A Oração do Senhor, também conhecida como o Pai Nosso ou pai-nosso[1] , é a oração mais conhecida do cristianismo. Duas versões dela ocorrem no Novo Testamento: uma no Evangelho de Mateus (Mateus 6:9-13)[2] , como parte do discurso sobre a ostentação, uma secção do Sermão do Monte; e a outra no Evangelho de Lucas (Lucas 11:2-4).
O contexto da oração em Mateus é uma parte de um discurso, sobre um povo sofrido que ora grandiosamente, simplesmente com a finalidade de ser visto orando; Mateus descreve Jesus ensinando as pessoas à orar "após a fórmula" dessa oração. Tendo em conta a estrutura da oração, fluxo de sujeito e ênfases, uma interpretação da Oração do Senhor é como uma orientação sobre como orar em vez de aprender algo ou repetir por hábito. Há outras interpretações sugestivas que a oração foi concebida como uma oração específica à ser usada. O Novo Testamento relata Jesus e seus discípulos orando em várias ocasiões; mas nunca os descreve usando essa oração, é incerto o quão importante ela foi originalmente vista e tida.
No dia da Páscoa, foi estimado que dois bilhões de cristãos católicos, anglicanos, protestantes e ortodoxos leram, recitaram ou cantaram a oração em milhares de línguas.[3]Embora muitas diferenças teológicas e vários modos e maneiras de adoração dividam cristãos, de acordo com o professor Clayton Schmit do Seminário Fuller "há um senso de solidariedade em saber que os cristãos ao redor do globo estão orando juntos..., e estas palavras sempre nos unirão."[3]
A Bíblia do Peregrino, por meio de Nota de Rodapé à Mateus 6:13, observa que essa oração ressoa a experiência de Israel no processo de sua libertação, o que inclui:provações no deserto, o maná cotidiano, a vontade de Deus promulgada como Lei, a santidade cultual do nome de Deus revelada por Moisés e o reinado de Deus pela aliança na Terra Prometida.
- assemelha-se tanto pelo conteúdo como pela forma à "Oração das Dezoito Preces", que os judeus rezam ainda hoje, mas que se distingue, em primeiro plano, pela simplicidade e pela liberdade como Deus é invocado, além disso a ordem das petições é diferente e característica do ensinamento de Jesus;
- tem em seu início uma prece tríplice que tem como ápice um apelo à intervenção de Deus para o advento de seu Reino;
- depois tem lugar uma série de petições que exprimem as necessidades essenciais dos discípulos;
- o emprego da primeira pessoa do plural dá um caráter comunitário à oração;
- na versão apresentada no Evangelho segundo Mateus há sete petições, enquanto que na versão apresentada no Evangelho segundo Lucas contém apenas cinco petições, e que seria impossível dizer qual a versão mais antiga, devendo ambas as formas terem sido empregas em comunidades cristãs primitivas;
- existem dificuldades para oferecer a tradução dessa prece para uma língua moderna, a compreensão de certas expressões exigiria um bom conhecimento do Antigo Testamento e do judaísmo antigo, razão pela qual as traduções literais nem sempre seriam as melhores.
Índice
[esconder]- 1O Pai Nosso na Igreja Primitiva
- 2Análise
- 2.1Instruções preliminares
- 2.2"Pai nosso, que estais no céu"
- 2.3"santificado seja o Vosso Nome"
- 2.4"venha a nós o Vosso Reino"
- 2.5"seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu."
- 2.6"O pão nosso de cada dia nos dai hoje"
- 2.7"E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores."
- 2.8"E não vos submetas à tentação,"
- 2.9"mas livra-nos do Maligno."
- 2.10Acréscimos
- 2.11Explicações posteriores
- 3Versão latina
- 4Pai Nosso na Igreja Católica
- 5Referências
- 6Ver também
- 7Livros
O Pai Nosso na Igreja Primitiva[editar | editar código-fonte]
Deve-se observar que Jesus viveu no contexto da espiritualidade judaica, que nos evangelhos se cita frequentemente os textos sagrados do judaísmo e que Jesus, como judeu, estava sob a Torá. Seguramente orou as Dezoito Bençãos, o Shema, o Avinu Malkenu (Pai nosso, Rei nosso), os Salmos o Tehilim ("louvores" em português), entre outras muitas orações que existiam dentro do corpo religioso judaico.
