, cidade da província romana da Líbia, que um dragão chamado Kadafi …não, não, desculpem essa é uma outra história. Mas vamos continuar na Líbia. Às margens de um lago grande como um mar escondia-se uma enorme e pestilento dragão, que aterrorizava a população local.
Para impedí-lo de procurar alimentos na cidade, os moradores ofereciam em holocausto à fera um tributo de duas ovelhas por dia. Mas em pouco tempo passou a faltar ovelhas e, para compensar o bicho, que deveria ser chamado de Imposto de Renda, passaram a oferecer uma ovelha e um humano – um rapaz ou uma moça. Só que, depois de algum tempo, também passou a faltar gente, e o sorteio designou a filha do rei para ser entregue ao monstro.
Desesperado o rei implorou ao povo que não oferecesse ao dragão sua filha, só que o povo manteve-se irredutível. O rei apenas conseguiu um prazo de oito dias para prantear sua amada filha. Depois desse período, nada podendo fazer, contra a turba enlouquecida, o rei entregou sua filha ao seu destino e ela dirigiu-se ao lago onde habitava a fera.
Um certo Jorge passava casualmente pelo local e viu a jovem princesa chorando às margens do lago. Ao longe, a galera, como não podia deixar de ser, esperava para ver o bicho vir cobrar seu tributo (devia ter gente vendendo pipoca e cachorro-quente). A jovem avisou ao Santo que ele deveria sair correndo o mais rápido possível dali. São Jorge insistiu para que ela explicasse o quê estava acontecendo, enquando isso, o monstro surgiu, vindo de dentro do lago. O Guerreiro montou em seu cavalo, fez o sinal da cruz e, recomendando-se a Deus, atingiu o monstro na cabeça com força, fazendo-o cair no chão.
Em seguida, Jorge mandou que a princesa colocasse seu cinto no pescoço do dragão, sem medo. Depois disso, o bicho começo a segui-la como segue um cão manso, seu cinto servindo de coleira guia. Ambos então foram para a cidade, e o povo entrou em pânico ao ver o cavaleiro, a dama e o dragão. São Jorge tratou de acalmá-los, exortando as pessoas a aceitarem o Salvador através do batismo. A cidade toda o fez. Fato consumado, em seguida, São Jorge matou o dragão. Sem contar mulheres e crianças, 20 mil homens foram batizados.
Em homenagem a Maria e ao beato Jorge, o Rei mandou construir na cidade uma enorme igreja, sob cujo altar surgiu uma fonte de água curativa para todos os enfermos. O rei ofereceu a São Jorge muito dinheiro, mas o santo não aceitou e mandou que o rei o distribuisse aos pobres. Ao rei, Jorge deixou ainda quatro conselhos: cuidas das igrejas, honrar os padres, ouvir com atenção o ofício divino e nunca esquecer os pobres. Em seguida, beijou o rei e foi embora.
As perseguições romanas
O governador Daciano, nos tempos de Dioclesiano, em apenas um mês, martirizou 17 mil cristãos (falem mesmo da inquisição, papagaios de pirata!). Esse massacre seria muito maior se não tivesse havido muitos abjurações, em que cristãos amendrontados sacrificaram aos ídolos pagãos, como era a vontade do Imperador.
São Jorge ficou consternado com o que via. Distribuiu tudo que possuía, trocou suas vestes de tribuno pelas humildes vestes dos cristãos e chamou os deuses romanos de demônios, o que enfureceu o Governador puxa-saco. Jorge identificou-se a Daciano como vindo de nobre estirpe da Capadócia, que, com a ajuda de Deus, havia submetido a Palestina, mas que deixaria tudo para seguir ao Deus do Cristo.
Daciano mostrou toda a sua “civilidade” romana ao ouvir a declaração de Jorge. Mandou-o suspender no potro (um instrumento de tortura romano que recebeu esse nome por ser parecido com um cavalo) e que seus membro fossem dilacerados com garfos de ferro. Para complementar, mandou ainda que Jorge fosse queimado com tochas e suas feridas salgadas. Na noite seguinte, o Senhor apareceu a São Jorge e o confortou de forma tal que os tormentos pelos quais passou pareciam não ter acontecido, pois mesmo alquebrado, Jorge permanecia fiel e sereno.
Um mágico foi convocado por Daciano, que julgava que os cristãos, na verdade, eram embusteiros, como ele o era (mais ou menos um ancestral debilóide de Richard Dawkins, que é outro debilóide). O mágico prometeu ao governador que dobraria São Jorge ou perderia sua cabeça (literalmente). Envenenou vinho e deu para São Jorge beber. Fazendo o sinal da cruz sobre a bebida, o santo a tomou e nada lhe aconteceu. O mago se lançou aos pés de Jorge e pediu para tornar-se cristão. Foi decapitado em seguida.
A “farra” de Daciano continuou. Jorge foi colocado na roda de espadas, que quebrou e nada lhe ocorreu. Foi mergulhado em um caldeirão de chumbo derretido e retirado de lá como quem sai de um banho quente.
