segunda-feira, 12 de outubro de 2015

RADIOTERAPIA

A radioterapia é um tratamento no qual se utilizam radiações ionizantes (raio-X, por exemplo), um tipo de energia direcionada, para destruir ou impedir que as células do tumor aumentem. Essas radiações não são visíveis e durante a aplicação o paciente não sente nada.
A maioria dos pacientes com câncer é tratada com radioterapia e os resultados costumam ser positivos. O tumor pode desaparecer e a doença ficar controlada ou curada. Em alguns casos, a radioterapia pode ser usada em conjunto com a quimioterapia, que é o uso de medicamentos específicos contra o câncer. Isso vai depender do tipo de tumor e da escolha do tratamento ideal para superar a doença.
Cada pessoa reage de forma diferente ao tratamento. Dependendo da área a ser tratada, podem ou não surgir efeitos colaterais comuns à radioterapia. Por isso, uma vez por semana é feita uma consulta de revisão.
Alguns efeitos indesejáveis são frequentes, independentemente da área do tumor. Entre eles estão cansaço, reações de pele, perda de apetite e dor ao engolir. Geralmente, aparecem ao final da segunda semana de aplicação e desaparecem poucas semanas depois de terminado o tratamento. O médico ou enfermeiro devem ser avisados sobre a existência de efeitos colaterais para que possam instruir o paciente.
De acordo com a localização do tumor, a radioterapia pode ser feita de duas formas:
  • Radioterapia externa ou teleterapia
    A radiação é emitida por um aparelho direcionado ao local a ser tratado com o paciente deitado. Geralmente são aplicações diárias;
  • Braquiterapia
    Aplicadores são colocados pelo médico, próximo ao tumor a ser tratado, e a radiação é emitida do aparelho para os aplicadores. Esse tratamento é feito no ambulatório de uma a duas vezes por semana e pode requerer anestesia.Em um sentido mais amplo, a Radioterapia é o uso terapêutico da radiação para o tratamento de alguma enfermidade.  Existem 3 modalidades clínicas utilizadas:
    1) Injeção de radioisótopos na corrente sanguínea (como em alguns casos de câncer de tireoide);
    2) Braquiterapia, em que fontes radioativas na forma de aplicadores especiais - agulhas, sementes ou fios - são colocadas em contato direto com o local onde se deseja empregar a radiação. Exemplos comuns são os implantes utilizados no tratamento dos tumores ginecológicos e da próstata, entre outros;
    3) Teleterapia, ou radioterapia com feixe externo, que é a modalidade mais difundida. A fonte irradiante se posiciona externamente ao paciente, a certa distância dele, podendo-se utilizar de diversas máquinas, como o gerador convencional de raios-X, a unidade de Co-60 e, mais comumente, os aceleradores lineares.
    Quando e para quem é indicada? 
    Atualmente é utilizada tanto em doenças benignas quanto malignas, de forma exclusiva ou associada à cirurgia e à quimioterapia. Nos últimos anos, a radioterapia tornou-se imprescindível a quase 2/3 dos pacientes portadores de câncer maligno em algum momento do curso da doença. Essa ação pode resultar na eliminação do tumor, uma melhora na qualidade de vida e aumento das taxas de sobrevida do paciente.
    Quais são os cuidados necessários durante o tratamento? 
    Os cuidados são voltados para a diminuição dos sintomas do paciente, como por exemplo, medicamentos para náusea, vômitos, diarreia, dor, etc. De uma forma geral, deve-se evitar a exposição solar do local irradiado durante e logo após o tratamento. Além disso, cuidados especiais com a pele podem ser tomados, como o uso de produtos à base de Aloe Vera ou Camomila, lembrando sempre que deve-se fazer a retirada do excesso destas substâncias antes de cada sessão de radioterapia. Manter o local limpo durante o tratamento é outra dica interessante.
    Quais são os efeitos colaterais?
    Os efeitos colaterais da radioterapia se relacionam aos órgãos que estão sendo tratados, uma vez que os efeitos da radiação são locais, ou seja, diferente da quimioterapia, que possui efeitos sistêmicos (corpo todo). De modo geral, a pele irradiada pode ficar avermelhada e coçar ou arder, podendo evoluir para bolhas e descamação. Dependendo da região tratada, podem surgir: dor, náusea, vômito, diarreia, falta de apetite, cansaço, ardência urinária, etc.
    Como amenizar os efeitos colaterais?
    Dicas gerais são: manter uma alimentação equilibrada durante o tratamento, bem como vigorosa hidratação; hábitos de vida saudáveis são sempre bem-vindos, como uma atividade física leve (a depender das condições clínicas do paciente). Além disso, existem medicações e produtos específicos que podem ser orientados pelo seu médico durante e após o tratamento, ressaltando a importância de se evitar a automedicação.

