Campo é um tipo de bioma ou vegetação caracterizado pela predominância da vegetação rasteira, normalmente constituída de gramíneas com ocorrência maior ou menor de arbustos e árvores.
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[esconder]Conceito[editar | editar código-fonte]
A mais comum acepção, que deu origem à extensa toponímia, é de que "campo" é uma grande área livre de vegetação de maior parte. Daí designar tanto uma área agrícola, como uma pastagem plantada para alimentação animal ou uma pradaria natural.[carece de fontes]
Na terminologia adotada pelo IBGE no entanto, "campo" paisagístico designa uma área ou região cujo bioma é caracterizado pela vegetação rasteira e arbustiva constituída principalmente por gramíneas e arbustos esparsos, com pequenas as árvores de maior porte reunidas em capões e nas matas de galeria das margens dos rios e lagos.[carece de fontes]
Assim, campo passou a designar paisagens tão distintas quanto os pampas que ocorrem desde o Rio Grande do Sul para o sul e oeste em terras do Uruguai e Argentina, quanto os cerrados que eram designados como savanas que ocorrem no centro-oeste do Brasil.[carece de fontes]
Uso técnico[editar | editar código-fonte]
Assim como o uso popular e as designações regionalistas, o uso técnico do termo "campo" e outros correlatos, como campina, estepe, prado, pradaria, savana, etc., varia bastante.[1]
Martius (1824) descreveu vários tipos de campos presentes no Brasil (ver Biogeografia do Brasil), incluindo neles algumas savanas, assim como Schimper (1898), embora hoje muitos autores não considerem as savanas como campos. Lindmann (1906) cita a distinção feita no Brasil Tropical entre campos limpos ou sujos segundo a quantidade de arbustos lenhosos raquíticos que continham (ver Pampas).[2][3]
No esquema de classificação da vegetação do IBGE (2012), a expressão "vegetação campestre" é usada num sentido amplo, inclusive englobando tipos de vegetação como savana e estepe. Entretanto, as vegetações tipicamente chamadas de campos por outros autores são correspondentes, neste esquema, às várias formações de nome terminado em "gramíneo-lenhosa", presentes em campinarana, savana, savana-estépica e estepe.
No sistema do IBGE (2012), os Pampas são caracterizados como um tipo de estepe.[3] Entretanto, outros autores preferem caracterizá-los com o termo tradicional "campos".[4]
Tipos[editar | editar código-fonte]
Schimper (1898)[editar | editar código-fonte]
- Prado (meadow, hygrophilous or tropophilous grassland)
- Estepe (steppe, xerophilous grassland)
- Savana (savannah, xerophilous grassland containing isolated trees)
Sampaio (1938)[editar | editar código-fonte]
Sampaio (1938) afirma que os campos naturais, "sejam quais forem os nomes regionais que tenham (campos, campinas, savanas, lanos, pampas, estepes, tundras, etc.)", podem ser enquadrados em dois tipos:[6]
- Campos arborizados ou savanas (ex., campos cerrados, cerrados ou campos cobertos)
- Campos sem árvores ou campinas (ex., campos limpos)
Além destes, o autor cita as falsas campinas (campinaranas) e os campos artificiais ou antropocórios (pastos ou pastagens).
Ellenberg e Mueller-Dombois (1967)[editar | editar código-fonte]
Segundo Ellenberg e Mueller-Dombois (1967):[7]
- Classe de formação V. Comunidades herbáceas terrestres
- A. Savanas e campos relacionados
- B. Estepes e campos relacionados (ex., pradarias da América do Norte)
- C. Prados, pastos e campos relacionados
- D. Pântanos de sedges (graminoides hemicriptófitos ou geófitos) e Quellfluren
- E. Pântanos salinos herbáceos ou semi-lenhosos
- F. Vegetação de forbs (herbáceas não-graminoides)
Laycock (1979)[editar | editar código-fonte]
- (1) pradarias (verdadeiras) de grama-alta (tallgrass (true) prairie);
- (2) pradarias de grama-curta (shortgrass prairie);
- (3) pradaria mista (mixed-grass prairie);
- (4) estepe arbustiva (shrub steppe);
- (5) campo anual (annual grassland);
- (6) campo (árido) deserto (desert (arid) grassland);
- (7) campo de alta montanha (high mountais grassland).
