domingo, 2 de agosto de 2015

CADEIRA DE RODAS

O conceito e a prática da adequação postural são recentes. Historicamente, a cadeira de rodas tem sido associada com “invalidez”. Essa atitude prevaleceu por muitos anos, e assim apenas recentemente têm estado disponível cadeira de rodas que proporcionam a máxima função para atender aos vários graus de necessidade do usuário.
Uma cadeira de rodas bem prescrita objetiva aumentar mobilidade, autonomia, conforto e segurança, porém uma cadeira de rodas sem adaptações acarreta em danos ao paciente, podendo levar a uma postura inadequada com possíveis contraturas e deformidades; prejudicar funções básicas como respiração, nutrição pela dificuldade de deglutição; alteração no sistema circulatório dificultando o retorno venoso; surgimento de dores e assim refletir diretamente nos aspectos psicossociais alterando a qualidade de vida do paciente.
Em virtude das necessidades dos usuários de cadeira de rodas é que surgiu um ramo da ciência voltado para essa problemática a fim de melhorar a qualidade de vida do portador de incapacidades. Esse ramo da ciência é chamado de tecnologia assistiva que é definido como qualquer item de equipamento como peças ou produtos adquiridos comercialmente e feitos sob medida.
Os aparelhos assistivos englobam inúmeros componentes que auxiliam na realização de tarefas de vida diária, dispositivos para adaptação na comunicação, deambulação, no posicionamento sentado, na condução de veículos, equipamentos sofisticados para construção de cadeiras de rodas motorizadas, etc.
A adequação postural na cadeira de rodas ou seating irá intervir na escolha do modelo de cadeira, no controle da postura e na administração de deformidades de modo a adequar o portador de deficiência física no meio ambiente para que possa executar tarefas com maior êxito, deslocar-se com facilidade, conforto e segurança.
O método de adequação postural possui objetivos fundamentais que visam melhor independência e participação social do usuário, sendo eles: conforto, alívio de pressão, aumento da função básica humana, suporte corporal, alterações e reajustes.
A escolha da cadeira de rodas, seja manual ou motorizada, deve levar em conta o potencial motor do paciente, suas necessidades dentro da comunidade e condições socioeconômicas. A adequação postural irá intervir na escolha do modelo da cadeira, no controle da postura e na administração das deformidades de modo a adequar o paciente possa deslocar-se com independência, conforto e segurança.
Indivíduos com incapacidades graves que não podem andar ou até mesmo sentar sozinhos, podem passar a vida deitados ou sendo carregados, por esse motivo os profissionais lançam mão do uso da cadeira de rodas. Para muitos, a cadeira de rodas é um estigma de incapacidade e dependência, porém a liberdade de ir e vir está diretamente relacionada à melhor qualidade de vida e maior independência.
O mau posicionamento na cadeira de rodas pode levar o indivíduo a ter problemas como: rigidez, contraturas, deformidades, restrição do movimento, úlceras de pressão além de comprometer o desenvolvimento emocional e intelectual.
O bom posicionamento do indivíduo na cadeira de rodas aumenta a mobilidade, autonomia, conforto e segurança levando a uma melhoria na postura sentada favorecendo funções básicas como respiração, nutrição e fluxo sanguíneo, previne dores e, além disso, melhora a sociabilidade.
O sucesso na prescrição da cadeira de rodas depende de vários fatores como: expectativa do usuário, adequação do ambiente tanto físico como social e da cooperação da família.
Os componentes da cadeira de rodas devem objetivar conforto e manutenção da postura, para isso os elementos que compõe a cadeira de rodas não devem ser eleitos de forma aleatória, pois se assim for esse meio de locomoção se converte em uma trava à autonomia, incômodo ao usuário, prejudicando sua independência e interação com o meio.
Para o processo de adaptação da cadeira de rodas pode ser necessária a utilização de alguns equipamentos como: cinto de segurança, apoio dos pés, abdutor de membros inferiores, encosto, mesa de apoio, apoios laterais para tronco, apoio de cabeça, bloqueadores de joelhos, protetor sacral entre outros.
