segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SERPENTE

Serpente é uma palavra de origem do latim (serpens, serpentis) que é normalmente substituída por "cobra" especificamente no contexto mítico, com a finalidade de distinguir tais criaturas do campo da biologia.

Cristianismo[editar | editar código-fonte]

Serpente no Antigo Testamento[editar | editar código-fonte]

A 'serpente falante' (nachash) no Jardim do Éden induziria conhecimento proibido, mas não é identificado com Satã no Livro do Génesis. Não há, contudo indicação no Génesis que a serpente era uma divindade em seu próprio direito, com exceção do fato que o Pentateuco não é de outra maneira abundante com "animais falantes".
Embora tenha sido amaldiçoada por seu papel no Jardim, este não foi o fim da serpente, que continuou a ser venerada na religião popular de Judá e foi tolerada pela religião oficial até o tempo do rei Ezequias. Os editores do Livro dos Números (700 a.C.) forneceram aparentemente uma origem para um ídolo de bronze antigo da serpente que a justificasse associada a Moisés, com a seguinte narrativa:
«E o Senhor enviou serpentes agressivas sobre as pessoas , e elas morderam as pessoas; e muitos israelitas morreram. Então as pessoas vieram até Moisés , e disseram : Nós somos pecadores, por termos ido contra as leis do Senhor , e contra Ele , reze para o Senhor, peça para Ele levar as serpentes embora. E Moisés rezou para o povo. E o Senhor disse a Moisés: Faça você uma serpente zangada, e coloque-a sobre um bastão;e deixe-a passar, pois todos que foram mordidos, quando ela olhar o bastão, viverão. E Moisés fez uma serpente de metal,e colocou-a sobre um bastão, e deixou-a passar, e se a serpente tivesse mordido qualquer homem , quando ele olhasse a serpente de metal, ele viveria.» (Números 21:6)
Quando o jovem e reformado rei Ezequias veio ao trono de Judá no oitavo século: {{citação2|«Ele removeu os mais altos palácios, e quebrou as imagens, e matou os seres rastejantes, e quebrou as serpentes de metal que Moisés havia feito; e naqueles dias as crianças de Israel acenderam incensos para ela; e ele chamou Nebushtan.» (II Reis 18:4)
O complemento "-an" ao final significa que o ídolo possui duas serpentes sobre um bastão, as familiares serpentes entrelaçadas dos discípulos que sobreviveram no caduceu de Hermes e os serviçais de Asclépio. A ideia de um ídolo serpente era abominável aos editores do "Dicionário Bíblico Ocidental", 1897:conforme o verbete "Nehushtan".

Serpente: Novo Testamento[editar | editar código-fonte]

A serpente é claramente associada ao Diabo no Novo Testamento. No Apocalipse de São João está escrito: «E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.» (Apocalipse 20:1-2)
Em Mateus 23:33, Jesus observa "Serpentes, gerações de víboras, como podemos escapar da dominação de Geena?".
Em geral a serpente é usada como um símbolo voltado para o demônio e para o mal no catolicismoprotestantismo e nas principais vertentes do cristianismo, bem como do judaísmo.

Mitologia[editar | editar código-fonte]

Estatueta minoica daDeusa das serpentes a.C. 1.600
A serpente é uma antiga divindade da sabedoria no Médio Oriente e na região do mar Egeu, sendo, intuitivamente, um símbolo telúrico. No Egito e Áton ("aquele que termina ou aperfeiçoa") eram o mesmo deus. Áton o "oposto a Rá," foi associado com os animais da terra, incluindo a serpente. Nehebkau ("aquele que se aproveita das almas") era o deus da serpente que guardava a entrada do mundo subterrâneo. Se nos afastarmos mais, tanto em termos geográficos como culturais - por exemplo, até às ilhas Fiji, encontramos Ratu-mai-mbula, um deus-serpente que governa o mundo subterrâneo (e faz a energia vital fluir).
No Louvre, existe um vaso verde esteatite esculpido para o rei Gudea de Lagash (data aproximada entre 2200 a.C. e 2025 a.C.), dedicado na inscrição a Ningizzida, "senhor da árvore da verdade" que carrega um relevo das serpentes gêmeas em volta dos sacerdotes, exatamente como os caduceus de Hermes. Na mitologia Grega a serpente também aparece como símbolo da sabedoria, (símbolo da medicina) com Asclépio.
Na distante extremidade ocidental do mundo da antiguidade, no jardim das Hespérides, uma outra serpente guardiã da árvore Ladão, protege a fruta dourada.
Entretanto sob uma outra árvore do Iluminação, está o Buda sentado em posição de meditação. Quando uma tempestade se levantou, o oderoso da serpente levantou-se acima da caverna subterrânea e envolveu o Buda em sete espirais por sete dias, para não interromper o estado de meditação.
A grande Deusa mãe minoica, Potnia Theron pode manusear uma serpente em uma das mãos, talvez evocando o papel como a fonte da sabedoria, melhor que o papel como a senhora dos animais (Potnia theron), com um leopardo sob cada braço. Não por acaso mais tarde o infante Héracles, um herói limítrofe entre o velho e o mundo novo de Olympia, também manuseara duas serpentes que "o ameaçaram" no berço. Os gregos clássicos não perceberam quEs serpentes, também chamadas ofídios, cobras, mbóis, mboias e malacatifas[1] , são répteis poiquilotérmicos (ou pecilotérmicos) sem patas, pertencentes à subordemSerpentes, ou Ophidia. São bastante próximos dos lagartos, com os quais partilham a ordem Squamata.
Há também várias espécies de lagartos sem patas que se assemelham às cobras, sem estarem relacionados com estas, no entanto.
A atração pelas serpentes é chamada de ofidiofilia. A repulsão é chamada de ofidiofobia. O estudo dos répteis e anfíbios chama-se herpetologia (da palavra gregaherpéton, que significa "aquilo que rasteja" - em especial, serpentes).