    Confira as recomendações indicadas para realização da radioterapia em cada área do corpo:

    Cérebro

    Cabeça e Pescoço

    Mama

    Tórax

    Pelve (Bacia)

    Pele

    Partes Moles ou Ossos A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada.

    As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e carregam energia. Ao interagirem com os tecidos, dão origem a elétrons rápidos que ionizam o meio e criam efeitos químicos como a hidrólise da água e a ruptura das cadeias de ADN. A morte celular pode ocorrer então por variados mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua incapacidade de reprodução.

    A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da radiação e o tempo total em que ela é administrada.

    Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa.


    Radiossensibilidade e radiocurabilidade
    A velocidade da regressão tumoral representa o grau de sensibilidade que o tumor apresenta às radiações. Depende fundamentalmente da sua origem celular, do seu grau de diferenciação, da oxigenação e da forma clínica de apresentação. A maioria dos tumores radiossensíveis são radiocuráveis. Entretanto, alguns se disseminam independentemente do controle local; outros apresentam sensibilidade tão próxima à dos tecidos normais, que esta impede a aplicação da dose de erradicação. A curabilidade local só é atingida quando a dose de radiação aplicada é letal para todas as células tumorais, mas não ultrapassa a tolerância dos tecidos normais. 



    Indicações da radioterapia
    Como a radioterapia é um método de tratamento local e/ou regional, pode ser indicada de forma exclusiva ou associada aos outros métodos terapêuticos. Em combinação com a cirurgia, poderá ser pré-, per- ou pós-operatória. Também pode ser indicada antes, durante ou logo após a quimioterapia.

    A radioterapia pode ser radical (ou curativa), quando se busca a cura total do tumor; remissiva, quando o objetivo é apenas a redução tumoral; profilática, quando se trata a doença em fase subclínica, isto é, não há volume tumoral presente, mas possíveis células neoplásicas dispersas; paliativa, quando se busca a remissão de sintomas tais como dor intensa, sangramento e compressão de órgãos; e ablativa, quando se administra a radiação para suprimir a função de um órgão, como, por exemplo, o ovário, para se obter a castração actínica.


    Fontes de energia e suas aplicações
     
    São várias as fontes de energia utilizadas na radioterapia. Há aparelhos que geram radiação a partir da energia elétrica, liberando raios X e elétrons, ou a partir de fontes de isótopo radioativo, como, por exemplo, pastilhas de cobalto, as quais geram raios gama. Esses aparelhos são usados como fontes externas, mantendo distâncias da pele que variam de 1 centímetro a 1 metro (teleterapia). Estas técnicas constituem a radioterapia clínica e se prestam para tratamento de lesões superficiais, semiprofundas ou profundas, dependendo da qualidade da radiação gerada pelo equipamento.
    Os isótopos radioativos (cobalto, césio, irídio etc.) ou sais de rádio são utilizados sob a forma de tubos, agulhas, fios, sementes ou placas e geram radiações, habitualmente gama, de diferentes energias, dependendo do elemento radioativo empregado. São aplicados, na maior parte das vezes, de forma intersticial ou intracavitária, constituindo-se na radioterapia cirúrgica, também conhecida por braquiterapia.
    No quadro abaixo estão relacionadas as diversas fontes usadas na radioterapia e os seus tipos de radiação gerada, energias e métodos de aplicação.

    FonteTipo de radiaçãoEnergiaMétodo de aplicação
    ContatoterapiaRaios X (superficial)10 - 60 kVTerapia superficial
    RoentgenterapiaRaios X (ortovoltagem)100 - 300 kVTerapia semiprofunda
    Unidade de cobaltoRaios gama1,25 MeVTeleterapia profunda
    Acelerador linearRaios X de alta energia e elétrons*1,5 - 40 MeVTeleterapia profunda
    Isótopos radioativosRaios gama e/ou betaVariável conforme o isótopo utilizadoBraquiterapia
    * Os feixes de elétrons, na dependência de sua energia, podem ser utilizados também na terapia superficial
    As unidades internacionalmente utilizadas para medir as quantidades de radiação são o röentgen e o gray. O röentgen (R) é a unidade que mede o número de ionizações desencadeadas no ar ambiental pela passagem de uma certa quantidade de radiação. Já o gray expressa a dose de radiação absorvida por qualquer material ou tecido humano. Um gray (Gy) corresponde a 100 centigrays (cGy).