IBGE (2012)[editar | editar código-fonte]
Segundo a classificação da vegetação brasileira do IBGE (2012, p. 134), as subcategorias da classe de formação campestre são:[9]
- Subgrupo de formação: campinarana (= caatinga da Amazônia, caatinga-igapó, campina da Amazônia)
- Subgrupo de formação: savana (= cerrado)
- Subgrupo de formação: savana-estépica (= savanas secas e/ou úmidas)
- Subgrupo de formação: estepe (= campos do sul do Brasil)
Entretanto, notar que, dentro de cada subgrupo listado acima pelo IBGE, existem as formações Florestada, Arborizada, Arbustiva, Parque, Gramíneo-Lenhosa. Dessas, no sentido usual do termo campo, enquadra-se apenas a formação Gramíneo-Lenhosa – as outras costumam ser conceituadas por outros autores como florestas ou savanas.
Ecologia[editar | editar código-fonte]
Dada essa amplitude de significados o vocábulo não tem sido utilizado para descrever biomas que tipicamente eram chamados da campos, preferindo a maioria dos autores empregar o termo para designar um grupo ou coleção de biomas (biócoro) que possuem as mesmas características básicas, embora a clara diversidade entre si.
No Brasil[editar | editar código-fonte]
Ver artigos principais: Pampas, Campos Gerais do Paraná, Campos de altitude, Campo limpo (vegetação) e Campinarana
No Brasil, os campos ocorrem de maneira descontínua no norte e no sul, a partir de seus extremos.
No norte os campos ocorrem nas terras altas de Roraima onde o clima tropical é atenuado pela altitude e também sob a forma de hilea ou campos inundáveis na ilha do Bananal e ilha de Marajó esta última na foz do Rio Amazonas no Pará, que ficam submersas nas águas fluviais em boa parte do ano.
No sul, onde ocorre clima subtropical com verões quentes mas inverno frios, os campos se abrem a partir do Rio Grande do Sul onde são designados como Pampas, e seguem para o norte até o centro do Paraná onde são designados como Campos Gerais e se estendem para o sul e oeste para além das fronteiras com o Uruguai e Argentina respectivamente, numa extensão de cerca de 170 mil km2.
Fauna[editar | editar código-fonte]
Embora povoado por cerca de 102 espécies de mamíferos, 476 de aves e 50 de peixes o campo é frequentemente definido como um bioma pobre em diversidade biológica. Entre outros animais os campos abrigam a onça-pintada, capivara, veado, lontra, cateto, lobo guará, tamanduá, jaguatirica, gato-palheiro, gato-maracajá e aves como a ema, marrecos, arara-azul.
Flora[editar | editar código-fonte]
Segundo Rizzini (1997, p. 602-4) os principais gêneros da "flora campestre brasileira", separados por regiões, incluindo alguns pequenos arbustos, subarbustos e algumas ervas, são:[10]
- 1. Gêneros austrais (campos sulinos): Trifolium, Nierembergia, Melasma, Sommerfeltia, Jungia, Menodora, Discaria, Desmanthus, Adesmia, Grabowskia, Vittadina, Proteopsis, Colletia, Crantzia
- 2. Gêneros austro-centrais (campos do sul e do centro): Lupinus, Zornia, Poiretia, Arachis, Collaea, Macrosiphonia, Vicia, Galactia, Camarea, Rhodocalyx, Hexachlamys, Glechon, Isostigma
- 3. Gêneros somente centrais: Harpalyce, Periandra, Marcetia, Chaetostoma, Diplusodon, Wunderlichia, Haplostephium, Planaltoa, Tristachya, Cambessedesia, Microlicia, Lavradia, Klotzschia, Escobedia, Brasília, Lychnophora, Dejanira, Marupa, Soaresia, Arrojadoa, Acanthococos, Spiranthera
- 4. Gêneros comuns no Brasil exceto no sul (Brasil Central, Amazônia e serras litorâneas): Parinari, Copaifera, Anona, Davilla, Couepia, Trembleya, Qualea, Simaba, Erythroxylum, Kielmeyera, Didymopanax, Alibertia, Norantea, Lavoisiera, Vochysia, Helicteres, Andira, Banisteria, Pisonia, Salada, Gaylussacia, Stryphnodendron, Barbacenia, Bulbostylis, Hevea, Cabralea, Sabicea, Gaultheria, Palicourea, Coccoloba, Vellozia, Attalea, Anacardium
- 5. Gêneros comuns no Brasil todo: Crotalaria, Indigofera, Clitoria, Camptosema, Mimosa, Calliandra, Polygala, Turnera, Hybanthus, Waltheria, Sida, Abutilon, Oxalis, Mascagnia, Hypericum, Croton, Sapium, Maytenus, Ilex, Eryngium, Ruellia, Verbena, Lippia, Lantana, Jacaranda, Cordia, Peltodon, Hyptis, Eriope, Gesnera, Leucothoe, Calea, Diodia, Xyris, Paepalanthus, Trichocline, Rauvolfia, Mandevilla, Aristolochia, Syagrus, Dioscorea, Cissampelos, Sisyrhinchium, Sporobolus, Arundinaria, Gomphrena, Butia, Hippeastrum, Chrysophyllum
Solo[editar | editar código-fonte]
Frequentemente descrito por seu solo frágil com tendência à desertificação, quase que a totalidade da área original dos Campos Gerais do Paraná e maior parte dos Pampas já foi muito transformada em área de agricultura intensiva de soja e trigo. Com resultado de um desastre histórico de desmatamento e queimadas, a agricultura mecanizada e química acabou produzindo erosão e lixiviamento do solo a níveis de desertificação em algumas áreas no sudoeste e do oeste no Rio Grande do Sul.