Etimologia[editar | editar código-fonte]

"Cobra" vem do termo latino colubra. "Serpente" vem do termo latino serpente. "Mbói" e "mboia" vêm do termo tupi mbói, "cobra".[2]

Evolução[editar | editar código-fonte]

Há duas idéias concorrentes e ferozmente contestadas sobre a transição largatos para cobra. A primeira diz que as cobras evoluíram no oceano, e só mais tarde recolonizaram a terra. Esta hipótese depende da estreita relação entre cobras e répteis marinhos extintos chamados mosassauros.
A segunda hipótese diz que as cobras evoluíram de lagartos escavadores, que estendiam seus corpos e perderam seus membros para melhor escorregar no seu caminho através do solo. Nesta versão, cobras e mosassauros ambos evoluíram de forma independente a partir de um ancestral arrastador terra, provavelmente algo parecido com um lagarto de monitor. Descrito em 2015, um pequeno espécime com um corpo sinuoso longo, da formação brasileira CratoTetrapodophis amplectus, apoia a última ideia[3] .
Embora existam alguns pesquisadores que acreditam que as serpentes estão mais profundamente relacionadas a lagartos varanoides, muito embora não haja uma identificação mais clara sobre qual seria o grupo de varanoide mais relacionado evolutivamente. Eles também acreditam que os grupos de lagartos varanoides mais provavelmente relacionados com serpentes são provavelmente os das famílias Lantanotidae e Mossassauridae.

Biologia[editar | editar código-fonte]

Esqueleto[editar | editar código-fonte]

O esqueleto da maioria das serpentes consiste apenas do crânio, maxilares, coluna vertebral e costelas.
A coluna vertebral possui aproximadamente entre 200 e 400 (ou mais) vértebras. Destas, em torno de 20% (às vezes menos) são da cauda e não possuem costelas. Já as vértebras do corpo possuem, cada uma, duas costelas articuladas a elas. As vértebras também possuem projeções às quais se fixam os fortes músculos que as serpentes usam para se locomover.

Pele[editar | editar código-fonte]

pele das cobras é coberta por escamas. As escamas do corpo podem ser lisas ou granulares. As suas pálpebras são escamas transparentes que estão sempre fechadas. Elas mudam a sua pele periodicamente (em um processo conhecido como ecdise ou muda). Pensa-se que a finalidade primordial desta é remover os parasitas externos. Esta renovação periódica tornou a serpente num símbolo de saúde, como por exemplo no símbolo da medicina (o bastão de Esculápio). Nos Caenophidia, as escamas ventrais e as fileiras largas de escamas dorsais correspondem às vértebras, permitindo que os cientistas contem as vértebras sem ser necessária a dissecação.

Sentidos[editar | editar código-fonte]

Apesar de a visão não ser particularmente notória (geralmente sendo melhor na espécie arboreal e pior na espécie terrestre), não impede a detecção do movimento. Para além dos seus olhos, algumas serpentes (crotalíneos - ou cobras-covinhas - e pítons) têm receptores infravermelhos sensíveis em sulcos profundos chamados de fossetas que lhes permite sentir o calor emitido pelos corpos. Isto é extremamente útil em lugares com pouca luminosidade. Como as serpentes não têm orelhas externas, a audição consegue apenas detectar vibrações, mas este sentido está extremamente bem desenvolvido. A maioria das serpentes usa a sua língua bifurcada para captar partículas de odor no ar e enviá-las ao chamado órgão de Jacobson, situado na sua boca, para examiná-las. A bifurcação na língua dá à serpente algum sentido direccional do cheiro.

Órgãos internos[editar | editar código-fonte]

pulmão esquerdo é muito pequeno ou mesmo ausente, uma vez que o corpo em forma tubular requer que todos os órgãos sejam compridos e estreitos. Para que caibam no corpo, só um pulmão funciona. Além disso muitos dos órgãos que são pares, como os rins ou órgãos reprodutivos estão distribuídos ao longo do corpo de modo que um esteja à frente do outro, sendo um exemplo de excepção da simetria bilateral .

Tipos de dentição[editar | editar código-fonte]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Todas as serpentes são carnívoras, comendo pequenos animais (incluindo lagartos e outras cobras), avesovos ou insetos. Algumas cobras têm peçonha para matar as suas presas antes de as comerem. Outras matam as suas presas por constrição. As cobras não mastigam quando comem, elas possuem uma mandíbula flexível, cujas duas partes não estão rigidamente ligadas. Isso se dá graças ao osso quadrado que funciona como uma peça de encaixe, que quando necessário desarticula sua mandíbula para se adaptar ao tamanho de sua presa (ao contrário da crença popular, elas não desarticulam as suas mandíbulas), assim como numerosas outras articulações do seu crânio, permitindo-lhes abrir a boca de forma a engolir toda a sua presa, mesmo que ela tenha um diâmetro maior que a própria cobra.
Serpente da espécie Pantherophis guttatus a engolir um rato.
As cobras ficam entorpecidas, depois de comerem, enquanto decorre o processo da digestão. A digestão é uma atividade intensa e, especialmente depois do consumo de grandes presas, a energia metabólica envolvida é tal que na Crotalus durissus, a cascavel mexicana, a sua temperatura corporal pode atingir 6 graus acima da temperatura ambiente. Por causa disto, se a cobra for perturbada, depois de recentemente alimentada, irá provavelmente vomitar a presa para tentar fugir da ameaça. No entanto, quando não perturbada, o seu processo digestivo é altamente eficiente, dissolvendo e absorvendo tudo excepto o pelo e as garras, que são expelidos junto com o excesso de ácido úrico.
Normalmente, as serpentes não costumam atacar seres humanos, mas há relatos envolvendo serpentes grandes, como pythons. Apesar de serem dóceis, existem algumas espécies particularmente agressivas, mesmo assim, a maioria não ataca seres humanos, a menos que sejam assustadas ou molestadas, preferindo evitar este contato.

