sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

CHINELO

chinelo é um tipo de calçado aberto, feito de borrachaPVCcouropalhatecido ou outro material. Possui o formato aproximado do contorno de cada um dos pés. A palavra "chinelo" vem do latim medieval *planella, de planus,-a,-um 'plano', segundo Corominas, talvez por influência do dialeto genovês cianella (it. pianella, dim. de piano 'plano').
Alguns chinelos apresentam uma tira bifurcada com origem entre o dedão e o indicador do pé e que se estendem aproximadamente por 11 centímetros até as laterais do pé. Outros chinelos são formados apenas por uma tira, de largura variável, que passa sobre o peito do pé.
Muitas vezes os chinelos são calçados de uso doméstico, durante os dias quentes, especialmente no verão, ou como acompanhamento do traje de dormir. Pode também compor parte do traje de banhistas, na ida à praia ou na beira da piscina. Nada impede, porém, que também sejam usados socialmente.
É um importante calçado no contexto de moda dia a dia, principalmente em cidades litorâneas e com clima quente. Suas principais características são os dedos de fora, sem salto (com salto seria uma sandália), e com ou sem tiras no tornozelo. Também são chamadas de rasteiras.No mês de maio de 2012, enquanto eu redigia este texto, recebi um email de uma querida amiga, também historiadora e professora, desejosa de dividir com outros colegas uma notícia que lhe chamara a atenção. Marly Motta, numa manhã qualquer, ocupada com outros afazeres, ouvira pela rádio CBN – “a rádio que toca notícia” –, um filólogo explicar o significado da palavra ócio. Ele ensinava, recorrendo ao saber de sua disciplina, que longe de querer dizer desocupação ou não ter o que fazer, o que lhe dava uma conotação um tanto negativa, a origem grega da palavra demarcava uma idéia bem diferente: a de ser livre para escolher fazer aquilo que se gosta. Assim, o espaço do ócio era o da liberdade de escolha da ação, do prazer de realizar algo e, por isso, seguindo Marly, na esteira do narrador, vinha a “surpresa”: fora a palavra ócio que dera origem à palavra escola, exatamente porque ela deveria ser o espaço para o livre pensamento, para a criatividade das crianças e dos jovens, enfim, para que nela eles aprendessem a fazer o que caracteriza a humanidade: pensar. Começar o texto com essa historieta é um raro privilégio. Ela me conta, em 2012, como o rádio mantém seu poder de informar e divertir um amplo e diversificado público, entrando em suas casas e convivendo amigavelmente com modernas tecnologias, inimagináveis nos anos 1950, quando a minha história vai se passar. Tratase de uma notícia curta (eu confirmei com Marly), que tem um foco bem determinado e que consegue interessar o ouvinte, na medida em que o surpreende por meio de um evento, no caso lingüístico, pequeno, mas cheio de desdobramentos. Nesse caso, a palavra ócio é exatamente o contrário do que a vã filosofia diz que ela é; para uma professora, como eu e Marly, que, ao longo de nossas vidas, convivemos com alunos de todas as idades, entender a escola e o ensino de história nessa chave semântica, é uma descoberta prazerosa. Ou seja, e já adentrando à minha reflexão, a história da palavra escola, narrada de forma interessante, envolve: o rádio como mídia; sua possibilidade de ensinar algo valioso e divertido; e uma estratégia de fazê-lo em poucos minutos, através 2 de historietas que exploram a curiosidade dos ouvintes. Eles, por isso, fixam o sentido principal do que lhes foi transmitido e, como Marly, provavelmente compartilham a notícia, divulgando-a por outras mídias, tornando-se novos mediadores no processo desencadeado pela CBN. Tomando cuidado para não incorrer no pecado mortal de anacronismo, meu objeto de análise neste texto tem exatamente essas características principais. Guardadas as marcas presentistas da escrita da história, ele começa destacando, como passados mais de 70 anos, elementos de uma matriz discursiva para se ensinar algo de interesse para o grande público, por meio de mídias – como periódicos, rádio, TV etc –, podem guardar constantes que nos incitam a refletir sobre a duração de estratégias narrativas de teor pedagógico, traduzidas, de forma densa, na noção de curiosidade. Não, evidentemente, aquela curiosidade que pode matar o gato, mas sim a que prende a atenção do público, partindo de algo simples e pequeno, para, ao final, surpreendê-lo de alguma maneira, seja essa surpresa um tanto cômica, um tanto trágica, ou apenas “curiosa”. Enfim, curiosidade é uma categoria boa para pensar a minha história dos anos 1950. Mas, seguindo um pouco do que aprendi na pesquisa e desejando deixar o leitor curioso, dividi o texto em duas partes. Na primeira, apresentarei o objeto que analiso. Um programa de rádio que vai ao ar entre 1952 e 1955, situando as condições de sua produção na emissora que o abriga, para que o leitor possa situá-lo como um importante instrumento de divulgação de uma narrativa da história, cujo autor era jornalista, teatrólogo, literato e professor, mas não um “historiador de ofício”, embora Viriato Corrêa, esse era o seu nome, fosse apresentado pela rádio como tal. Na segunda parte, discutirei os conteúdos veiculados nas emissões, mas, principalmente, estarei atenta às estratégias narrativas para apresentação de tais conteúdos. Evidentemente, nem este texto, nem a pesquisa já realizada, esgota a riqueza e multiplicidade de questões que tal prática cultural de escrita/audição da história possibilita. Mesmo assim, ela permite o teste de minha hipótese principal, que é defender que tal programa, considerando seu autor e veículo, me permite discutir uma matriz de escrita da história destinada a um grande público (uma história ensinável, como a tenho chamado), cuja estrutura narrativa estava praticamente consolidada nos anos 1950, sendo compartilhada por outros intelectuais do período e apropriada em novas modalidades, ultrapassando o século XX. Por isso, escolhi a categoria curiosidade como guia para pensar as estratégias 3 discursivas de tal matriz, até porque o autor do programa intitulou-o de História de chinelo: série de interessantes curiosidades históricas. 