    Efeitos adversos da radioterapia
    Normalmente, os efeitos das radiações são bem tolerados, desde que sejam respeitados os princípios de dose total de tratamento e a aplicação fracionada.
    Os efeitos colaterais podem ser classificados em imediatos e tardios.
    Os efeitos imediatos são observados nos tecidos que apresentam maior capacidade proliferativa, como as gônadas, a epiderme, as mucosas dos tratos digestivo, urinário e genital, e a medula óssea. Eles ocorrem somente se estes tecidos estiverem incluídos no campo de irradiação e podem ser potencializados pela administração simultânea de quimioterápicos. Manifestam-se clinicamente por anovulação ou azoospermia, epitelites, mucosites e mielodepressão (leucopenia e plaquetopenia) e devem ser tratados sintomaticamente, pois geralmente são bem tolerados e reversíveis.
    Os efeitos tardios são raros e ocorrem quando as doses de tolerância dos tecidos normais são ultrapassadas. Os efeitos tardios manifestam-se por atrofias e fibroses. As alterações de caráter genético e o desenvolvimento de outros tumores malignos são raramente observados.
    Todos os tecidos podem ser afetados, em graus variados, pelas radiações. Normalmente, os efeitos se relacionam com a dose total absorvida e com o fracionamento utilizado. A cirurgia e a quimioterapia podem contribuir para o agravamento destes efeitos.Os raios X foram descobertos em 1895 por Wilhelm Roentgen e não demorou para que fossem usados em medicina para tirar radiografias que facilitavam o diagnóstico de  muitas doenças. Logo se percebeu também que eles tinham a capacidade de curar alguns tipos de tumores malignos.
    A experiência mostrou ainda que a sensibilidade das células tumorais à exposição desses raios não era idêntica em todas elas. Algumas eram destruídas imediata e completamente com doses baixas de radiação; outras precisavam de doses muito altas para reagir.
    Descobrir que a radiação danifica o material genético da célula maligna foi o passo definitivo para o surgimento da radioterapia, uma especialidade médica reconhecida em 1922 pelo Congresso Mundial de Oncologia de Paris, que evoluiu muito no decorrer do século XX e chega ao século XXI contando com aparelhos de altíssima precisão para destruir o tumor sem causar danos às células normais que lhe são próximas.
    SENSIBILIDADE À RADIOTERAPIA
    Drauzio – Você poderia explicar o princípio básico da radioterapia? Como à custa de radiações consegue-se destruir a célula maligna?
    João Luis Fernandes da Silva – Não podemos confundir radiação ou radioterapia com queimadura. Por isso, a radiação é usada para tratamento de tumores que têm uma absorção seletiva dos raios, se comparados com os tecidos sadios. Em outras palavras: quando se irradia um tumor, a absorção é maior nas células tumorais e menor nos tecidos sadios.
    Descrevendo de maneira muito simples, há um efeito imediato que chamamos de efeito direto da radiação, ou seja, uma destruição na hélice do DNA que faz a célula maligna morrer naquela hora ou a deixa marcada para morrer mais tarde, e um efeito tardio. Este ocorre no meio em que a célula está, provocando uma série de alterações que, com o passar do tempo, agem em seu metabolismo e fazem com que ela morra por um processo chamado de apoptose ou morte celular programada.
    Se o tumor não tivesse a propriedade de absorção seletiva dos raios, nunca poderíamos fazer radioterapia. Trata-se de um fenômeno interessante: o tumor tem um tipo de sensibilidade à radiação e as células sadias, outro. Quanto mais radiossensível ele for e mais distante estiver da célula normal, maior a chance de curar a doença.
    EVOLUÇÃO DAS MÁQUINAS DE RADIOTERPIA
    Drauzio – A radioterapia é um processo que permite jogar radiação na área do corpo onde se localiza o tumor. Esse tratamento começou com a utilização das bombas de cobalto. Como evoluíram essas máquinas e o que criaram de novo no campo da radioterapia?
    João Luis Fernandes da Silva – A primeira forma de utilizar a radiação não foi através de um aparelho colocado distante do tumor (teleterapia). Na verdade, eram isótopos colocados em contato com o tumor, a braquiterapia. A propósito, “braqui” é um prefixo grego que significa junto de, em contato com.