No que se refere à adequação postural nas doenças neuromusculares, a maioria delas causa perdas motoras e funcionais significativas e o aparecimento de deformidade é incontrolável, portanto a intervenção da adequação postural deverá possibilitar frequentes ajustes e reajustes.
Num primeiro momento existe o controle cervical, o controle de tronco está presente ou instável, não há deformidades instaladas, mas o paciente pode apresentar posturas compensatórias (escoliose).
Nessa fase, o assento plano com base rígida e de densidades diferentes é utilizado para obter o posicionamento adequado, favorecendo melhor acomodação da pélvis. O apoio lateral de tronco em dois pontos tem a intenção de proporcionar suporte adequado, quando o controle de tronco for insatisfatório e corrigir posturas compensatórias. O cinto de segurança é um recurso adicional para auxiliar na estabilidade de tronco. O apoio de cabeça removível é útil quando há necessidade de longa permanência na posição sentada ou durante a locomoção do paciente em terrenos acidentados. O cavalo de abdução é utilizado para o alinhamento dos membros inferiores, quando o paciente apresentar adução, e o apoio lateral para as coxas será de utilidade para quando há tendência à abdução.
Em estágios mais avançados da doença o objetivo maior da adequação postural é o conforto. Assento e encosto são moldados para garantir a acomodação do paciente e a distribuição do peso corporal de maneira uniforme. As deformidades já estruturadas são apenas absorvidas e acomodadas
Conclusão:
A adequação postural é única, pessoal e para cada necessidade patológica. Ela deve analisar a estabilidade, função e conforto de cada usuário, prevenindo, auxiliando ou ainda corrigindo deformidades e posturas inadequadas, deve agregar qualidade de vida ao paciente e promover uma maior inserção social desse. Assim sendo um dispositivo adequadamente prescrito é capaz de desfazer a histórica associação entre o uso de uma cadeira de rodas com a incapacidade e a invalidez de seu usuário.
Posteriormente o assunto em questão será aprofundado destacando maiores peculiaridades sobre a adequação postural e a prescrição desses dispositivos
Deixamos aqui a informação que a empresa Ortopedia São José, tem uma equipe preparada para qualquer tipo de trabalho de Adequação Postural, e se coloca a disposição para que juntamente com outros profissionais da área que consigamos ver onde melhor se encaixa em cada equipamento que podemos estruturar para uma melhor Adequação Postural.
Por: Danúbio Fernando Oliveira.
Fisioterapeuta e auxiliar Ortesista/Protesista da Ortopedia São José.
Fontes:
• Portal educacao.com.br/fisioterapia.
• Estudo desenvolvido na AACD - Associação de Assistência à Criança Deficiente, São Paulo, SP, Brasil.
• Uma versão deste estudo foi apresentada ao 2º Simpósio Brasileiro de Adequação Postural em Cadeira de Rodas, São Paulo, de 28 a 30 de agosto de 2008.
• Adequações posturais em cadeira de rodas — prevenção de deformidades na paralisia cerebral Postural adjustment in wheelchairs — deformities prevention in Cerebral Palsy Moisés Veloso Fernandes revistaneurociencias.com.br/edicoes/2007.Uma cadeira de rodas é uma cadeira montada sobre rodas que é utilizada por indivíduos com dificuldade de locomoção (cadeirantes), podendo ser movida manual ou eletronicamente pelo ocupante ou empurrada por alguém. Por ser largamente utilizada por pessoas portadoras de deficiência física, é também utilizada no símbolo que indica acesso a pessoas com necessidades especiais. Depois de fabricadas, muitas cadeiras de rodas passam por fisioterapeutas para serem adaptadas ao portador de deficiência física.
Em 2009, pesquisadores italianos inventaram uma cadeira de rodas movida apenas por movimentos cerebrais. Foi desenvolvida pelo Departamento de Inteligência Artificial e Robótica da Politécnico de Milão. A cadeira apresenta dois computadores de bordo que detectam os sinais cerebrais, sendo também orientados por câmeras instaladas ao redor da casa.1