Locomoção[editar | editar código-fonte]

Jararacuçu-do-brejo se locomovendo na areia da estrada (comprimento 2 metros).
Jararacuçu-do-brejo, sequencia da locomoção.
As cobras usam quatro métodos de locomoção que lhes permitem uma mobilidade substancial mesmo perante a sua condição de "répteis sem pernas".
Todas as serpentes têm a capacidade de ondulação lateral, em que o corpo é ondulado de lado e as áreas flexionadas propagam-se posteriormente, dando a forma de uma onda de seno propagando-se posteriormente.
Além disto, as serpentes também são capazes do "movimento de concertina", ou "movimento de sanfona". Este método de movimentação pode ser usado para trepar em árvores ou atravessar pequenos túneis. No caso das árvores, o tronco é agarrado pela parte posterior do corpo, ao passo que a parte anterior é estendida. A porção anterior agarra o tronco em seguida e a porção posterior é propelida para a frente. Este ciclo pode ocorrer em várias secções da cobra simultaneamente (este método originou a afirmação errônea de que as cobras "andam nas próprias costelas"; na verdade, as costelas não movem para frente e para trás em nenhum dos 4 tipos de movimento). No caso de túneis, em vez de se agarrar, o corpo comprime-se contra as paredes do túnel criando a fricção necessária para a locomoção, mas o movimento é bastante semelhante ao anterior.
Outro método comum de locomoção é locomoção retilínea, em que uma cobra se mantém recta e se propele como se de uma mola se tratasse, usando os músculos da sua barriga. Este método é usado normalmente por cobras muito grandes e pesadas, como pítons e víboras.
No entanto, o mais complexo e interessante método de locomoção é o zigue-zague, uma locomoção ondulatória usada para atravessar lama ou areia solta.
Nem todas as serpentes são capazes de usar todos os métodos. A velocidade máxima conseguida pela maioria das cobras é de 13 km/h, mais lento que um ser humano adulto a correr, excepto a mamba-negra, que pode atingir até 20 km/h.
Nem todas as serpentes vivem em terra; serpentes marítimas vivem em mares tropicais pouco profundos.

Reprodução[editar | editar código-fonte]

As serpentes usam um vasto número de modos de reprodução. Todas usam fertilização interna, conseguida por meio de hemipénis bifurcados, que são armazenados invertidamente na cauda do macho. A maior parte das serpentes põe ovos e a maior parte destas abandona-os pouco depois de os pôr; no entanto, algumas autores entendem que essas espécies são ovovivíparas e retém os ovos dentro dos seus corpos até estes se encontrarem prestes a eclodir.
Recentemente, foi confirmado que várias espécies de cobras desenvolvem os seus descendentes completamente dentro de si, nutrindo-os através de uma placenta e um saco amniótico. A retenção de ovos e os partos ao vivo são normalmente, mas não exclusivamente, associados a climas frios, sendo que a retenção dos descendentes dentro da fêmea permite-lhe controlar as suas temperaturas com maior eficácia do que se estes se encontrassem no exterior.

Classificação[editar | editar código-fonte]

Subordem Serpentes (Ophidia)[editar | editar código-fonte]

Superfamília Typhlopoidea (Scolecophidia)[editar | editar código-fonte]

Superfamília Henophidia (Boidae)[editar | editar código-fonte]

Superfamília Xenophidia (Colubroidea = Caenophidia)[editar | editar código-fonte]

Serpentes peçonhentas[editar | editar código-fonte]

Cobra em posição de ataque.
Embora apenas um quarto das serpentes sejam peçonhentas - é vulgar chamar erradamente venenosos aos animais que injetam sua toxina -, muitas das espécies são letais aos humanos. Estas serpentes letais são geralmente agressivas e sua peçonha pode matar um adulto saudável, se este não for devidamente tratado no período de algumas horas.
As cobras venenosas são classificadas em quatro famílias taxonómicas:
Em Portugal, apenas existem espécies de duas destas famílias - Colubridae e Viperidae. Apenas três espécies merecem referência como perigosas para o Homem: a cobra-rateira, a víbora-cornuda e a víbora-de-seoane. Os casos de mordeduras fatais conhecidos são raros e ocorreram principalmente em indivíduos debilitados, idosos, doentes ou crianças. Existem antídotos específicos para o veneno destas espécies.

Referências

  1. Ir para cima FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.421
  2. Ir para cima FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.421
  3. Ir para cima A Fossil Snake With Four Legs por Ed Yong na "National Geographic Society"Dependendo da região do mundo em que estamos, temos duas reações típicas frente às serpentes: adoração ou ódio. A adoração vem, na maioria das vezes, acompanhada por explicações religiosas. O ódio também vem acompanhado, mas pela falta de informação frente a estes seres.

    A imagem que carregamos das cobras é de que são seres perigosos, que só oferecem risco aos seres humanos, e que devem ser mortas. Não é bem assim.