    Do ponto de vista cronológico, porém, os aceleradores lineares (os aparelhos mais utilizados hoje) talvez tenham aparecido antes das bombas de cobalto. Retomando os aspectos históricos, a radiação foi descoberta quando Roentgen conseguiu obter uma forma de energia capaz de sensibilizar um filme fotográfico onde ficaram registrados os ossos da mão e o anel da pessoa que o ajudava.
    A partir daí, os aparelhos de radiação foram usados para diagnóstico. No entanto, de forma absolutamente empírica, observou-se que regrediam as lesões de pele do médico e daqueles que por ventura estivessem lidando com as máquinas de raios X. Diante de tal evidência, a radiação foi utilizada especificamente para esse tipo de tratamento – pasmem! – sem nenhuma proteção.
    Com o passar do tempo, porém, a radiação passou a ser gerada por pastilhas, as bombas de cobalto, colocadas num cabeçote e cercadas de enorme proteção. A título de curiosidade, depois dos grandes acidentes com radioatividade que ocorreram em seu território, o Brasil é o país do mundo que conta com as melhores barreiras de proteção.
    Das pastilhas de cobalto ou de césio colocadas dentro de um cabeçote altamente protegido emana um feixe de radiação ionizante que, por meio de processos aritméticos e geométricos, é direcionado para incidir na região do tumor, respeitando uma considerável margem de segurança. Entretanto, essas pastilhas vão perdendo a força com o tempo e precisam ser substituídas e descartadas.
    Como esse tipo de radiação natural pode provocar uma série de contratempos, surgiram os aceleradores lineares, aparelhos com a capacidade de produzir radiação eletromagnética ionizante (fóton) para tratar de tumores. O processo consiste mais ou menos no seguinte: retira-se da periferia do átomo um elétron que entra em superaceleração e vai bater num alvo pré-determinado. Atualmente, por meio de computadores e digitalização, temos o poder de irradiar com precisão o ponto almejado. Para tanto, dependemos muito da imagem. Esse grau de sofisticação que permite colocar a radiação eletromagnética no alvo exige saber exatamente onde se localiza o tumor.
    DINÂMICA DO TRATAMENTO
    Drauzio – Posso dizer, então, que a grande evolução por que passaram as máquinas de radioterapia permitiu dirigir o feixe de radiação de forma a atingir o tumor em todas as suas dimensões, poupando ao máximo os tecidos que estão na vizinhança. No passado, quando os aparelhos não permitiam fazer esse desenho claro do local a ser irradiado, muitas vezes os doentes apresentavam queimaduras de tecidos nobres do organismo. Isso mudou completamente a perspectiva do tratamento.
    João Luis Fernandes da Silva – A diminuição da morbidade por causa dos efeitos colaterais da radioterapia tem implicação básica e direta com a evolução das radioterapias bidimensional e tridimensional. Hoje, é possível por um método de imagem como a tomografia desenhar o tumor observando as margens de segurança. Isso não é feito por um profissional isoladamente; é um processo dinâmico que envolve o radiologista, o oncologista clínico, o cirurgião, a pessoa que fez o exame de ressonância magnética.
    Uma vez desenhado o campo de radiação, ele é enviado para um sistema de computador e obtém-se um modelo biológico que permite definir exatamente a região que será irradiada. Por exemplo, vamos imaginar que o órgão a ser irradiado seja a próstata. O reto, que está colado nela, não pode receber mais do que 60% da dose necessária para a próstata e a bexiga, mais do que 55%. Essa limitação de dose é colocada no sistema, que oferece como opção outros campos para incidir o feixe de raios a fim de preservar os órgãos vizinhos. O mesmo aconteceria com um tumor de pulmão, de cabeça e pescoço, ou mesmo de língua, se tivéssemos que poupar as glândulas salivares. A dose está alta, vamos recalcular quantas vezes sejam necessárias. Isso só é possível porque hoje conseguimos conversar com o computador.
    Infelizmente, eu me sinto um pouco frustrado, pois nem todos os profissionais podem trabalhar desse modo no Brasil, o que é muito ruim. Sabe-se como tratar direito um paciente com câncer, mas diante das restrições socioeconômicas do país não se pode propiciar esse tipo de tratamento para toda a população.
    Drauzio – Esses aparelhos custam muito caro?