O Surgimento da Cadeira de Rodas[editar | editar código-fonte]

A cadeira de rodas é um objeto indispensável para pessoas que apresentam dificuldade de locomoção, pode se encontrar representação de seu uso IV AC. na Antiga Grécia, em alguns artefatos. Com o aprimoramento de sua fabricação ao longo do tempo, atualmente obtém-se diversos modelos para atender as diferentes necessidades de seus usuários. Acredita-se que os egípcios foram os primeiros a utilizarem a cadeira de rodas, como uma espécie de carrinho de mão para transportar pessoas, entretanto em alguns objetos gregos há gravuras feitas em torno do século IV AC. de Hefesto, retratando a utilização da cadeira de rodas. Deus grego da metalurgia, responsável por ser o ferreiro dos deuses ele era adorado por artesões, metalúrgico e era conhecido entre os romanos por ser o deus dos vulcões. Nitidamente na ilustração observa-se Hefesto acomodado sobre uma cadeira de rodas com aros e dois cisnes para movimenta-la, dando alusão de ser autopropulsara e utilizável tanto em água como em terra, ou seja, não necessitava da força do ocupante.
Outra representação encontrada na abertura de um vaso grego observa-se novamente, o deus grego Hefesto como na primeira ilustração sobre uma cadeira de rodas, sendo recebido como um conviva entre os demais deuses do Olimpo.
Observa-se que na cultura grega, outro artefato raro encontrado uma pintura representando uma cama adaptada com rodas, possivelmente usada como berço, do século VI AC.

Evolução histórica da Cadeira de Rodas[editar | editar código-fonte]

Dos séculos vindouros, destacou-se a cadeira usada pelo Rei Filipe II da Espanha, em 1595. Elaborou-se uma cadeira de rodas que atendesse a todas as necessidades do monarca, como engenhos de inclinação, descanso para os pés e que modifica-se para leito temporário de repouso. Pois o rei necessitava de muita precaução para ser locomovido e ter acesso aos diversos recintos do castelo.
  • Cadeira de Rodas Acessível
Com o passar dos séculos muitas famílias providas de riquezas, encomendavam cadeiras para seus membros, pois não existia a fabricação ordenada de cadeira de rodas. Então se deu a fabricação dessa similar poltrona, feita com vime da Índia, assento, duas rodas traseiras grandes e duas rodas pequenas na frente para a movimentação ser garantida, pesando em torno de 25 kg.
No ano de 1655Stephan Farfler, um relojoeiro paraplégico, aos 22 anos de idade criou um modelo triciclo. Além de ser confortável, era movimentado pelo próprio usuário. Utilizava os dois braços e não requeria qualquer ajuda em terreno plano - desde que não houvesse barreiras, como hoje em dia.
  • A Modernidade Inicial das Cadeiras de Rodas
No ano de 1933 Herbert A. Everestnorte-americano, encomendou uma cadeira de rodas que poderia ser levada num automóvel, que foi um passo decisivo para o objetivo desenvolvimento de cadeiras de rodas mais versáteis. O engenheiro H.C. Jennings construiu para ele a primeira cadeira de rodas dobrável. Esse modelo, devidamente patenteado como muitos outros modelos, foi utilizado por décadas, com a marcaEverest/Jennings, antes que outros surgissem no mercado.
  • Motorizadas e mais Modernas
As cadeiras de rodas evoluíram de uma forma surpreendente desde as primeiras Décadas do Século XX graças ao avanço industrial e com o surgimento de matéria-prima muito mais moldável e mais leve, além de muito maior demanda. Seria tarefa impossível levantar todos os modelos existentes, desde as manuais, dobráveis ou não, às hospitalares, às adaptadas a situações específicas e também às motorizadas, que aos poucos vão tomando conta do mercado.
Há modelos para muitos gostos e muitas necessidades. De triciclos (scooters) existem centenas de modelos, cores e estilos em todas as partes do mundo. Também há cadeiras de rodas para todos os terrenos e superação de obstáculos. O importante é que elas não sejam confinadoras, mas libertadoras das pessoas que as utilizam.
Uma das figuras mais famosas e importantes que usava cadeira de rodas, foi Franklin Delano Roosevelt. Ele viveu no Século XX e foi vítima da poliomielite quando já era Presidente dos Estados Unidos. Embora fosse notório que evitava ser visto em público ou fotografado utilizando uma cadeira de rodas, não a dispensava em momentos especiais. Dava seu apoio à campanha nacional contra a poliomielite.
Adaptações indispensáveis foram criadas em todas as partes do mundo para tornar as cadeiras de rodas ágeis e seguras para o uso em determinados esportes, tais como as corridas e maratonas, o basquetebol e o tênis em cadeiras de rodas. Há modelos surpreendentes nesse campo, muito leves, com eixos especiais e muito menor proximidade do solo.