Pode-se assegurar que, se o judaísmo introduziu uma grande novidade no contexto religioso de sua época, o cristianismo trouxe ao mundo de seu tempo uma nova visão da Divindade. Para o cristianismo existia uma deidade, a dos judeus. Só havia um Deus verdadeiro, mas não para um só povo. O Senhor passou de ser um Deus local do povo judeu para ser um Deus universal. O Deus dos cristãos se mostrava a todos os homens que quiseram segui-lo sem distinção de sua origem. Segundo o cristianismo, O Senhor queria um novo povo ao que qualquer homem de boa vontade podia pertencer e esse novo povo era a Igreja. Essa é a razão pela qual diferentes denominações cristãs nomeiam a si mesmas como o Novo Israel.
No principio, os primeiros cristãos se consideravam parte do povo judeus, oravam nas sinagogas e respeitavam toda a Torá. No primeiro Concílio de Jerusalém, narrado no capítulo 15 do livro de Atos dos Apóstolos, se diz que os gentios que abraçavam a Cristo não estavam obrigados a cumprir a Torá dada ao povo de Israel. Por exemplo, os cristãos de origem gentílica não estam obrigados a circuncidar-se e guardar o Shabat. A partir deste momento, o cristianismo começou a separar-se gradualmente do judaísmo.
O Pai nosso foi fundamental neste ponto. Ao separar-se do judaísmo, o cristianismo teve que ir adquirindo uma identidade própria e a principal separação da espiritualidade judaica era a oração. O cristianismo teria que buscar sua própria oração, para não ser considerado uma seita do judaísmo. O Pai nosso passaria a ser a principal separação que diferenciaria o povo "novo" do "velho" neste ponto da história. A diferença não estava muito clara, entre os judeus e os primeiros seguidores do cristianismo.
Os primeiros cristãos tinham um grande respeito pela Oração dominical. A Oração dominical não se ensinava a qualquer um. Sua recitação constituía um privilégio que só se outorgava aos que já haviam recebido o batismo. Era a última coisa que se ensinava aos catecúmenos e só na véspera de seu batismo. Era a maior e mais apreciada jóia da fé.
Os antigos cristãos das Igrejas da África tomaram sua profissão de fé (quid credendum) desta oração. Uma profissão de fé é uma declaração de suas crenças, um exemplo disto é a oração do Credo, o símbolo niceno do catolicismo latino e oriental. Os que pretendiam obter o batismo deviam ter um profundo conhecimento da oração (quid orandum). Os catecúmenos deviam de seguir detalhadamente a explicação docredo e posteriormente deviam recitá-lo publicamente de memória. A transição entre estes passos era o Pai nosso. A profissão de fé no cristianismo é uma parte fundamental, pois mediante ela se declaram quais são suas crenças fundamentais e básicas. O fim que as igrejas primitivas da África tomaram como base para sua profissão de fé demostra que, desde o princípio do cristianismo, estas palavras de Jesus foram consideradas as mais santas palavras.
Na igreja primitiva, a oração do Pai nosso estava reservada para o momento mais alto da celebração que posteriormente o catolicismo chamaria missa. Haviam de preceder fórmulas que se assemelhavam seu respeito. Estas fórmulas têm sido herdadas por igrejas em suas liturgias atuais: na liturgia da igreja oriental, se diz como introdução: "Tu és digno, ó Senhor, concede-nos que alegremente e sem temor, nos atrevamos a te invocar, Deus celestial, como um Pai, e que digamos: Pai nosso...". Na primitiva liturgia romana o sacerdote precedia a oração com a frase: "nos atrevemos a dizer", reconhecendo a enorme audácia que há em repetir palavras consideradas tão santas pelo cristianismo.
Análise[editar | editar código-fonte]
Será usada a tradução da Bíblia de Jerusalém (BJ) (veja acima)
Instruções preliminares[editar | editar código-fonte]
Antes de propor os termos da oração, Jesus faz algumas orientações preliminares (Mateus 6:5-8).
A Edição Pastoral da Bíblia comenta essa passagem por meio de uma nota de rodapé relativa a Mateus 6:5-6[4] , que diz que:
“ | Na oração, o homem se volta para Deus, reconhecendo-o como único absoluto, e reconhecendo a si mesmo como criatura, relativizando a auto-suficiência. Por isso, rezar para ser elogiado é colocar-se como centro, falsificando a oração. | ” |
A Bíblia de Jerusalém comenta essas instruções preliminares por meio de nota de rodapé ao termo "orardes" em Mateus 6:6, na qual observa que[5] : Jesus também instruiu sobre o modo de orar por meio de seu exemplo, como em Mateus 14:23, e a orar:
- com humildade diante de Deus (cf. Lucas 18:10-14) e dos homens (cf. Mateus 6:5-6 e Marcos 12:40);
- mais com o coração do que com os lábios (cf. Mateus 6:7);
- com confiança na bondade do Pai (cf. Mateus 6:8 e Mateus 7:7-11);
- com persistência (cf. Lucas 11:5-8 e Lucas 18:1-8);
- com fé, para que seja atendida (cf. Mateus 21:22);
- em seu nome (cf. Mateus 18:19-20, João 14:13-14, João 15:7, João 15:16 e João 16:23-27);
- para pedir coisas boas (cf. Mateus 7:11), tais como:
-
- 7.1: o Espírito Santo (cf. Lucas 11:13);
- 7.2: o perdão (cf. Marcos 11:25);
- 7.3: o bem para aqueles que perseguem os cristãos(cf. Mateus 5:44 e Lucas 23:34);
- 7.4: a vinda do Reino de Deus e a preservação durante a provação escatológica (cf. Mateus 24:20, Mateus 26:41, Lucas 21:36 e Lucas 22:31-32).