    Para começarmos, vamos diferenciar os termos mais comumente utilizados por todos: cobra e serpente. Ambos os termos são aceitos pelo dicionário, mas o termo serpente é o mais correto. O termo "cobra" é utilizado apenas para um tipo de serpente, as Najas da África e Ásia. Da mesma forma que os portugueses, na época do "descobrimento", atribuíram o nome de "índios" aos nativos aqui encontrados, pois acreditavam ter chegado à Índia, também atribuíram o nome de "cobra" às serpentes, acreditando se tratar das verdadeiras cobras (Naja da Índia). Aqui no Brasil não é errado utilizar o termo "cobra", porém, no resto do mundo, é recomendável utilizar o termo "serpente", para evitar qualquer desentendimento.
    Classificação geral das serpentes
    As serpentes estão assim classificadas:
    Reino: Animalia
    Filo: Chordata
    Classe: Reptilia
    Ordem: Squamata
    Subordem: Ophidia
    Família: várias
    Gênero: vários
    Espécie: várias
    Dentre as principais famílias, podemos citar:
    • Boidæ: são as pítons, jibóias etc., que estão entre as maiores serpentes do mundo, onde uma espécie, a Piton reticulatus chega a 10m de comprimento (podendo ser maior); a jibóia ( Boa constrictor amarali, por exemplo) chega a 4m de comprimento. São cosmopolitas, só não habitando a Nova Zelândia.
    • Colubridæ: são as cobras mais comumente conhecidas. Reúnem cerca de 1 500 espécies. Nesta família conhecemos uma grande diversidade de hábitats, modos de reprodução, alimentação etc.. São exemplos: falsa-coral (Oxyrhopus sp.), cobra-cipó, muçurana, caninana etc..
    • Elapidæ: corais verdadeiras (Micrurus sp.) e Najas são exemplos, algumas com veneno perigoso ao homem. São cosmopolitas, com exceção do norte da América do Norte e da Eurásia.
    • Viperidæ: Dentro desta família, temos duas subfamílias com representantes importantes. Uma delas, a Viperinæ, são as víboras, das serpentes conhecidas as mais temidas, pois a maioria possui venenos bem potentes. Vivem na Eurásia, África e Índia. Como exemplo, a víbora, Vipera sp. e Cerastes cerastes, a víbora de chifre; a outra subfamília, Crotalinæ, envolve espécies por nós bem conhecidas, como as cascavéis, surucucu etc., também produtoras de potentes venenos.
    Biologia geral dos répteis
    Vamos dar uma estudada nas características gerais dos répteis para podermos, mais adiante, nos determos especificamente nas serpentes.

    Os répteis (lat. reptum, rastejar) incluem as cobras, lagartos, tartarugas, jabutis e tuataras.

    O corpo é coberto com pele seca e cornificada, ou seja, com formação de um extrato córneo, duro, resistente, geralmente com escamas ou escudos, e poucas glândulas superficiais. Com exceção de cobras e lagartos ápodos (sem patas), possuem quatro membros, cada um com 5 dedos, adaptados em cada espécie para um determinado hábitat. O esqueleto é completamente ossificado. Respiram por pulmões, sendo que algumas tartarugas têm respiração faríngea e/ou cloacal. São ectotérmicos, ou seja, a temperatura de seu corpo é variável. A fecundação é interna, e podem ser ovíparos ou vivíparos.

    Os répteis foram o primeiro grupo de vertebrados a se adaptar à vida em lugares secos e no ambiente terrestre, pois sua pele oferece maior resistência à perda de água para o meio e seus ovos também estão mais protegidos contra a desidratação (casca mais grossa e resistente), dentre vários outros motivos.
    As serpentes
    Sorrateiramente, a formidável jibóia de 20 metros desliza entre os galhos de uma árvore e, de repente, sem dar à indefesa vítima oportunidade alguma de reação, salta sobre o homem e o devora de uma só vez. Histórias como essa povoam os relatos de alguns dos exploradores que, no século passado, internaram-se na selva amazônica buscando desvendar os mistérios da flora e da fauna da região. Houve até um deles, um missionário europeu, que, iludido por uma observação feita a grande distância, jurou ter visto uma jibóia com nada menos que 50 metros!

    Hoje se sabe que as maiores serpentes raramente ultrapassam 10 metros (registros oficiais) e que há pouquíssimos registros de ataques a seres humanos. E sabe-se muito mais sobre os hábitos dos milhares de espécimes de ofídios espalhados por praticamente todo o Planeta. Contudo, a imaginação popular continua envolvendo as serpentes num manto de fantasias: maldosas, astutas, traiçoeiras, elas seriam inimigas naturais do ser humano. Enfim, uma autêntica praga que precisa ser eliminada da face da Terra.

    Grave engano. Ao matá-las indiscriminadamente, o homem contribui para alterar importante elo na cadeia ecológica, como veremos adiante.

    Perda das extremidades pares e alongamento do corpo ocorreu, como um desenvolvimento paralelo, em diversos grupos de vertebrados, incluindo as enguias e moréias entre os peixes, as cobras-cegas entre os anfíbios, os Amphisbænidæ entre outros lagartos, além de todas as cobras.
    O corpo das serpentes é coberto por escamas, sendo que em algumas, há na parte inferior do corpo uma grande fileira de escamas grandes, chamadas placas transversais.

    A língua é estreita, flexível, semelhante a uma fita, com extremidade bífida, que serve para captar "cheiros" diversos. A língua oscila no ambiente e capta vários feromônios. Quando ela é retraída, suas pontas entramem duas pequenas cavidades no palato ("céu da boca"), chamadas de "órgão de Jacobson", onde, neste órgão, há terminações nervosas que decodificam esses feromônios.