Importância das Cadeiras de Rodas nas Campanhas de Acessibilidade[editar | editar código-fonte]

Muitas campanhas têm sido desenvolvidas em muitas partes do mundo, procurando chamar a atenção para os aspectos de acessibilidade que afetam sobremaneira as pessoas que usam cadeiras de rodas. Através da Internet, estão levando o acesso a todos os ambientes. A Rehabilitation International aprovou seu projeto de ícone indicativo de acesso a cadeiras de rodas (aprovado pelo Sistema ISO de qualidade), que se tornou internacional. Outros esforços têm sido desenvolvidos continuamente e precisam ser sempre apoiados.aí para

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

  1. Ir para cima Pesquisadores italianos criam cadeira de rodas movida a impulso cerebral. Visitado em 21/02/2009.IFisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Neurológica no Setor de Fisioterapia Infantil da AACD; Mestranda pelo Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil
    IIFisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória e Neurológica no Setor de Fisioterapia Infantil da AACD; Mestranda em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – São Paulo (SP), Brasil
    IIIProfessora Titular da Disciplina de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro (UNISA) – São Paulo (SP), Brasil
    IVFisioterapeuta; Professora do Curso de Mestrado e Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – São Paulo (SP), Brasil
    VMédico Especialista em Pneumologia e Terapia intensiva; Pneumologista da AACD – São Paulo (SP), Brasil
    VIFisioterapeuta Especialista em Neurologia e Tecnologia Assistiva no Setor de Fisioterapia Infantil da AACD – São Paulo (SP), Brasil
    VIIFisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória e Neurológica no Setor de Fisioterapia Infantil da AACD – São Paulo (SP), Brasil



    RESUMO
    O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da adequação postural em cadeira de rodas na função respiratória de pacientes com distrofia muscular de Duchenne (DMD). Participaram 12 pacientes com diagnóstico de DMD e que possuíam cadeira de rodas adaptada com idade variando de 10 a 22 anos. Cada indivíduo foi avaliado na própria cadeira de rodas e em uma cadeira de rodas padrão, ou seja, sem reclinação ou tilt. As cadeiras dos participantes possuíam adaptações no encosto e no assento, confeccionados de acordo com as especificidades de cada paciente. A avaliação consistiu em mensurar o volume minuto (VM), volume corrente (VC), capacidade vital forçada (CVF), pressões inspiratória (PImax) e expiratória (PEmax) máximas e pico de fluxo expiratório (PFE). Para análise dos dados, foi utilizado o teste t pareado, adotando-se o nível de significância de 0,05. As adaptações resultaram em melhores valores estatisticamente significativos de todos os parâmetros respiratórios: VM (8.963,3 e 10.762,5 mL/min; p=0,028), VC (319,1 e 433,6 mL; p=0,005), CVF (1.476,3 e 1.850 mL; p=0,005), PImax (-41,2 e -51,2 cmH2O; p=0,022), PEmax (29,6 e 36,7 cmH2O; p=0,004) e PFE (162,1 e 185 L/min; p=0,018). Nossos resultados sugerem que a adequação postural em cadeira de rodas influenciou positivamente a função respiratória de pacientes com DMD.
    Descritores: distrofia muscular de Duchenne; cadeiras de rodas; sistema respiratório; postura.

    ABSTRACT
    The purpose of this study was to determine the influence of wheelchair positioning aids on the respiratory function of patients with Duchenne muscular dystrophy (DMD). Twelve non-ambulatory DMD patients, between 10 to 22 years of age, were evaluated. They were assessed in their adapted wheelchairs and in a standard wheelchair without tilt or reclining. The wheelchairs of the participants possessed adaptations in the backrest and the seat, made according to the specifics of each patient. Minute volume (MV), tidal volume (TV), forced vital capacity (FVC), maximum inspiratory (MIP) and expiratory pressures (MEP) and peak expiratory flow (PEF) were measured. For data analysis we used the paired t-test adopting the significance level of 0.05. The positioning aids resulted in statistically significant better values of all respiratory parameters: MV (8,963.3 and 10,762.5 mL/min; p=0.028), TV (319.1 and 433.6 mL; p=0.005), FVC (1,476.3 and 1,850 mL; p=0.005), MIP (-41.2 and -51.2 cmH2O; p=0.022), MEP (29.6 and 36.7 cmH2O; p=0.004) and PEF (162.1 and 185 L/min; p=0.018). These results may suggest that wheelchair positioning aids can positively influence pulmonary function for non-ambulatory DMD patients.
    Keywords: Duchenne muscular dystrophy; wheelchairs; respiratory system; posture.