A Bíblia do Peregrino[6] comenta essas instruções preliminares por meio de notas de rodapé que observam que:
- não se referem à oração comunitária que é necessariamente pública e é respaldada por diversos salmos que se referem ao louvor a Deus perante a assembleia;
- alguns Salmos se referem à oração feita antes de dormir (ex: Salmos 4:5 e Salmos 77:3-5) ou de súplica dos doentes (ex. Salmos 6: e Salmos 38:);
- não se deve converter a oração em espetáculo, pois seria um contrassenso louvar a Deus para glória própria, que não estaria confinado no templo, mas presente em toda a parte, ainda que oculto (cf. Isaías 45:15);
- Mateus 6:6 tem um precedente no Antigo Testamento em: II Reis 4:33;
- não condenam a frequência (cf. Lucas 18:1), mas a prolixidade (cf. Tiago 1:26 e Eclesiástico 7:14);
- Mateus 6:8 tem precedentes no Antigo Testamento em: Isaías 65:24 e Salmos 139:4.
A Tradução Ecumênica da Bíblia comenta essas instruções preliminares por meio de notas de rodapé que observam[7] que:
- se referem às preces que deveriam ser feitas em horas fixas, e nessas ocasiões os hipócritas procuravam se fazer notar;
- traduz a primeira parte de Mateus 6:7 como "Quando orardes não multipliqueis as palavras", e diz que o verbo grego "battalogein" permite diversas interpretações, razões pelas alguns preferem traduzir como: "(não) dizer coisas vãs" ou "(não) dizer palavras sem sentido", outros dizem que Jesus se referia a suspiros mágicos que multiplicavam fórmulas abracadábricas para aplacar a divindade;
- o erro na oração pagã (cf. I Reis 18:27) ou judaica (cf. Isaías 18:27 e Eclesiástico 7:14) consistiria em por meio da sua extensão pressionar a divindade.
"Pai nosso, que estais no céu"[editar | editar código-fonte]
Junto as duas primeiras palavras—"Pai nosso"—são um título usado em outro lugar no Novo Testamento, bem como na literatura judaica. Refere-se a Deus Pai. Isso também implica na proximidade entre a natureza pessoal da relação entre Deus Pai e essa oração, como um pai e uma criança, como ensinado por Jesus em cada um dos seus quatro evangelhos. Não trinitarianos podem tomar essa linha referente ao posicionamento de Deus como pai de toda a humanidade, incluindo Jesus a quem é normalmente posicionado como o filho.
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "Pai nosso do céu!" observa[8] que:
- no Antigo Testamento existem precedentes de referir-se a Deus como Pai, como por exemplo em Salmos 89:27, Eclesiástico 23:1 e Eclesiástico 51:10, mas naquele contexto, isso era privilégio do Rei;
- na versão da oração apresentada no Evangelho segundo Lucas (cf. Lucas 11:2) a evocação é feita simplesmente ao "Pai", que talvez seja a fórmula original da oração;
- ao referir-se à Deus como Pai, a comunidade cristã expressa a consciência de sua filiação, testemunhada pelo Espírito Santo (cf. Romanos 8:15 e Gálatas 4:6-7).