    Todos os órgãos são tubulares, compridos, acompanhando a geometria do corpo. Somente o pulmão direito é funcional.

    Em serpentes longas existem de 200 a 400 vértebras. Há uma complexa ligação entre músculos, vértebras, costelas, e pele, arranjo este que tornam possíveis os graciosos movimentos sinuosos de uma serpente.

    Há quatro tipos de movimentos nas serpentes: 1 - locomoção ondulatória horizontal: locomoção característica de serpentes rápidas, caracterizada pela formação de um S pelo corpo do animal. Há vários pontos de atrito com o solo, este geralmente irregular; 2 - locomoção retilínea: característica de serpentes lentas. O atrito de todo o ventre do animal com o solo é essencial; 3 - locomoção em sanfona: envolve a extensão e a retração do corpo de um ou mais pontos de atrito com o solo. Pode ser usada em uma superfície achatada, ao rastejar através de um túnel ou trepar; 4 - locomoção por meio de alças laterais: é uma forma de locomoção encontrada em diversas víboras africanas e do oeste da Ásia e na cascavel norte americana (Crotalus cerastes). Este tipo de locomoção é uma adaptação para a movimentação rápida sobre superfícies lisas sem obstáculos, como areia ou terra muito dura. Esta locomoção é uma forma modificada da locomoção ondulatória horizontal. A serpente deixa seu corpo em forma de S, e alterna os pontos de contato com o solo dois a dois, impulsionando-se para o lado. A velocidade atingida por estas serpentes é significativa, principalmente para fugir de predadores.
    Venenosa ou peçonhenta?
    As pessoas costumam errar bastante quanto a estes conceitos.
    Se considerarmos que a saliva das serpentes é adaptada para dissolver proteína (carne, por exemplo), podemos considerar que todas as serpentes são venenosas, isto porque entendemos como veneno uma substância capaz de fazer mal a algum ser. A saliva das serpentes nos é prejudicial, por isso as consideramos venenosas para os seres humanos. Mas, qual o limite de ação do veneno? É aí que entra o conceito de "peçonhenta": um animal peçonhento é aquele que possui um veneno com uma concentração muito elevada, capaz de causar grandes danos a um outro ser, sendo este animal capaz de injetar este veneno através de dentes ou ferrões, geralmente conhecidos por peçonhas. Ou seja, aquelas serpentes que possuem dentes inoculadores de veneno são chamadas peçonhentas. As que não possuem estes dentes, são chamadas não peçonhentas.
    Jibóias, corais falsas, muçuranas, sucuris entre muitas outras são venenosas: caso uma destas serpentes morda uma pessoa, o máximo que acontecerá é uma inflamação local e prurido intenso.
    Surucucus, cascavéis, corais verdadeiras, najas etc. são peçonhentas: caso uma destas serpentes morda uma pessoa, esta tem que ser socorrida, pois o veneno provocará no organismos diversas reações alérgicas, por vezes muito graves e até mortais.
    Serpentes que vivem em ilhas tendem a ter o veneno mais concentrado do que as que vivem no continente.
    O veneno nada mais é do que uma especialização da saliva, onde esta adquire poder proteolítico (que quebra proteínas) suficiente para desencadear diversas reações nos seres vivos. Podem adquirir várias especialidades, sendo elas: neurotóxico, que afeta particularmente os centros respiratórios e a morte sobrevêm por asfixia, se a vítima não for socorrida a tempo. Naja e corais verdadeiras são exemplos de portador deste veneno; hemotóxico, que afeta o aparelho circulatório, podendo ser hemorrágica (provocando hemorragias) ou hemolíticas (provocando a destruição dos glóbulos vermelhos). Cascavéis e víboras portam este tipo de veneno; miotóxica, que afeta sensivelmente a musculatura de todo o corpo. Algumas cascavéis apresentam este tipo de veneno; coagulante, onde todo o sangue do organismo começa a coagular. Corais verdadeiras, algumas cascavéis, surucucus possuem este veneno; proteolítica, onde há o necrosamento da pele e/ou outros tecidos. Algumas jararacuçus, jararacas, surucucus são exemplos de portadoras deste veneno.
    Diferenciação entre serpentes peçonhentas e não peçonhentas
    Em todos os livros didáticos são apontadas diferenças clássicas entre serpentes peçonhentas e não peçonhentas. Mas há um pequeno detalhe: todos estes padrões foram traçados baseando-se nas víboras africanas. Em se tratando de Brasil, ou mesmo em outros Países, podem haver muitas exceções.
    Tem-se como padrões clássicos (visíveis) para serpentes peçonhentas: cabeça triangular; cauda terminando abruptamente; escamas ásperas e sem brilho; olhos com pupila em fenda; fosseta loreal presente. Para serpentes não peçonhentas: cabeça redonda; cauda com terminação suave; olhos com pupila redonda; escamas brilhantes e lisas; sem fosseta loreal.
    Muitas dessas características são válidas, mas muitas não aparecem nos animais. Analisemos pois duas serpentes que apresentam exceções:
    - Coral: a cobra coral verdadeira é pouco diferenciável da falsa coral. Somente uma pessoa experiente saberá distinguir uma da outra só batendo o olho. A coral verdadeira tem a cabeça redonda, olhos com pupila redonda, escamas lisas e brilhantes, não possui fosseta loreal. O padrão de cor, tão usado como referência, não pode sê-la, pois há muitas exceções, visto que muitas falsas corais mimetizam-se com as verdadeiras, buscando proteção contra predadores (lembremos que as corais verdadeiras possuem coloração apossemática, ou seja, uma combinação de cores que alertam os predadores sobre o perigo daquele animal. A falsa coral, em conseqüência do mimetismo, acaba tendo uma coloração pseudo-apossemática).