Daciano viu que, pela porrada, não dava. Então, tentou comprar Jorge e, com mansidão, procurou convertê-lo ao paganismo. Fingindo entrar no seu jogo, Jorge concordou. A cidade então compareceu ao templo para ver o impenitente abjurar. São Jorge então caiu de joelhos e pediu a Deus que castigasse os pagãos. O templo, seus deuses e seus altares foram destruídos por uma chuva de enxofre e os sacerdotes quedaram mortos.
A rainha Alexandrina, esposa de Daciano, vendo o sofrimento de Jorge e as crueldades de seu marido, resolveu abraçar a cruz, o que lhe custou a vida. Seu marido mandou pendurá-la pelos cabelos e surrá-la duramente. Durante esse martírio, temeu Alexandrina o fato de não ter sido banhada nas águas batismais. Jorge acalmou-lhe o coração e disse-lhe que seu sangue mártir seria seu batismo. E assim foi.
A Morte de São Jorge
No dia seguinte à morte de Alexandrina, Jorge foi condenado pelo governador a ser arrastado por toda a cidade e, ao final, ser decapitado.
Ele orou a Deus pedindo que todos aqueles que implorassem pedindo a assistência divina, por onde ele passasse teriam seus pedidos atendidos. A voz divina concedeu o seu pedido. Terminada a horrenda tortura, São Jorge teve a cabeça decapitada. Era o ano de Nosso Senhor de 247.
Daciano não ficou sem castigo: nesse mesmo dia, o fogo do céu caiu sobre ele e sobre sua guarda pessoal, matando-os instantaneamente.
São Jorge Guerreiro, rogai por nós!
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RIO — Dizem que ele resistiu a venenos, ressuscitou 300 mortos, derrotou um dragão. Dizem. Porque a existência de São Jorge é, de longe, uma das mais questionadas do cristianismo. Os documentos que comprovariam sua trajetória foram destruídos ao longo de dois séculos pela própria Igreja, temorosa de que a fama do mártir pudesse obscurecer até a de Jesus. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, a tentativa de apagar a biografia do santo teve efeito inverso — em vez de retirá-lo dos altares, fortaleceu a sua devoção. A imagem do guerreiro sobre um cavalo conquistou de cruzados ingleses a escravos africanos, e o reconhecimento final veio nos últimos 15 anos, quando ele ganhou definitivamente o crédito de “santo de máxima importância”.
— São Jorge assumiu uma aura importante por ter resistido à tentativa da Igreja de eliminá-lo. Isso surtiu um efeito contrário: estimulou o seu culto — conta Ivan Manoel, professor do Departamento de História da Unesp em Franca. — A figura de um guerreiro contra o dragão é a síntese da batalha do Bem contra o Mal. Ele é o santo das dificuldades, o que todo mundo sofre de alguma forma.
No século passado, aliás, até o status de santo, obtido em 494, foi ameaçado.
— Como não havia uma comprovação científica dos milagres de São Jorge, em 1960 sua celebração foi redefinida pelo Papa João XXIII como apenas uma comemoração — destaca Malga di Paula, autora de “Meu São Jorge da Capadócia” (editora Caras), que foi à Turquia 25 vezes para resgatar as histórias do santo. — Nove anos depois, Paulo VI afirmou que o dia 23 de abril seria apenas de memória facultativa, alegando que a existência de São Jorge não era claramente comprovada. Foi só em 2000, com João Paulo II, que ele recuperou o status de figura de “máxima importância” na Igreja.
RESISTÊNCIA AO PAGANISMO
Os mistérios sobre os rumos de São Jorge começam no berço. A versão mais aceita é a de que ele nasceu no ano 280, na Capadócia, um refúgio cristão na atual Turquia. Mudou-se com a mãe para a Palestina na adolescência e se alistou no Exército romano. Na volta de uma guerra no Egito, questionou a perseguição aos cristãos comandada pelo coimperador Galério, que queria forçar os militares a se converter ao paganismo. Foi preso e torturado. Passou por uma roda em que os músculos são esticados ao máximo, chicoteado e, depois, teve as feridas queimadas. Terminou degolado no dia 23 de abril de 303. Sua tumba está até hoje em uma igreja na cidade de Lod, em Israel.
VEJA TAMBÉM
Até perder a cabeça, porém, o santo teria passado por outras provações — ao menos é o que dizem as lendas.
— Entre cada tortura, o imperador lhe perguntava se ele renunciava à sua religião. São Jorge não cedia e, diante de sua perseverança, muita gente se converteu ao cristianismo — destaca Marília Lamas, autora do livro “São Jorge: a saga do santo guerreiro” (editora Inspira), que será lançado no dia 15. Até o feiticeiro que tentou envenená-lo mudou de religião.
Diversos documentos sobre o santo começaram a surgir a partir do século VI. No entanto, em 680, um concílio em Constantinopla avaliou que parte das histórias sobre os mártires eram apócrifas, e que estas narrativas poderiam levar os fiéis à criação de cultos e seitas. Muitas mensagens foram destruídas, inclusive possíveis relatos sobre a origem de São Jorge.