    INTRODUÇÃO
    A distrofia muscular de Duchenne (DMD), com incidência de 1/3.500 meninos nascidos vivos1, é uma desordem neuromuscular hereditária ligada ao cromossomo X2, que cursa com perda progressiva de força muscular e ocorre devido à mutação do gene da distrofina. A doença envolve predominantemente a musculatura proximal3, sendo que os sintomas se iniciam antes dos cinco anos de idade. Com a evolução da doença, a perda progressiva de força faz o indivíduo parar de andar por volta dos 9 aos 12 anos, além de levar ao desenvolvimento de escoliose grave4.
    O prognóstico em longo prazo em DMD é determinado principalmente pela deterioração respiratória5 que tende a ser previsível e resulta da fraqueza dos músculos respiratórios, torando-se evidente quando o paciente deixa de andar de modo independente6. O acometimento pulmonar restritivo progressivo se inicia em torno de 10 a 12 anos de idade7 e tem sido associado com maior risco de complicações respiratórias e morte, de acordo com a extensão em que a função pulmonar e trocas gasosas estão comprometidas8,9. A perda de força na musculatura inspiratória e expiratória seguida por tosse ineficaz e diminuição de ventilação leva a pneumonias, atelectasias e insuficiência respiratória noturna, que se torna progressivamente diurna9. Em geral, os problemas respiratórios se agravam com os efeitos negativos sofridos pela mecânica do tórax, que se deforma na altura dos pulmões devido ao desenvolvimento progressivo da escoliose5.
    Cerca de 75–90% dos pacientes com DMD desenvolvem escoliose progressiva após a perda da marcha10,11. A progressão da deformidade é associada com o desenvolvimento de quadros dolorosos e está associada com insuficiências cardíaca e respiratória10,12,13.
    Nesse contexto, há na literatura estudos que correlacionam a deformidade espinhal e a função pulmonar, como Inal-Ince et al.14 que investigaram o efeito da escoliose na função respiratória de pacientes com doença neuromuscular e encontraram evidências de comprometimento restritivo pulmonar e fluxos expiratórios reduzidos quando comparados com o grupo sem escoliose.
    Kurz et al.15 analisaram a função respiratória de 25 pacientes com DMD e observaram que, a cada 1 ano, a influência negativa sobre a capacidade vital forçada (CVF) era semelhante a influência de a cada 10 graus de escoliose, sendo que em ambos ocorre uma diminuição de 4% na CVF. Esse declínio ocorreu mais lentamente quando a progressão da escoliose foi interrompida por fusão espinal. Na mesma linha, os resultados de Yamashita et al.16 também indicam correlação entre o plateau da capacidade vital (PCV) e a gravidade da escoliose, sugerindo que o PCV tem valor preditivo para progressão rápida e grave das deformidades espinhais. Em contraste, há estudos17-19 em que os autores não encontraram diferenças na taxa de deterioração pulmonar quando comparados pacientes que passaram por correção da escoliose com os pacientes que não foram submetidos à fixação espinal.
    A correção cirúrgica da escoliose é realizada para retardar o agravamento da deformidade e deve ser realizada antes do aparecimento de doenças cardiorrespiratórias10,12,13, mas recursos terapêuticos conservadores podem beneficiar o paciente até após a intervenção cirúrgica, resultando em melhor qualidade de vida20.
    No processo de reabilitação da DMD, o terapeuta deve se concentrar na prevenção do colapso do tronco, na manutenção do equilíbrio do tronco e promover maior estabilidade da postura sentada21. Conforme a doença progride, uma cadeira de rodas com adequação postural é uma forma de retardar o desenvolvimento de deformidades, manter certo grau de mobilidade e qualidade de vida3,22. Com o objetivo de atender as especificidades de cada paciente, a adequação em cadeiras de rodas tem sido desenvolvida para promover uma postura mais satisfatória23. No entanto, o efeito dessas adaptações na função respiratória precisa de análise mais aprofundada. O objetivo do presente estudo foi avaliar a possível influência da adequação postural em cadeira de rodas em volumes, capacidades pulmonares e pressões respiratórias máximas estáticas em pacientes com DMD cadeirantes.