    - Jibóia: a jibóia é uma serpente não peçonhenta, apesar de possuir cabeça triangular, olhos com pupilas em forma de fenda, escamas relativamente opacas, cauda com terminação abrupta.
    Vemos, então, que devemos ter cautela ao nos basearmos nesses padrões "clássicos".
    O crânio das serpentes e seus órgãos mais significativos
    As serpentes possuem um crânio bem articulável, onde os ossos, em sua maioria, são independentes e interligados por músculos. Esta característica faz com que consigam se alimentar de presas com diâmetro maior que seu corpo: os ossos do crânio adquirem uma anatomia que permite à serpente engolir presas grandes, e seus órgãos internos, assim como sua pele, possuem boa flexibilidade. Os dentes são voltados para trás, o que permite à serpente segurar sua presa enquanto engole. As serpentes nunca mastigam ou dilaceram seu alimento, sempre engolindo-o inteiro.
    Dentição
    Existem quatro tipos de dentição nas serpentes, a saber:
    . áglifa (a = ausência + glyphé = sulco) - dentição típica de serpentes não peçonhentas: não possuem presas. Seus dentes são maciços, sem canal central ou sulco externo. Jaracuçu-do-brejo, caninana, jibóia, sucuri, pítons etc. são exemplos de serpentes áglifas.
    . opistóglifas (opisthos = atrás) - apresentam um ou dois pares de dentes posteriores do maxilar superior diferenciados, com sulco externo por onde escorre o veneno. Pela posição posterior das presas, raramente causam acidentes, sendo que podemos considerar estas serpentes como não peçonhentas, pois acidentes com elas são raríssimos. Falsas corais e muçuranas são exemplos.
    . proteróglifas (protero = dianteiro) - possuem presas anteriores sulcadas, em maxilares imóveis, o que lhes permite inocular o veneno. A coral verdadeira, serpentes marinhas, najas, são exemplos de serpente com esta dentição.
    . solenóglifas (soleno = canal) - possuem presas anteriores dotadas de um canal central por onde passa o veneno, estando em um maxilar bem móvel. Cascavel, jararaca, urutu e surucucu são exemplos de serpentes solenóglifas.
    As serpentes áglifas, opistóglifas e proteróglifas mordem suas presas; as solenóglifas picam. Melhor explicando: as serpentes áglifas e proteróglifas tem como único método de matar suas presas a asfixia. Elas mordem e se enrolam, praticamente com o corpo todo, na presa. Quando esta morre, a serpente começa a engolir, sempre pela cabeça. As serpentes solenóglifas dão um bote certeiro na presa, inoculam o veneno e esperam que esta morra; mesmo que a "vítima" conseguir se locomover, a serpente a localiza com auxílio de suas "fossetas loreais". Ao localizarem a presa, começam a engoli-la, também pela cabeça.
    As "fossetas loreais"
    As serpentes pertencentes à subfamília Crotalinae possuem em ambos os lados da cabeça, entre as narinas e os olhos, duas depressões em forma de fossa, denominadas fosseta loreal. Este órgão tem comunicação com o cérebro e sua principal função é a detecção de calor. As serpentes que possuem este órgão são portadoras de dentição solenóglifa, portanto picam sua presa. Em poucos minutos esta presa está morta, e a serpente começa a rastreá-la, então, pelo calor que seu corpo emana. Uma serpente consegue rastrear um camundongo a vários metros de distância, tamanha a especialização das fossetas loreais.
    Audição
    As serpentes não possuem ouvido externo, tímpano e cavidade do ouvido médio, mas a columela, que transmite os sons, está presente e se estende até um ouvido interno. A audição torna-se, então, muito rudimentar (capta de 100Hz a 170Hz) e não significativa. Mas são capazes de perceber, eficazmente, as vibrações do solo, fugindo do caminho de um animal muito antes que ele chegue aonde a serpente se encontra.
    O processo de muda
    Processo crítico na vida das serpentes, toda a camada córnea do tegumento (pele) é renovada, surgindo uma pele nova, lisa, brilhante, bem colorida. A muda sai como uma tripa virada do avesso. Há desbotamento na coloração e turvação córnea dificultando, mais ainda, para a serpente vislumbrar a presa. A muda, quando o animal está em perfeito estado de saúde, inicia-se pela cabeça, seguindo-se o corpo todo com rugas e pregas e a serpente precisa ir à procura de um toco, pedra etc. para se esfregar até que a pele velha se desprenda totalmente. Durante o período de muda a serpente não se alimenta e prefere ficar quase imóvel; após a muda ela volta à atividade. Os fatores que facilitam ou não as mudas prendem-se à alimentação, clima, excitação, cuidados higiênicos em cativeiro etc.. o recomendável é que não se manipule o animal durante o processo de muda, e que se mantenha o terrário úmido (pode umedecer o terrário com os borrifadores de planta), podendo, inclusive, umedecer o animal uma vez por dia (o que facilita o processo de muda).
    Alimentação na Natureza e Ecologia das serpentes
    Ao contrário do que muitos pensam, as serpentes não se alimentam exclusivamente de mamíferos. Algumas se alimentam de insetos e outros pequenos invertebrados; serpentes de maior tamanho alimentam-se com peixes ou mamíferos; algumas, como a muçurana (não peçonhenta), alimentam-se de outras serpentes peçonhentas; por outro lado, corais verdadeiras podem se alimentar de falsas corais. Muitas serpentes alimentam-se de moluscos.