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que diz que a tradução literal dessa frase seria: "Pai nosso, aquele nos céus" observa[8] que:
- os discípulos se dirigem ao seu Pai comum, que é único (cf. Mateus 23:9);
- a expressão "Pai" expressa que Deus tem amor paterno e, portanto, está bem próximo dos homens;
- a expressão "nos céus" corresponde a um modo de expressão semítico que afirma que Deus está em lugar onde domina a terra inteira;
- outra tradução possível para a frase seria: "Pai celeste, nosso Pai";
- no Evangelho segundo Mateus, Jesus também se refere à Deus como:
-
- 5.1 "meu Pai, aquele nos céus" em Mateus 7:21, Mateus 10:32-33, Mateus 12:50, Mateus 16:17, Mateus 18:10 e Mateus 18:19;
- 5.2 "meu Pai, o celeste" em Mateus 15:13 e Mateus 18:35;
- 5.3 "vosso Pai, o celeste" em Mateus 5:48, Mateus 6:14, Mateus 6:26, Mateus 6:32 e Mateus 23:9;
- 5.4 "vosso Pai, aquele nos céus" em Mateus 5:16, Mateus 5:45, Mateus 6:1, Mateus 7:11 e Mateus 18:14;
- 6. também existem referências à "vosso Pai, aquele nos céus" em Marcos 11:25 e Lucas 11:13;
- 7. a invocação inicial em Lucas 11:2 é mais simples do que a proferida em Mateus 6:9, e também é empregada, nessa forma simples, no Evangelho segundo Lucas em Lucas 22:42, Lucas 23:34, Lucas 23:46 eLucas 10:21.
"santificado seja o Vosso Nome"[editar | editar código-fonte]
Tendo iniciado, a oração começa da mesma maneira como o Kadish, santificando o nome de Deus, e seguindo expressa a vontade de que a vontade de Deus e o Reino aconteçam. No judaísmo o nome de Deus é de importância extrema, e honrar o nome é central à piedade. Os nomes não são vistos simplesmente como rótulos, mas como reflexões verdadeiras da natureza e identidade do qual eles se referem. Assim, a oração que santifica-se o nome de Deus era tida como equivalente a santificar o próprio Deus. "Santificado seja" está na voz passiva por isso não indica quem é que está santificando. Uma interpretação é que há uma chamada a todos os crentes para honrar o nome de Deus. Quem vir a oração primariamente como escatológica concebe a oração ser uma expressão de desejo pelo fim dos tempos, quando o nome de Deus, na visão destes relata a oração, será universalmente honrado.
A Bíblia de Jerusalém destaca o paralelismo/correlação temática da parte final desse versículo com: Lucas 11:2, Ezequiel 36:23, João 17:6 e João 17:26.
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "Seja respeitada a santidade a santidade do teu nome", observa[8] que:
- santificar não é dar, mas reconhecer;
- em Números 27:17 Deus critica os hebreus pois eles não o teriam santificado;
- a santificação de Deus também é enaltecida em: Salmos 99:, Isaías 6:3 e Isaías 29:23;
- em Ezequiel 36:20-23 é prevista a santificação do nome de Deus entre todas as nações, superando a profanação que ocorrera;
- o contrário da santificação do nome de Deus é a sua profanação (fazer mau uso do nome de Deus, usar o nome de Deus em vão).
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que traduz essa frase como: "dá a conhecer a todos quem tu és", observa que:
- a tradução literal seria: "que o teu nome seja santificado";
- o "Nome" de Deus é um termo bíblico tradicional para designar respeitosamente o seu "ser", principalmente nos textos cultuais, portanto, "Santificar" a Deus ou o seu "Nome" é uma expressão bastante empregada na Bíblia e no judaísmo;
- como Deus é "Santo" por excelência, a expressão reconhece e proclama tal fato e presta glória a Deus (cf. João 12:28);
- a Bíblia e o judaísmo conhecem dois modos de santificar a Deus ou o seu nome:
-
- 4.1 os legistas e rabinos exortavam os fiéis a santificar a Deus pela obediência aos seus mandamentos (cf. Levítico 22:31-33, Números 27:14, Deuteronômio 32:51, Isaías 8:13 e Isaías 29:13);
- 4.2 os profetas anunciavam que Deus vai santificar-se, manifestando-se aos olhos de todas as nações como justo Juiz e Salvador (cf. Isaías 5:16, Ezequiel 20:41, Ezequiel 28:22, Ezequiel 28:25, Ezequiel 36:23, Ezequiel 38:16, Ezequiel 38:23 e Ezequiel 39:27);
- 5. assim como a vinda do Reino de Deus, a santificação do nome de Deus somente pode ser assegurada pela ação do próprio Deus;
- 6. há outros trechos no Evangelho segundo Mateus em que se indica a ação de Deus sem nomeá-lo expressamente (elipse do sujeito): Mateus 5:6-7, Mateus 5:9, Mateus 7:1-2 e Mateus 7:7-8.