— As histórias eram recheadas de fábulas. Algumas diziam que São Jorge ressuscitou 300 mortos. Ele parecia mais grandioso do que Jesus — diz Malga.
Ainda assim, no século XI, surgiu mais uma lenda sobre São Jorge.
— Ele teria salvado a filha de um rei de ser devorada por um dragão que vivia dentro de um lago na cidade de Selem, na Líbia. — assinala Marília. — O cavaleiro conseguiu domar a fera e a levou para o povo assustado. Disse que a mataria se todos se convertessem ao cristianismo. Naquele dia, todos foram batizados. A história foi incluída 200 anos depois na “Legenda áurea”, uma coletânea de biografias de santos, que até hoje é uma referência no estudo da religião. Por muitos anos, ela foi mais vendida do que a própria Bíblia.
Além do dragão, São Jorge teria socorrido os cavaleiros da Primeira Cruzada, em 1098, em uma batalha contra os muçulmanos em Antioquia (situada na atual Turquia). Em 1190, na Terceira Cruzada, o rei Ricardo Coração de Leão nomeou o santo como protetor de uma das expedições e desenhou uma cruz vermelha no uniforme dos militares, “a cruz de São Jorge”, que hoje está presente na bandeira da Inglaterra. Do território britânico, o santo se espalhou para o resto da Europa, inclusive Portugal, onde “São Jorge!”, tornou-se um grito de batalha no século XIV.
UM DISFARCE PARA OGUM
E aí foi a vez do Brasil. Aqui, São Jorge chega como o “santo estatal”, imposto pelos conquistadores aos índios e escravos africanos. Mas os negros logo deram um jeito para que a umbanda e o candomblé resistissem na colônia onde o catolicismo era a religião obrigatória.
— Para sobreviver no Brasil colonizado pelo branco europeu, o candomblé teve de se adaptar como uma religião secundária — explica Marília. — Para não serem descobertos e reprimidos pelos senhores, os escravos, em seus rituais religiosos, fingiam adorar um santo da Igreja, mas, na verdade, estavam cultuando o orixá correspondente àquele santo. São Jorge é Ogum, o orixá da guerra, do combate, do ferro e da metalurgia.
Para Ivan Manoel, a nova identidade do santo foi fundamental para consolidá-lo como um dos santos mais populares do Brasil.
— O sincretismo religioso assegurou o culto a São Jorge. Ele foi uma das figuras mais grandiosas do candomblé — avalia. — Também vale destacar como a imagem do cavaleiro contra um monstro pode ser interpretada de inúmeras formas. Na minha opinião, o dragão de São Jorge é o imperador romano que lutou contra o cristianismo.
Até os comunistas brasileiros criaram uma versão para a figura sagrada. Nos anos 1930, o comissário de guerra soviético Leon Trotsky foi caricaturado como São Jorge, enfrentando o dragão da contrarrevolução. Ele aparece montado em um cavalo branco, usando uma capa vermelha e, em seu escudo, há o desenho da foice e do martelo, que juntos formam o símbolo do comunismo. Na correspondência clandestina no país, seus partidários o chamam de Ogum. Foi mais uma das muitas facetas de São Jorge, o mártir cuja espada cortou todas as tentativas de desconstruí-lo.
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© 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. Nascido no século III na Capadócia, região da atual Turquia, Jorge mudou para a Palestina ainda criança. Na adolescência, iniciou a carreira militar e logo foi promovido a capitão do exército romano. Aos 23 anos passou a fazer parte da corte imperial, exercendo a função de Tribuno Militar. Ao ter conhecimento dos planos do imperador Diocleciano de matar todos os cristãos, revoltou-se.
Jorge distribuiu toda a sua riqueza aos pobres e permaneceu fiel a fé cristã. O imperador mandou matá-lo no dia 23 de abril de 303. Os relatos de seu martírio contam que mesmo torturado e forçado a caminhar sobre brasas, Jorge não sentia dor e que não se importou em ser enterrado vivo. A última ação dos soldados foi a de degolá-lo. Dizem ainda que diante de tamanha resistência, a mulher do próprio imperador teria se convertido ao cristianismo.
Os seus restos mortais foram transportados para Lida, cidade onde crescera com sua mãe e ali ele foi sepultado. Mais tarde o imperador Constantino mandou erguer uma igreja para a devoção dos fiéis.
São Jorge é representado como um guerreiro montado em um cavalo branco, enfrentando um dragão com uma espada. Diz a lenda que havia uma pequena cidade turca que era atacada periodicamente pelo animal, se não lhe entregasse uma donzela. Quando chegou a vez de a filha do rei ser sacrificada, o jovem guerreiro matou o dragão e se casou com a princesa.
O túmulo do santo está na cidade de Lida, próxima a Tel Aviv, em Israel, onde foi decapitado. Ele foi escolhido como o padroeiro da Inglaterra, de Portugal e da Lituânia, da Catalunha, de Gênova e de outras localidades no mundo.
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