    As serpentes ocupam um lugar importante na teia alimentar de cada ecossistema. Aquelas que vivem, por exemplo, nos desertos dos Estados Unidos, são úteis pois se alimentam de roedores, impedindo uma possível explosão populacional destes. No Brasil, podemos dar destaque à muçurana, que se alimenta exclusivamente de serpentes peçonhentas.
    Como as serpentes não são o alvo favorito de estudo da maioria das pessoas, muitas vezes esse animal é morto sem a menor necessidade. As pessoas que moram em campos, fazendas, sítios etc., quando não conhecem o animal, tem logo o costume de matá-lo, mesmo que este não esteja perto da residência e/ou oferecendo risco à alguma pessoa. A recomendação que se faz, portanto, é que a pessoa procure se informar quais os animais e vegetais que residem naquele lugar, e se informar quais animais são peçonhentos. Conhecendo-os bem, com certeza a residência estará protegida e o animal seguro. Por quê? Simplesmente porque o animal que não for peçonhento não será morto, e caso algum seja encontrado dentro ou nas proximidades da residência, simplesmente uma pessoa com experiência removê-lo-á para o meio da mata; se for um animal peçonhento e estiver nas proximidades da residência, chama-se o Corpo de Bombeiros para realizar a remoção do animal; caso aquele seja inacessível, basta recorrer também a uma pessoa experiente, que esteja devidamente protegida (botas altas e grossas, luvas e laço). Caso o animal se encontre dentro da residência e este for peçonhento, recomenda-se então, caso não tenha outro jeito, o abate.
    Reconhecer a vegetação do lugar também é importante, por dois motivos: para não consumirmos um vegetal venenoso; e para sabermos se aquele tipo de vegetação costuma ser abrigo de determinada espécie de serpente.
    Não só as serpente, mas todos os animais, inclusive o homem, e todos os vegetais, fazem parte de uma grande e complexa teia alimentar, onde a falta de um certamente causará a superpopulação de outro, que por sua vez causará a diminuição de outra espécie... desequilibrando todas as cadeias e, conseqüentemente, a teia. Um exemplo bem simples: considere a seguinte cadeia alimentar:
    Analisemos a primeira cadeia: se o número de serpentes tiver uma significativa diminuição, o número de águias também irá diminuir, pois ficará sem alimento; em contrapartida, o número de aves aumentará, pois não terá serpentes suficientes para manter um número equilibrado de aves. Por outro lado, diminuirá drasticamente o número de gafanhotos, pois mais aves estarão se alimentando deles, tendo como última conseqüência um aumento exacerbado da vegetação.
    Analise você a segunda cadeia e trace as conseqüências obtidas com a diminuição do número de serpentes.
    Moral da história: RESPEITE a Natureza: tudo o que ela pede é que a deixemos realizar suas tarefas para que mantenha um equilíbrio saudável para que possamos viver e conviver em harmonia. Claro que se você tiver correndo risco é preferível abater o animal, mas só neste caso. Do contrário, deixe-o na Natureza para que cumpra seu papel.
    Serpentes como animais de estimação
    Muitas pessoas estão aderindo à moda de ter em casa "pets" diferentes, "exóticos": iguanas, ferrets, aranhas... serpentes.
    Uma coisa deve ficar bem clara: serpentes não são parecidas com gatos ou cachorros, que podemos colocar coleira para passear e que vão ficar pedindo colo toda hora. Répteis não possuem uma demonstração expressiva de afeto pelo dono; o que fazem é respeitá-lo, pois sabem que é ele que fornece alimento, e sabem que não lhes farão mal, deixando-se manipular.
    Não podemos ensinar para uma serpente o que fazemos com um cão: podemos ensinar ao cão que não deve rosnar para o dono caso este retire sua ração enquanto aquele estiver comendo. Com a serpente não dá: quando a alimentamos, qualquer coisa que se movimente perto dela é presa em potencial, e ela atacará.
    Quando a serpente estiver muito agitada, convém não manipulá-la, pois corremos o risco de levar uma mordida... e ela não vai saber que fez coisa errada.
    Enfim, estes animais são mais de exposição: devem estar num terrário bonito, vistoso, onde o animal complete a beleza do terrário. Sua manipulação deve ser a mínima necessária. Com o tempo, a serpente vai se habituando ao dono, e sua manipulação poderá ser gradativamente aumentada.
    As serpentes mais comuns de seres adotadas como "pets" no Brasil são as pítons, as jibóias e as falsas corais (lembremos que, atualmente, o IBAMA proíbe a comercialização tanto de serpentes silvestres como de exóticas), por possuírem um bom caráter, serem calmas e de grande beleza.
    Ao contrário do que muitos pensam, as serpentes alcançam uma vida relativamente longa. A jibóia, por exemplo, pode chegar a 24 anos, se bem cuidada. Portanto, pense bem antes de escolher este animal como "pet", pois ele conviverá muitos anos com você.
    O terrário
    Montar um terrário para uma serpente não é tarefa difícil, mas dispendiosa: são animais sensíveis e que exigem certas condições ambientais para que se mantenham saudáveis.
    São necessários os seguintes materiais:
    · cuba de vidro
    · tampa adequada para terrário
    · lâmpada adequada para serpentes
    · substrato
    · bebedouro
    · materiais para decoração
    · fonte de aquecimento
    Cuba de vidro
    As maneiras e materiais para a confecção de um terrário variam muito. Dá-se a seguir um modelo bem simples, que pode ser deixado em uma sala de visitas, para exposição, por exemplo.
    O terrário mais prático é aquele feito em uma cuba de vidro, idêntica àquelas usadas na montagem de aquários.