"venha a nós o Vosso Reino"[editar | editar código-fonte]
O pedido para que o Reino de Deus venha é geralmente interpretado como uma referência à crença, comum na época, que a figura do Messias traria o Reino de Deus. Tradicionalmente, a vinda do Reino de Deus é visto como um dom divino recebido na oração, e não uma conquista humana. Esta ideia é muitas vezes contestada por grupos que acreditam que o Reino virá pelas mãos dos fiéis que trabalharam por um mundo melhor. Acredita-se por estes indivíduos que a ordem de Jesus para alimentar o faminto e vestir os necessitados é o Reino referido por Ele.[9]
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "venha o teu reinado", observa[10] que:
- o reinado de Deus é o exercício de seu poder;
- tal pedido da vinda é o pedido de sua realização histórica final, descrita em: Salmos 98:8-9 e corresponde ao anúncio primordial da boa nova, por obra de João Batista e de Jesus, um período no qual Deus regerá a história dos homens (cf. Salmos 82:8 e Salmos 98:);
- esse pedido não é fatalismo nem resignação inerte (cf: Mateus 7:21, Mateus 12:50 e Mateus 26:42);
- deve-se pedir a vinda do Reino pois é um processo que se manifestou primeiramente em Jesus e também deve se manifestar em nós.
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que traduz essa frase como: "faze com que venha o teu Reinado", observa[10] que:
- a tradução literal seria: "que o teu Reinado venha";
- pede-se que o Reinado inaugurado por Jesus se manifeste e seja definitivamente reconhecido por toda a terra;
- em Mateus 3:2, João Batista havia se referido a esse Reinado como "Reinado dos Céus", em conformidade com uma tradição judaica que evitava pronunciar o Nome de Deus;
- a expressão "Reinado dos Céus" não designa um "reino celeste", mas o Reino Daquele que está nos céus (cf. Mateus 5:48, Mateus 6:9 e Mateus 7:21) sobre o mundo;
- algumas passagens do Antigo Testamento também fazem referência ao Reino de Deus, tais como: Salmos 22:29, Salmos 103:19 e Salmos 145:11-13;
- a expressão "Reinado de Deus" também é empregada no Evangelho segundo Mateus em: Mateus 12:28, Mateus 19:24, Mateus 21:31 e Mateus 21:43;
- alguns manuscritos apresentam essa frase em Lucas 11:2 como "Faze vir sobre nós o teu Reinado", outros substituem esse pedido (ou o anterior) por "Faze vir o Teu Espírito Santo sobre nós, e que ele nos purifique", tal opção pode decorrer de influência da liturgia do batismo.
"seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu."[editar | editar código-fonte]
A oração seguinte, com uma expressão de esperança que seja feita a vontade de Deus. Alguns vêem a expressão da esperança como um anexo, declarando um pedido para que a terra esteja sob comando divino diretamente e manifestadamente. Outros veem isso como um convite às pessoas para se submeter a Deus e a seus ensinamentos. Nos Evangelhos, estes pedidos têm o esclarecimento acrescentado na terra, como no céu, uma frase ambígua em grego que pode ser uma símile (i.e fazer a terra parecida com o céu) , ou um paralelismo (i.e tanto no céu quanto na terra), contudo a símile seja uma significativa interpretação mais comum.A Bíblia de Jerusalém[11] observa que essa frase pode ser um acréscimo proposto por Mateus, pois não consta na versão da oração apresentada em Lucas 11:2-4[12] e a correlação temática da parte final desse versículo com: Mateus 7:39, Mateus 21:31, Mateus 26:39, Mateus 26:42 e Daniel 4:32.
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "cumpra-se o teu designo na terra como no céu", observa que cumprir o desígnio equivale a exercer o reinado.
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que traduz essa petição como: "faze com que se realize a tua vontade, na terra, à imagem do céu", observa que:
- a tradução literal seria: "que tua vontade se realize como no céu assim na terra";
- existe correlação temática dessa petição com a oração de Jesus no Monte das Oliveiras (cf. Mateus 26:42 e Lucas 22:42);
- esse pedido não é uma prece de resignação, mas um apelo à Deus para que faça com que sua vontade se cumpra, trata-se de um pedido estreitamente ligado com os dois anteriores (cf. Isaías 44:28,Isaías 46:10-11, Isaías 48:14, Efésios 1:5 e Efésios 1:9);
- essa vontade relaciona-se com os homens e não pode ser posta em prática sem a sua adesão (cf. Jeremias 31:31-33, Ezequiel 36:27, Mateus 5:17-20, Mateus 6:33, Mateus 7:21, Mateus 21:24-27, Mateus 12:50 e Mateus 21:28-31);
- a tradução mais como para a segunda parte da petição: "assim na terra como no céu" é inadequada, pois insinua que se trata de uma adição (na terra e também no céu), quando o verdadeiro sentido é pedir que se realize na terra uma situação que já existe no céus (cf. Daniel 4:33 e I Macabeus 3:60);
- o Céu é concebido como o Reino de Deus totalmente realizado, portanto, a terra deve converte-se em imagem do Céu.