Nas intercessões dos relevos ondulados com planaltos e bordas dos grandes vales e rios que corta, os campos tendem a ter maior riqueza e diversidade vegetal com a presença a de maior porte como o pinheiro do Paraná, a Imbuia, cabreúva, canafístula, açoita-cavalo, grápia, a [caroba], o [angico-vermelho] e o [cedrote], o que por vezes prejudica a sua principal característica é a presença de grandes espaços abertos com predominância de gramíneas rasteiras.
Isto ocorre tipicamente no Paraná nas intercessões da Mata dos Pinhais e Serra do Mar e nos campos de altitude como os da Serra da Mantiqueira, também descritos como “campos de cima”. A proximidade do litoral acarreta também peculiaridades com nos casos dos campos da ilha de Marajó no Pará e do Banhado do Taim no Rio Grande do Sul
Referências
- ↑ ab Walter, B. M. T. (2006). Fitofisionomias do bioma Cerrado: síntese terminológica e relações florísticas. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, [1].
- ↑ Lindman, C.A.M. (1906). A Vegetação no Rio Grande do Sul. EDUSP/Itatiaia: São Paulo/Belo Horizonte. Traduzido de Lindman, C. A. M. (1900). Vegetationen i Rio Grande do Sul (Sydbrasilien). Stockholm: Nordin and Josephson.
- ↑ ab IBGE (2012). Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 2a ed. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/vegetacao/manual_vegetacao.shtm>.
- ↑ Overbeck, G. E. et al. Brazil's neglected biome: the South Brazilian Campos. Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics, v. 9, n. 2, p. 101-116, 2007. Disponível em: <http://ecoqua.ecologia.ufrgs.br/arquivos/Reprints%26Manuscripts/Overbeck_et_al_2007_PPEES.pdf>.
- ↑ Schimper, A. F. W. 1898. Pflanzen-Geographie auf physiologischer Grundlage. Fisher, Jena. 876 pp. English translation, 1903, [2].
- ↑ Sampaio, A. J. (1938). Fitografia do Brasil. 2a. ed. rev. e aum. São Paulo: Ed. Nacional. 334 p. Cf. p. 53, 177, 181. link, link. (Brasiliana, v. 35) [1a. ed., 1934; 3a. ed., 1945.]
- ↑ Ellenberg, H. & D. Mueller-Dombois. 1967. Tentative physiognomic-ecological classification of plant formations of the Earth [based on a discussion draft of the UNESCO working group on vegetation classification and mapping.] Berichte des Geobotanischen Institutes der Eidg. Techn. Hochschule, Stiftung Rübel, Zürich 37 (1965-1966): 21—55, [3].
- ↑ Laycock, W.A. 1979. Introduction, pp. 1-2, in: French. N R. (ed.). Perspectives in Grassland Ecology. Springer, New York, 204 pp., [4].
- ↑ IBGE (2012). Manual Técnico da Vegetação Brasileira. 2a ed. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/vegetacao/manual_vegetacao.shtm>.
- ↑ Rizzini, C.T. (1997). Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. 2a edição. Rio de Janeiro, Âmbito Cultural, 1997. Volume único, 747 p.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Burkart A. (1975). Evolution of grasses and grasslands in South America. Taxon 24: 53-66, [5].
- Strömberg, C. A. (2011). Evolution of grasses and grassland ecosystems. Annu. Rev. Earth Planet. Sci. 2011. 39:517–44, [6].
- Suttie, J., Reynolds, S.G. and Batello, C. eds. (2005). Grasslands of the world. Rome, Italy: FAO, [7].
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