    João Luis F. da Silva – Custam caro, mas o problema não é tanto o preço. O governo destinou cem milhões de reais para a compra de aparelhos maravilhosos que foram instalados em diversos locais do País nos últimos anos. Embora tenha sido uma medida elogiável, foi a mesma coisa que dar um Boeing para um piloto aprendiz. O médico brasileiro não é melhor nem pior do que nenhum outro. Só precisa ser formado, ser preparado para trabalhar com esse tipo de equipamento.
    Sem que tal providência tenha sido tomada, novamente o governo está distribuindo aparelhos por todo o Brasil. Vai colocar, por exemplo, um aparelho em Roraima. Está certo, porque a radioterapia ajuda a curar os pacientes. Em composição com a oncologia clínica e cirúrgica, presta serviço assistencial de valor incontestável. Mas, pergunto: de que adianta colocar uma estrutura que custa cinco milhões de reais num lugar onde não será usada em sua plenitude? A falta de formação dos profissionais que vão lidar com esses aparelhos é um problema que nos enche de mágoa porque, se eles fossem adequadamente preparados, estariam realizando um ótimo trabalho.
    ORIENTAÇÕES PRELIMINARES
    Drauzio – Como você orienta o paciente que vai receber o tratamento radioterápico pela primeira vez para que não se assuste diante das máquinas?
    João Luis Fernandes da Silva – Vamos imaginar que eu receba uma mulher com câncer de mama indicada pelo oncologista clínico para fazer radioterapia. Existe uma parte orgânica a ser tratada, mas existem outras também importantes, como o contexto e a empatia com o médico, que merecem atenção.
    A primeira consulta é igual a todas as outras que a mulher fez na vida. Leva os exames, eu os aprecio e, em 99% das vezes, ligo para o colega que acompanha o caso. Depois, planejo o preparo da radioterapia e a elaboração de uma imagem da área que será irradiada. É um câncer de mama? Vamos irradiar a mama sem maltratar o pulmão ou o coração da paciente. Temos o hábito de mostrar-lhe – e nem todos podem fazer isso – qual será nosso campo de ação num computador ou num modelo que é uma placa. Explicamos que durante a radioterapia pode sentir um pouco de náusea e de astenia e mostramos a sala onde será tratada. Nós que lidamos só com tumores sabemos que é importante contar com um ambiente agradável. Contamos que ela ouvirá um barulhinho e que estará sendo observada o tempo todo numa tela de televisão (isso é obrigado pela vigilância sanitária). Qualquer sinal seu será o suficiente para interrompermos imediatamente a aplicação
    Drauzio – Quanto tempo dura cada irradiação?
    João Luis Fernandes da Silva – Dura em torno de sete a quinze minutos. A família se preocupa, pois teme que o doente não suporte um tratamento dessa magnitude, mas a natureza humana é surpreendente. Em geral, ele tolera de uma maneira que vai muito além das nossas expectativas.
    Drauzio – Durante quanto tempo o paciente é submetido à irradiação?
    João Luis Fernandes da Silva – Em média de seis a seis semanas e meia, de segunda a sexta-feira. Só ocasionalmente o tratamento é mantido nos sábados e domingos.
    EFEITOS COLATERAIS
    Drauzio – É lógico que os efeitos colaterais dependem do local irradiado. Irradiar uma lesão no pé provoca efeitos colaterais diferentes daqueles resultantes da radiação num tumor de boca. De qualquer modo, quais são os efeitos colaterais mais comuns?
    João Luis Fernandes da Silva – Dependendo da região em que está sendo feita e do mesmo modo que a quimioterapia, a radioterapia pode provocar efeitos sistêmicos.  Vou citar como exemplo a barriga, um dos piores lugares para serem irradiados. Segmentos do intestino, tais como mucosa, parede, epitélio (camada que reveste o intestino), renovam-se tão rapidamente quanto a pele, o que pode provocar enjoo e alterações dos hábitos intestinais.
    O grande exemplo dos efeitos da radiação é a síndrome que matou a população de Hiroshima e Nagasaki. Quais são os sistemas mais sensíveis do organismo? São o trato gastrintestinal, as células do sangue (caem plaquetas e leucócitos) e depois a síndrome cerebral. Como a radioterapia é localizada, pode causar esse quadro em pequenas proporções. De qualquer forma, provoca nos pacientes o chamado mal das radiações, ou seja, a astenia. Eles se referem à moleza e à vontade de não sair da cama.
    Mesmo que o campo da irradiação seja pequenininho, há um reflexo na dinâmica de vida do paciente e isso é categorizado. Se a região irradiada for a boca, pode ocorrer mucosite, uma inflamação da mucosa bucal. Radiação nas parótidas diminui a secreção salivar (xerostomia) e o paciente tem dificuldade para engolir. Se o alvo for um tumor no ânus, a vagina pode ficar irritada e sensível durante a micção.