"O pão nosso de cada dia nos dai hoje"[editar | editar código-fonte]
Os versos seguintes são pedidos mais pessoais, diferentes do Kadish. O primeiro está relacionado ao pão "diário". Normalmente o significado da palavra traduzida como diário, (gr: ἐπιούσιος/trans: epiousios), é obscuro. A palavra é quase uma hapax legomena, ocorrendo somente nas versões de Lucas e Mateus do Pai nosso. (Uma vez pensou-se equivocadamente ter encontrado a palavra em um livro de contabilidade do Egito.)[13] . Pão diário parece ser uma referência à passagem na qual Deus provia maná aos israelitas a cada dia enquanto eles estavam no deserto (Êxodo 16:15-21). Já que eles não podiam manter qualquer maná durante a noite, tiveram que depender de Deus para fornecer um novo a cada manhã. Etimologicamente epiousios parece estar relacionado com as palavras gregas "epi" (sobre, acima, em, contra) e "ousia"(substância). Os primeiros escritores cristãos ligaram o conceito à transubstanciação eucarística, o que alguns estudiosos protestantes modernos tendem a rejeitar, argumentando que a prática da Eucaristia e da doutrina da transubstanciação foram ambas desenvolvidas depois que Mateus foi escrito. Epiousios também pode ser entendida como a existência, ou seja, o pão que foi fundamental para a sobrevivência (como na Peshitta siríaca onde a linha é traduzida por "dar-nos o pão da que temos necessidade hoje."). Na época, pão era o alimento mais importante para a sobrevivência. No entanto, os estudiosos da linguística consideram essa versão improvável, uma vez que violaria as regras padrão de formação de palavras. O grego koiné tinha vários termos mais comuns para a mesma ideia. Alguns interpretam epiousios no sentido de amanhã, como na redacção dada pelo Evangelho dos Nazarenos para a oração. [14] A tradução tradicional, "diário", está convenientemente próxima do significado desejado pelas duas outras possibilidades. Os cristãos que leem a Oração do Senhor sob um prisma escatológico, entendem epiousios como referindo-se à Segunda Vinda - a leitura para amanhã (e pão) num sentido metafórico. A maioria dos estudiosos discorda, sobretudo porque Jesus é retratado em Lucas e Mateus como cuidador de necessidades diárias de seus seguidores, especialmente nos milagres relacionados ao pão. [15] [16]
A Bíblia de Jerusalém destaca o paralelismo/correlação temática desse versículo com: Lucas 11:3, Provérbios 30:8-9 e João 6:32-35; e observa[17] que:
- outras traduções possíveis seriam: "pão necessário à subsistência" ou "pão de amanhã", ou seja, deve-se pedir à Deus nada mais do que o sustento indispensável à vida material;
- os Padres da Igreja associaram esse texto à nutrição da fé (o pão da palavra de Deus e o pão eucarístico) com base em João 6:22-35.
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "dá-nos hoje o pão de amanhã", observa que:
- existem dúvidas sobre o significado do termo: "epiousion", encontrado nos manuscritos mais antigos, e nesse contexto a Vulgata traduziu o termo, no Evangelho segundo Mateus como "supersubstantialem" e no Evangelho segundo Lucas como "quotidianum", e, nesse contexto surgem duas interpretações: o pão empírico cotidiano dado a todo vivente (cf. Salmos 136:25); e o pão do amanhã escatológico (cf.João 6:);
- a segunda interpretação seria mais provável (cf. Êxodo 19:25), a não ser que prevaleça o duplo sentido, e no sustento diário da vida se vislumbre a vida eterna.