2- A “campeã de audiência” e o ensino da história, ou como uma rádio comercial também cumpre uma função educativa História de chinelo: série de interessantes curiosidades históricas estreou, na Rádio Nacional, em 14 de março de 1952, ficando no ar até setembro de 1955, o que cobre um período de um pouco mais de três anos consecutivos. Era um programa diário, só não sendo irradiado aos domingos o que, evidentemente, podia sofrer algumas variações ao longo desses anos. O programa era curto, tendo precisos cinco minutos de duração, indo ao ar às 21:30 horas, o que explica o nome da atração que o substitui em 1955: Programa das nove e meia. Isso significava que ele se inseria no horário considerado nobre das rádios, algo que cobria as irradiações que decorriam entre 20 e 22 horas. Por tal razão, seu público era fundamentalmente adulto, mas não preferencialmente apenas feminino, pois os homens já estariam nas casas após voltarem do trabalho. Seu autor era, como se disse, Viriato Corrêa, então um senhor com 68 anos de idade, integrante da Academia Brasileira de Letras desde 1938, e possuidor de uma produção intelectual na área da literatura infantil e do teatro muito numerosa e reconhecida, cujo maior destaque era o livro Cazuza (1938). Nessa produção se destaca, claramente, uma intenção e preocupação com o ensino de história, especialmente da História do Brasil, evidenciadas em títulos de livros para adultos (O Brasil dos meus avós: crônicas da história brasileira, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1927), livros escolares (História do Brasil para crianças, da mesma editora,1934) e peças históricas, como A Marquesa de Santos (1938) e Tiradentes (1941), entre inúmeros outros exemplos. O autor, portanto, vinha publicando esse tipo de trabalhos, sistematicamente, desde os anos 1920, sendo também um assíduo colaborador de jornais e revistas, a partir dos anos 1910, quando se muda para o Rio de Janeiro. Nesses periódicos ele escreveu matérias e manteve colunas, dirigidas a um público infantil, como o “Fafazinho” da Gazeta de Notícias, em 1907/8; “Gaveta de Sapateiro”, voltada para adultos, no Jornal do Brasil, entre 1931 e 1935; e “Teatro”, em A Manhã, jornal oficioso do Estado Novo, nos anos 1940. O que se deseja remarcar com essas rápidas 4 menções à trajetória intelectual de Viriato Corrêa é que, em início da década de 1950, ele já possuía uma “coleção” de livros e peças históricos, que evidencia seu aprendizado de um tipo de escrita da história de teor cívico-patriótico, que vinha se desenvolvendo desde as primeiras décadas do século XX, pari passu aos debates sobre a modernização da educação brasileira e a cientificidade e “utilidade” da história, para a construção de uma nação republicana. Sua narrativa estava madura, pois já fora devidamente testada por um público de leitores e es de várias idades e por um período de mais de três décadas. Pode-se observar, inclusive, que, nos anos 1950, ele não publicou muito, se compararmos sua atividade de autor com aquela desenvolvida nos anos 1930/40: apenas um livro, sugestivamente intitulado Curiosidades da história brasileira (São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1955), certamente um desdobramento do programa de rádio que fazia; e a peça O grande amor de Gonçalves Dias, de 1959, publicada pela editora Civilização Brasileira do Rio de Janeiro. Nos anos 1960, bastante idoso e doente, publica igualmente um único livro, de grande sucesso, História da liberdade do Brasil (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1962), tanto que se transforma em enredo da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, em 1967, ano de sua morte.1 Além desse trabalho dirigido às crianças, e para se ter uma idéia da posição que ocupa no campo literário, participa de uma obra coletiva, O mistério dos MMM (Rio de Janeiro, Gráfica O Cruzeiro, 1962), coordenado por João Conde, que contava com a presença de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Dinah Silveira de Queiroz, Lucio Cardoso, Raquel de Queiroz Antônio Callado e Orígenes Lessa, por exemplo. Assim, ao assinar o programa da Rádio Nacional, dispunha de vasta experiência como literato, como teatrólogo e como divulgador de conhecimentos históricos. É minha hipótese que seu envolvimento com a História foi gradual, crescente e duradouro, sendo marcado pela escolha consciente, continuamente testada e aperfeiçoada, da produção de narrativas voltadas para as crianças e para o “povo”, isto é, para um grande público, visando explicitamente sua educação cívica. Por essa razão, pode ser entendido, de forma paradigmática, como um mediador cultural, ou seja, como um intelectual que desempenha uma função estratégica para o estudo da construção de memórias nacionais e da formação de culturas históricas, nesse caso, de uma cultura 1 Trabalhei com esse livro em GOMES, Angela de Castro e CAVALCANTE, Vanessa. “História da liberdade no Brasil, ou quando uma história acaba em samba”. ROCHA, Helenice A. B., REZNIK, Luís e MAGALHÃES, Marcelo. A História na escola: autores, livros e leituras, Rio de Janeiro, Ed. FGV

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