    METODOLOGIA
    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Participaram do estudo 12 pacientes com diagnóstico de DMD, com idade média de 15,0±3,9 (variando 10–22) anos, que possuíam cadeira de rodas com adequação postural efetuada no máximo um ano antes da data da avaliação. Os critérios de inclusão foram o diagnóstico confirmado por meio de análise genética, possuir prova de função pulmonar, capacidade de cooperar com a avaliação da função pulmonar e consentimento dos responsáveis. Os critérios de exclusão foram instabilidade clínica, infecção respiratória aguda dentro de duas semanas precedentes da avaliação, traqueostomia e fixação da coluna vertebral.
    A avaliação foi feita em uma sessão e constituiu-se em duas fases: (1) paciente em sua cadeira de rodas com adequação postural e (2) em uma cadeira de rodas sem adequação postural, reclinação ou tilt. Quanto às adaptações, podiam incluir, de acordo com a necessidade de cada paciente, apoio para a cabeça, tronco, braços e pés, além de assento e encosto em espuma sobre uma base rígida, confeccionados especificamente para cada paciente visando mobilidade, autonomia, conforto, alívio de pressão e facilidades, promovendo suporte para o corpo. Essas adaptações podiam ser confeccionadas manualmente ou, em alguns casos, esculpidas de forma digitalizada de forma a promover o equilíbrio entre o melhor alinhamento biomecânico possível, o conforto e a maximização das funções fisiológicas.
    O volume minuto (VM), volume corrente (VC) e CVF foram obtidos por meio da ventilometria, utilizando-se um ventilômetro (Ferraris RespirometerTM, Wright MK) acoplado na boca do paciente por meio de um bucal e com oclusão nasal. O paciente foi orientado a respirar tranquilamente durante um minuto no ventilômetro e, dessa forma, o VM foi obtido em mL/min. O VC foi determinado pela divisão do VM pela frequência respiratória obtida. A CVF foi obtida em mL, por meio de uma inspiração plena seguida de uma expiração máxima forçada. As pressões inspiratória e expiratória máximas (PImáx e PEmáx) foram mensuradas ao nível da boca por meio de manovacuômetro (Instrumentation IndustriesTM, Inc NS 120-TRR) e os valores expressos em cmH2O. A PImax foi mensurada a partir do volume residual e a PEmax da capacidade pulmonar total, mantidas por 3 s. O pico de fluxo expiratório (PFE) foi quantificado por meio de um medidor de fluxo expiratório mini-Wright, com escala variando de 30 a 400 L/min. O teste foi efetuado pela realização de uma inspiração máxima seguida por uma expiração máxima forçada, curta e explosiva, feita no medidor. Para ser considerado o esforço, foi necessária a duração de no mínimo 1 a 2 s24.
    Os dados foram inicialmente analisados quanto à aderência à curva de Gauss, pelo teste de Komogorov-Simonov. As variáveis analisadas apresentaram-se paramétricas e foram expressas por meio de média e desvio padrão. Para comparação entre as médias dos resultados na cadeira de rodas sem e com adequação postural foi utilizado o teste t dependente. Os valores de p<0,05 foram considerados significantes. Os dados foram organizados e tabulados utilizando-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)v.19.0.

    RESULTADOS
    Foram triados 134 pacientes acompanhados na Instituição, 43 (32%) ainda deambulavam, 22 (16,4%) haviam sido submetidos à fixação da coluna vertebral, 13 (9,7 %) não dispunham de transporte para chegar à Instituição, 26 (19,4%) não possuíam cadeiras de rodas com adequação postural, 18 (13,4%) possuíam cadeiras de rodas que necessitavam de revisão (tamanho e reparação das adaptações), e 12 (8,9%) pacientes possuíam cadeiras de rodas com adequação postural adequada e assim participaram do estudo.
    Os participantes perderam a capacidade de andar com 9,4±1,5 anos e obtiveram sua primeira cadeira de rodas com adequação postural em média de 12,4±3,0 anos de idade. Os pacientes apresentam escoliose com ângulo de Cobb superior a 60º (média 87,0±14,8). Permaneciam em média 8,1±4,5 (variando 2–14) h/dia na cadeira de rodas.
    Os valores dos volumes e capacidade pulmonar, pressões respiratórias máximas estáticas e PFE foram maiores e estatisticamente significativos quando mensurados com os pacientes em suas cadeiras de rodas com adequação postural (Tabelas 1 e 2).