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que traduziu essa petição como: "Dá-nos hoje o pão que precisamos", observa que:
- diante da dificuldade para traduzir o adjetivo em grego que qualifica o pão solicitado, pois trata-se de palavra que não é empregada em nenhum outro lugar do Novo Testamento, preferiu-se traduzi-lo como: "(pão) de que precisamos";
- não foram adotadas as expressões: "pão de amanhã" ou "pão do dia que vem", apesar do fato de que o adjetivo em grego habitualmente se referia ao "dia que começa", pois pedir hoje o "pão de amanhã" estaria em desconformidade com Mateus 6:34 e Provérbios 27:1, ainda que se considere que esse "pão de amanhã" poderia ter caráter escatológico, e, portanto se referir ao pão do banquete do mundo vindouro;
- também não foram adotadas as expressões: "pão de hoje" ou "pão nosso até amanhã", apesar do fato de que o adjetivo em grego também poder ser empregado para se referir o dia presente ou a tarde do dia que começa, ou seja, como oposto do "dia seguinte"), ainda que se considere que esse que tal opção identificaria o pão pedido com o maná, que tinha que ser consumido no dia em que caia ou apodreceria;
- a opção por traduzir como "pão necessário à subsistência" foi descartada, pois se entendeu que era pouco provável que Jesus tenha utilizado a frase com esse sentido;
- é comum se ver nesse pedido uma referência à Eucaristia ou à "Palavra de Deus";
- esse pedido não exige uma segurança para o futuro, Jesus estimula seus discípulos a pedirem "dia após dia" o alimento de que precisam, na certeza de que Deus proverá cada dia, assim como alimentou o povo no deserto com o maná (cf. Êxodo 16:4-5);
- enquanto a versão dessa frase apresentada no Evangelho segundo Mateus somente pode ser traduzida como um pedido do "pão de hoje", na versão apresentada no Evangelho segundo Lucas, pede-se o "o pão que nos é necessário para cada dia", pois naquele Evangelho encara-se a vida cristã como um esforço diário (cf. Lucas 9:23), enquanto que o Evangelho segundo Mateus tem uma perspectiva diferente (cf. Mateus 6:34).
"E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores."[editar | editar código-fonte]
A Bíblia de Jerusalém destaca o paralelismo/correlação temática desse versículo com: Lucas 11:4, Mateus 18:21-35 e Efésios 4:32.
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "perdoa nossas ofensas como também nós perdoamos aos que nos ofendem", observa[18] que:
- o texto original emprega o termo "dívidas", também empregado em Romanos 13:8 e em Mateus 18:27-34;
- a condição do perdão mútuo encontra precedente em Eclesiástico 28:2 e também se manifesta em Lucas 6:37.
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que traduziu essa petição como: "perdoa-nos as nossas faltas contra ti, como nós mesmos temos perdoado aos que tinham faltas contra nós", observa que:
- a tradução literal seria: "perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado àqueles que nos deviam";
- a dívida é uma obrigação especialmente grave no mundo antigo, tanto que podia dar causa a perda da liberdade (cf. Mateus 18:23-35);
- esse termo é empregado no judaísmo para designar a situação do homem diante de Deus, de quem é devedor insolvente (estado de pecador, cf. Lucas 13:2-4);
- quando se considera que no mundo moderno é comum a tomada de empréstimos, entendeu-se que o termo "dívida" não revelaria a gravidade da situação, e, portanto, empregou-se o termo "faltas" que representa melhor a ofensa feita pessoalmente a Deus e a situação miserável do pecar;
- o perdão dos pecados é a graça por excelência, pois somos incapazes de reparar nossos pecado;
- Jesus procura relacionar fortemente nossas obrigações perante Deus com as nossas obrigações perante nossos irmãos;
- essa ideia tem precedente em: Eclesiástico 28:1-7 e paralelos em Mateus 5:7, Mateus 6:14-15, Mateus 18:23-35 e Marcos 11:25-26;
- esse perdão aos irmãos não compra o nosso perdão perante Deus, mas revela a sinceridade de nosso pedido.
"E não vos submetas à tentação,"[editar | editar código-fonte]
A Bíblia de Jerusalém destaca o paralelismo/correlação temática da primeira parte desse versículo com: Lucas 11:4, Mateus 26:41 e João 17:11; e observa[19] que a tradução apresentada é equivocada, pois embora Deus nos submeta à provação, não tenta ninguém (cf. Tiago 1:12 e I Coríntios 10:13).
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "não nos deixe sucumbir à prova", observa[20] que a provação é condição de todo homem, inclusive do religioso (cf. Eclesiástico 2:1-5, Eclesiástico 2:1-5 eSabedoria 3:5), portanto, não cabe pedir para não estar sujeitos às provas, mas de ter força para superá-las (cf. Mateus 26:41).