    Resumindo, a radioterapia tem efeito basicamente local, diretamente relacionado com o órgão que está sendo irradiado.
    ESTILO DE VIDA
    Drauzio –Como deve ser o estilo de vida de quem está fazendo radioterapia O que deve comer? Pode tomar sol?
    João Luis Fernandes da Silva – Novamente me vêm os tumores de próstata e DE mama como exemplos, porque são os mais frequentes. Vou citar a próstata, pois é a que menos reação cutânea apresenta.
    É proibido tomar sol durante o tratamento radioterápico; aliás, excesso de sol não é bom nunca. Bebidas alcoólicas têm de ser evitadas porque irritam os órgãos por onde passam e fumar também é contraindicado não só para o câncer de pulmão e de bexiga, mas para os outros tumores também. Há estudos comprovando que o prognóstico piora muito se a pessoa com tumor de cabeça e pescoço fumar durante o tratamento. Via de regra, o doente com alimentação saudável não muda os hábitos alimentares e, num bom número de casos, nem a atividade física.
    Com frequência, a radioterapia é associada a outros tratamentos, à quimioterapia, principalmente. Aí, os efeitos colaterais triplicam. Irradiação para um tumor de esôfago associada à quimioterapia torna mais difícil deglutir; tumor no reto recebendo tratamento concomitante de rádio e quimioterapia provoca aumento do trânsito intestinal.
    Drauzio – Que quantidade de líquido deve tomar o doente em tratamento radioterápico?
    João Luis Fernandes da Silva – Se a irradiação é no trato gastrintestinal, o doente deve tomar um pouco mais de líquido, porque o aumento da atividade do sistema digestivo pode espoliar os tecidos. Se o local irradiado impede a alimentação adequada do paciente, de alguma forma é preciso garantir que haja maior ingestão calórica, principalmente de proteína líquida.
    NÁUSEAS E ASTENIA
    Drauzio – Quais são as dicas para aqueles que têm náuseas?
    João Luís Fernandes da Silva – Nós usamos a sistemática clássica: a indicação de anti-heméticos, isto é, de remédios contra náuseas e vômitos. Começamos dos mais baratos para os mais caros e ensinamos alguns truquezinhos que ajudam a controlar esses sintomas. Comer doce é um deles. Por isso, gosto de sugerir para meus doentes que tomem sorvete e comam alimentos frescos. Fruta é fundamental na dieta desses doentes.
    Drauzio – Às vezes, alimentos salgados – bolacha de água e sal, por exemplo -, e chá também ajudam.
    João Luís Fernandes da Silva – Exatamente. A noção caseira de fazer soro fisiológico é útil.  Portanto, contra as náuseas e vômitos as orientações são dadas quando se faz radioterapia pública ou privada e vão desde as mais simples até as drogas mais caras, mesmo optando pelos genéricos.
    Drauzio – E contra o cansaço, qual é o conselho?
    João Luís Fernandes da Silva – Primeiro, mesmo com limitações, o doente não deve ficar na cama, assistindo à televisão e pensando no tratamento e na doença. Isso é muito ruim. Depois, existem medicamentos com base calórica proteica que ajudam a controlar a astenia.
    FUTURO PROMISSOR
    Drauzio – Você acha que com o decorrer dos anos poderemos contar com aparelhos que acertarão a região do tumor com mais precisão e menos efeitos colaterais?
    João Luís Fernandes da Silva – Eles já existem. Há uma brincadeira que corre entre os especialistas em radioterapia – “me dê uma imagem do tumor que eu coloco a radiação nele” – que reflete a grande evolução da radioterapia. Pode-se dizer que hoje, quase se faz uma radiação puntiforme. Existe um tipo de radioterapia chamada radiocirurgia, como o próprio nome indica, uma radiação que tenta substituir a cirurgia. Lesões pequeninas localizadas no cérebro são atacadas com um tiro só, ou seja, uma carga brutal de irradiação. Isso precisa ser feito com precisão milimétrica, à luz de cálculos extremamente sofisticados, só possíveis na era da informática em que vivemos. Além disso, a evolução por que está passando a genética facilitará a utilização de marcadores tumorais por meio dos quais se determinará com precisão onde está o tumor para eventualmente levar um quimioterápico junto com a radiação.
    Como se vê, o futuro da radioterapia é cada vez mais promissor.

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