    DISCUSSÃO
    A principal função da adequação postural em cadeiras de rodas é promover o alinhamento mais adequado do corpo, evitando compensações da coluna vertebral. Considerando que o melhor alinhamento beneficia a função respiratória, um estudo prévio realizado por nosso grupo24, utilizando o mesmo método de avaliação, investigou a influência da adequação postural na função respiratória de 12 pacientes com amiotrofia espinal progressiva tipo II. O resultado demonstrou diferenças estatisticamente significativas de todos os parâmetros respiratórios nas medidas tomadas na cadeira adaptada, quando comparados aos valores com a postura adequada. Comparando-se as duas situações, o sistema de adequação postural resultou em um aumento de 16% no VM, 30% no VC, 25% na CVF, 46% na PImáx, 37% na PEmáx e 19% no PFE.
    Nessa linha, o presente estudo procurou avaliar se o mesmo ocorre em pacientes com DMD quando dependentes de cadeira de rodas. Nossos resultados mostraram que as adaptações também beneficiam esses pacientes, pois os valores encontrados foram diferentes e estatisticamente significativos para todos os parâmetros. Comparando-se as duas situações, o sistema de adequação postural resultou em um aumento de 25% na CVF, 20% no VM, 36% na VC, 24% na PImax e PEmax, e 14% no PFE.
    Poucos estudos sobre esse tema em doenças neuromusculares foram encontrados na literatura. Apesar de avaliarem parâmetros distintos, outros dois estudos foram realizados para avaliar o efeito da adequação postural na função respiratória de crianças com paralisia cerebral25 e pacientes com DMD26, demonstrando resultados coerentes com o do presente estudo. No estudo de Nwaobi e Smith26, o VC, volume expiratório forçado em um segundo (VEF1) e tempo expiratório (TE) de oito crianças com paralisia cerebral, com idades entre 5 e 12 anos, foram mensurados em uma cadeira de rodas simples e com sistema de adequação postural. Os resultados demonstraram um aumento de 57,7% do VC, de 51,6% do VEF1 e de 55% do TE no sistema de adequação postural, quando comparado com a cadeira de rodas simples8. De forma semelhante, Olunwa e Nwaobi27 avaliaram 8 pacientes com DMD, com idade entre 12 e 21 anos e demonstraram um aumento de 28% da CVF, de 14,5% do VEF1 e de 17,3% do TE forçado na cadeira com adaptações.
    Nossos dados demonstraram que o negligenciamento em manter um alinhamento adequado do corpo, prevenindo compensações da coluna vertebral, geralmente resulta em diminuição significativa da função respiratória para pacientes com DMD dependentes de cadeira de rodas. Nesses casos, as adaptações confeccionadas especificamente para o paciente em sua cadeira de rodas forneceram melhor posicionamento e estabilização do tronco, diferentemente das cadeiras padrão sem adequação postural.
    Importantes limitações do presente estudo referem-se ao tamanho da amostra, distribuição não aleatória e ao não mascaramento do avaliador. A amostra não foi baseada em um cálculo amostral específico. Tratou-se de uma amostra de conveniência da instituição. O avaliador não foi mascarado no estudo, pois as avaliações foram realizadas por um mesmo avaliador nos momentos com e sem adequação postural em cadeira de rodas. No entanto, o avaliador não tinha conhecimento do objetivo do estudo. Novos estudos devem ser realizados para contribuir com os presentes resultados, principalmente considerando uma amostra com tamanho adequado, com distribuição aleatória dos participantes e com avaliador cego.

    CONCLUSÃO
    Concluimos que a adequação postural na cadeira de rodas pode influenciar positivamente a função respiratória de pacientes com DMD. No entanto, devido à progressão da doença, é necessária a avaliação periódica da função pulmonar e da progressão da escoliose, a fim de se identificar a melhor alternativa terapêutica em cada fase.

    REFERÊNCIAS
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     Endereço para correspondência:
    Carolina Oliveira Rodini
    Rua Cayowaa, 1.884, apto. 33 – Bairro Sumaré
    CEP: 01258-010 – São Paulo (SP), Brasil
    Email: krodini@gmail.com
    Apresentação: maio 2011
    Aceito para publicação: maio 2012
    Fonte de financiamento: Associação de Assistência à Criança Deficiente
    Conflito de interesse: nada a declarar – Apresentação em evento científico: 2º Simpósio Brasileiro de Adequação Postural em Cadeira de Rodas, 2008 – São Paulo (SP), Brasil


    Estudo desenvolvido na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) – São Paulo (SP), Brasil.
    Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Associação de Assistência à Criança Deficiente, nº 21/2007.

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