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que traduziu essa petição como: "e não nos introduza na tentação", observa que:
- a tentação nesse versículo não se confunde com o tipo de prova ao qual Deus submeteu à Abraão (cf. Gênesis 22:, I Macabeus 2:52, Eclesiástico 44:20, Jubileus 17:16 (Livro dos Jubileus) e Hebreus 11:17) ou o seu próprio povo (cf. Êxodo 15:22-25, Êxodo 16:2-4, Êxodo 20:20, Deuteronômio 8:2-5, Deuteronômio 13:4, Juízes 2:22, Juízes 3:1-4 e Sabedoria 11:1-14);
- trata-se da tentação que vem do próprio Satanás que procura por a perder àqueles que são tentados (cf. I Coríntios 7:5, Tessalonicenses 3:5, I Pedro 5:8-9, Apocalipse 2:10, Lucas 4:2-13, Lucas 8:12-13 eLucas 22:31);
- no Novo Testamento nunca se diz que Deus tenta (cf. Tiago 1:13), entendimento que já existia no Antigo Testamento (Eclesiástico 15:11-12);
- por outro lado, entende-se que nada escapa à soberania de Deus, nem sequer o próprio Satanás, portanto trata-se de um pedido por uma intervenção ativa de Deus;
- trata-se de um pedido para que Deus nos preserve de situações críticas de sujeição à tentação, como aquelas que Jesus enfrentou no deserto (cf. Mateus 4:1, Mateus 26:41, I Coríntios 10:13, Eclesiástico 23:1, Eclesiástico 33:1 e Lucas 22:40);
- também seria possível traduzir como: "faze que não entremos na tentação", ou seja seria um pedido para nos preservar de cair nas intenções do tentador (cf. I Timóteo 6:9).
"mas livra-nos do Maligno."[editar | editar código-fonte]
A Bíblia de Jerusalém destaca o paralelismo/correlação temática da segunda parte desse versículo com: Mateus 13:19, Mateus 13:38[21] , João 17:15, I João 2:14 e II Tessalonicenses 3:3; e observa que:
- essa frase pode ser um acréscimo proposto por Mateus, pois não consta na versão da oração apresentada em Lucas 11:2-4[21] ;
- algumas versões da oração acrescentam: "Porque a ti pertencem o Reino o Poder e a Glória pelos séculos. Amém"[22] .
A Bíblia do Peregrino, que traduz essa frase como: "livra-nos do maligno", observa que o maligno é o tentador, que na provação tenta provocar a queda, é o Satã, a serpente que tentou Eva.
A Tradução Ecumênica da Bíblia, que traduziu essa petição como: "mas livra-nos do Tentador", observa que:
- a tradução literal seria: "mas livra-nos do mal" (mal não personificado - cf. Mateus 5:11 (perseguição), Mateus 6:23 (escuridão) Mateus 6:23 ou (todo o mal) II Timóteo 4:18 ) ou "do Maligno" (mal personificado - cf. Mateus 13:19), Mateus 5:37, Mateus 13:38, João 17:15 e II Tessalonicenses 3:3);
- a hipótese de referência ao mal personificado é reforçado pelo sentido intensivo da tentação;
- a identificação do "Maligno" como "Tentador" ocorre em Mateus 4:3 e I Tessalonicenses 3:5.
Acréscimos[editar | editar código-fonte]
A Tradução Ecumênica da Bíblia, observa que alguns manuscritos, acrescentam o seguinte epílogo: "pois teus são o reino, o poder e a glória para sempre", que provém da liturgia e que é empregada em uma versão ecumênica da oração.
Explicações posteriores[editar | editar código-fonte]
Os versículos seguintes (14 e 15) dedicam-se à importância do dever de perdoar os irmãos.
A Bíblia de Jerusalém destaca o paralelismo/correlação temática desses versículo com: Marcos 11:25, Eclesiástico 28:1-5, Mateus 5:7, Efésios 4:32, Colossenses 3:13 e Tiago 2:13.
Versão latina[editar | editar código-fonte]
A versão latina da oração tem importância cultural e histórica no Ocidente e principalmente na Igreja Católica. O texto usado na liturgia (Missa, Liturgia das Horas, etc.) diverge levemente do que foi usado na Vulgata e provavelmente é anterior a ela.
A doxologia associada a Oração do Senhor é encontrada em quatro manuscritos da Vetus Latina, apenas duas dão em sua integridade o texto. Outros manuscritos sobreviventes da Vetus Latina não tem a doxologia. A tradução da Vulgata também não a inclui, concordando assim com as edições do críticas do texto grego.
Nas liturgias do rito latino, a doxologia nunca está ligada a Oração do Senhor. Ela só foi usada na liturgia do rito romano, está na missa como revisada após o Concílio do Vaticano II. Ela não está localizada imediatamente após a Oração do Senhor, mas sim após a oração sacerdotal, Libera nos, quaesumus..., elaborada na petição final, Libera nos a malo (Livra-nos do mal).
Pai Nosso na Igreja Católica[editar | editar código-fonte]
Segundo a doutrina católica, Jesus ensinou o Pai Nosso[23] aos seus discípulos, que estavam ansiosos em saber como rezar bem, no famoso Sermão da Montanha. O Pai-Nosso ou Padre-Nosso é uma "oração cristã insubstituível", "a síntese de todo o Evangelho (Tertuliano) e a oração perfeitíssima (São Tomás de Aquino)". "A tradição litúrgica da Igreja usou sempre o texto de Mateus 6, 9-13[24]
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