    É importante que consideremos o tamanho do animal quando adulto, para que não precisemos trocar periodicamente um terrário.
    Para duas falsas corais, por exemplo, um terrário com 100 x 40 x 50 está de bom tamanho.
    A espessura do vidro do terrário não precisa ser a mesma da recomendada para aquários: como não terá que suportar grandes pressões, podemos confeccionar a cuba com vidros cerca de 20% mais finos. Também não é necessária a trava, caso a cuba seja até médio porte (como o tamanho citado acima).
    Tampa adequada para terrário
    Temos várias possibilidades neste quisito. Mas uma coisa é importante: a cuba deve estar muito bem tampada, pois muitas serpentes conseguem escalar pelo silicone que unem os vidros! As frestas precisam estar bem tampadas. Para a iluminação podemos colocar um tampo igual ao utilizado em aquário, mas temos que tomar cuidado para deixarmos uma boa ventilação. Um tampo ideal pode ser um com armação de madeira e tela por cima, e para iluminação, uma calha das usadas em aquarismo: a tela proporciona boa iluminação e ventilação, ao mesmo tempo que a cuba fica bem vedada.
    Lâmpada adequada para serpentes
    As serpentes não são répteis que necessitem de uma iluminação muito exigente. Seria interessante que o terrário se localizasse onde houvesse uma incidência de raios solares matutinos, até 10h00. Sabemos que o vidro filtra grande parte dos raios UV-A e UV-B, mas sempre um pouco acaba passando. Como iluminação artificial, podemos recomendar uma lâmpada "Reptile day light" fluorescente, que possui todos os raios UV-A e UV-B necessários aos répteis, mas que custa caro. A lâmpada gro-lux e as similares, utilizadas em aquarismo, são mais acessíveis e oferecem traços dos raios UV-A e UV-B, e é o suficiente.
    Substrato
    Podemos colocar vários substratos: jornal, areia de construção, cascalho de rio, terra vegetal, sphagnum (espécie de musgo), "litter" (forragens absorventes de cactus ou cascas de árvores reabsorvíveis), carpetes sintéticos (próprios para terrários). Na hora da montagem do terrário é necessário saber que animal se pretende criar, e procurar colocar o substrato mais conveniente para este animal. De um modo geral, o carpete sintético é um bom material. Tira um pouco o "ar natural" do terrário, mas é muito prático e econômico, já que é lavável.
    Bebedouro
    Precisa ser um recipiente, preferencialmente, de plástico (recipientes de porcelana ou barro podem acumular muitas bactérias), raso e largo. Geralmente os animais defecam na água. Esta precisa ser trocada todo dia.
    Materiais de decoração
    Troncos naturais ou artificiais, plantas naturais, rochas. A gama de materiais fica por conta da criatividade da pessoa. Só não coloque rochas com arestas cortantes.
    Fonte de aquecimento
    É essencial que o animal conte com uma fonte de aquecimento. Não é recomendável colocar uma fonte que aqueça o terrário por inteiro, como por exemplo uma lâmpada incandescente. O animal regula sua necessidade de calor e frio, procurando zonas quentes e frias dentro do terrário. O material mais recomendável é uma rocha aquecida, ficando o animal em cima dela quando quiser se aquecer e saindo dela quando já tiver calor suficiente.
    Alimentação em cativeiro
    Geralmente as serpentes que são criadas como "pets" são aquelas que se alimentam de mamíferos. Jibóias, pítons, falsas corais etc. se alimentam de ratos, preás camundongos.
    A alimentação constância na alimentação vai variando com vários fatores:
    - clima: no inverno as serpentes se alimentam menos, mesmo possuindo a fonte de aquecimento no terrário (elas sentem a época do ano, e além do mais a temperatura do terrário vai estar mais baixa).
    - tamanho: conforme o tamanho do animal, temos duas saídas: ou alimentamos mais vezes, ou damos mais comida em cada refeição.
    - muda: as serpentes dificilmente se alimentam durante a época de muda.
    - stress: um animal estressado dificilmente se alimentará.
    Para uma falsa coral com aproximadamente 70cm de comprimento, podemos ministrar dois camundongos a cada 20 dias, por exemplo, na época fria do ano, e a cada 10 dias, na época quente.
    Para um filhote de jibóia ou píton com 40cm de comprimento, dois neonatos por semana.
    Há no mercado especializado diversos complementos alimentares que podem, por exemplo, serem borrifados na comida, ou que possamos ministrar ao rato antes de darmos à serpente. É bom fornecermos estes complementos, caso a alimentação do roedor seja muito empobrecida.
    Temos que conhecer o animal que criamos, saber seus costumes. Um método fácil de verifica se o animal está com fome: o normal de uma serpente é ela ficar quieta em um canto do terrário. Quando ela começa a "passear", é uma evidência que está procurando comida. É esta a hora de alimentá-la novamente. Como são animais ectotérmicos, sua fome vai variar conforme variar a temperatura do ambiente: mais calor, fome mais cedo; mais frio, mais demora em sentir fome.
    Considerações finais
    É evidente que este artigo está por demais singelo frente ao conteúdo que deveria ter. Mas isto é proposital.
    Nossa intenção é que você conheça, pelo menos, uma ínfima parte do mundo das serpentes. Não é nossa intenção fazê-lo gostar desses animais, mas pelo menos conhecê-lo e, com isso, respeitá-lo.
    A Herpetologia é um campo muito amplo e que merece ampla discussão. Frente a isso, dispomo-nos a resolver quaisquer dúvidas e trocarmos conhecimentos, necessários à perpetuação de toda a fauna do Planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário