O AIT – sigla usada entre os médicos para simplificar o termo ataque isquêmico transitório, ou mais simplesmente uma isquemia transitória, é um problema neurológico que, como o nome já explica, acontece transitoriamente, vem geralmente de repente, subitamente, provoca os sintomas no paciente, demorando alguns minutos ou horas, havendo sempre a recuperação total da pessoa acometida.
Fatores de risco para AIT (os mesmos do AVC)
Os fatores de risco mais conhecidos são: idade (mais frequente quanto maior a idade), genética (história familiar de muitos casos de Acidente Vascular Cerebral – AVC ou doença cardíaca), tabagismo, sedentarismo, diabetes, aumento de colesterol ou triglicérides, ter doenças cardíacas, arritmia cardíaca ou infarto prévio.
Entretanto, os jovens e adultos mais jovens que não tem nada disso também podem ter um AIT ou AVC. Nestes casos (dos jovens), a pesquisa do que causou o AIT ou AVC deve ser mais detalhada.
As causas mais frequentes de AIT ou AVC em jovens são as dissecções arteriais, o forame oval patente, uso de medicações tóxicas ou drogas ilícitas, e casos de AIT ou AVC relacionados a crises de enxaqueca.
Sintomas
No AIT, o que ocorre é uma obstrução ou entupimento momentâneo, transitório, de algum vaso que irriga o cérebro. O vaso (artéria) leva o sangue, oxigênio e glicose para sua correspondente região cerebral.
Como no AIT, naqueles minutos ou horas, o sangue não chega naquele local irrigado pelo vaso entupido, aquela região deixa de fazer a sua função, e o paciente sente os sintomas de acordo com a região e vaso (artéria) afetados.
O mais comum é ocorrerem sintomas simulando um derrame, ou AVC – acidente vascular cerebral. Portanto, o susto é grande! Principalmente se a pessoa já conhece quais sintomas podem ser um AVC…
O mais importante para saber reconhecer os sintomas do AVC ou AIT é que sempre, ou quase sempre, eles ocorrem subitamente, de um minuto para o outro, sem avisar.
Geralmente a pessoa ou familiar sabe exatamente em que horário começou, o que estava fazendo na hora do início (exceto nos casos em o paciente tem o AVC ou AIT estando sozinho e é encontrado desmaiado por testemunhas). A seguir, enumero os principais sintomas de um AIT (e também do AVC):::
- Alteração súbita da fala, com dificuldade para completar as palavras ou frases, ou começar a ter a fala enrolada;
- Alteração súbita da força num membro (braço ou perna) ou em um lado do corpo (braço e perna do mesmo lado), ou nas pernas, com fraqueza e diferença de força em relação ao lado normal;
- Alteração súbita da sensibilidade em um lado do corpo;
- Desvio da boca para um dos lados (a boca começa a “entortar”), de início súbito;
- Alteração súbita e intensa do equilíbrio, com dificuldade de andar, náuseas e vômitos junto ao sintoma do andar;
- Alteração visual de início súbito – pode ser uma visão embaçada, tremida, visão dupla, visão ardendo de repente, perda ou embaçamento de um dos lados da visão;
- Alteração súbita da audição, junto com náuseas, perda do equilíbrio e dificuldade de andar;
- Sonolência de início súbito, com parada da fala;
- Convulsões e sonolência excessiva vindo juntas e de forma súbita;
- Dor de cabeça de início súbito e muito, muito forte.
O que fazer na suspeita de um AVC ou AIT?
O mais importante: não ficar em casa esperando os sintomas passarem (pois você pode estar perdendo tempo no tratamento). O paciente com esta suspeita deve ser levado imediatamente para um hospital, de preferência que tenha um setor de emergência com médico e tomografia disponível 24 horas por dia. Isso faz toda a diferença, pois caso seja indicada a trombólise (tipo de tratamento para dissolver o coágulo em AVC isquêmico), é importante ter pelo menos a tomografia realizada até 3-4,5 horas do início dos sintomas.
Outro modo de ação que pode ser efetivo (dependendo da cidade e eficiência do SAMU…) é chamar o serviço de emergência do governo – SAMU, pelo fone 192. Mas tomem cuidado porque algumas cidades possuem este serviço muito eficiente, que chegam rapidamente no local do chamado, e outras não.
Portanto, caso você chame o SAMU e esteja demorando, não perca tempo: arrume um carro ou transporte e leve a pessoa ao hospital.
Exames
Sempre na suspeita de um AIT ou AVC, na emergência, pede-se uma tomografia de crânio, para excluir se houve ou não hemorragia. Depois, dependendo de caso a caso, o paciente pode ser internado para observação nos primeiros dias, e termina de fazer outros exames no hospital e depois em laboratórios. Além da avaliação pelo médico neurologista, para avaliar se há alguma alteração neurológica, os exames mais comumente pedidos para estes casos são:
- Tomografia do crânio
- Ressonância magnética do crânio
- Angiorressonância do crânio e/ou artérias cervicais
- Ecocardiograma e eletrocardiograma
- Exames de sangue
- Holter de 24 horas
- Doppler transcraniano
- Ultrassonografia das carótidas e vertebrais
Dependendo da idade, dos fatores de risco de cada paciente, de como foram os sintomas de cada caso, o neurologista pede uma bateria ou outra de exames para investigar.
Tratamento
Depende.
Tratamento do AVC nas primeiras horas e dias – Fase aguda
A primeira coisa: a família ou o paciente não ficar esperando os sintomas que parecem um AVC passar. Em casa. Marcando bobeira.
Logo que sentir algo parecido ou suspeito de um AVC, corra ao hospital!!!!! Quanto mais rápido for reconhecido, mais rápido poderá ser tratado.
Na emergência, ou seja, nos primeiros minutos e horas de um AVC, o certo é correr ao hospital, entrar pela emergência e logo, em pelo menos 20-30 minutos da entrada do hospital, já ter feito a tomografia de crânio e ter sido avaliado pelo médico. Isso é uma emergência médica, pois as terapias feitas nas primeiras 3-6 horas de um AVC podem minimizar, ou até mesmo reverter totalmente sequelas neurológicas.
A realização rápida da tomografia é primordial, pois este exame é o principal para separar, diferenciar se o AVC foi isquêmico ou hemorrágico. Isso muda frontalmente o tratamento.
Em sendo um AVC Isquêmico, a terapia correta se o paciente chegar até 4-4,5 horas do início dos sintomas é dar o medicamento alteplase, que é um tipo de trombolítico que dissolve o coágulo e restabelece o fluxo de sangue no cérebro. Se o paciente tiver uma obstrução de uma grande artéria anterior, como a cerebral média ou carótida interna, além do alteplase, o correto é levar este paciente para a hemodinâmica, para fazer um cateterismo e desobstruir localmente o vaso.
Quando já se investigou e descobriu a causa do AVC isquêmico, o medicamento a longo prazo dependerá principalmente da causa do AIT (ou AVC) ocorrido. Daí a importância de se ter ideia do que causou aquele evento e do paciente ser bem investigado.
O pilar principal de tratamento da maioria dos casos de AIT ou AVC isquêmico é controlar bem os fatores de risco que podem ser controlados (baixar colesterol, diabetes, retirar o cigarro, excesso de álcool, reduzir obesidade, etc…), controlar muito bem a pressão arterial nos pacientes que tem pressão alta, e usar medicações que afinam o sangue, com a intenção de fazer o sangue circular melhor nas artérias e veias, evitando a formação de trombos ou coágulos, e consequentemente, os sintomas de AIT ou AVC.
Os medicamentos mais usados na prevenção dos AITs e AVCs isquêmicos são a aspirina ou AAS (doses baixas, de 80 a 325mg ao dia), clopidogrel, warfarina, rivaroxaban, apixaban e dabigatran.
Usar um ou outro da lista acima irá depender da causa do problema, e da indicação de maior ou menor proteção em relação à formação de trombos e coágulos.
** Dra. Maramélia Miranda é neurologista com formação pela UNIFESP-EPM, especializada em AVC e Doppler Transcraniano, editora do blog iNeuro.com.br.
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