sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

ABORTO

Um aborto[1] ou interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão prematura de um embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo por esta causada.[2]Isto pode ocorrer de forma espontânea ou induzida, provocando-se o fim da gestação, e consequente fim da atividade biológica do embrião ou feto, mediante uso demedicamentos ou realização de cirurgias.
O aborto induzido, quando realizado por profissionais capacitados e em boas condições de higiene é um procedimento seguro para a mãe.[3] Entretanto, o aborto feito por pessoas não qualificadas ou fora de um ambiente hospitalar, resulta em aproximadamente 70 mil mortes maternas e cinco milhões de lesões maternas por ano no mundo.[4]Estima-se que sejam realizados no mundo 44 milhões de abortos anualmente, sendo pouco menos da metade destes procedimentos realizados de forma insegura.[5]
A incidência do aborto se estabilizou nos últimos anos,[5] após ter tido uma queda nas últimas décadas devido ao maior acesso a planejamento familiar e a métodos contraceptivos.[6] 40% das mulheres do mundo têm acesso a aborto induzido em seus países (dentro dos limites gestacionais).[7]
Historicamente, o aborto induzido vem sendo realizado através de diferentes métodos e seus aspectos moraiséticoslegais e religiosos ainda são objeto de intenso debate em diversas partes do mundo.
No Brasil os grupos religiosos, liderados pela Igreja Católica mas com a participação ativa de evangélicos e espíritas, são os principais atores sociais contrários ao aborto. Eles atuam no Congresso Nacional e em outras instâncias para que a proibição do aborto seja mantida.[8]

Tipos[editar | editar código-fonte]

O aborto geralmente é dividido em dois tipos, aborto espontâneo e aborto induzido. Outras classificações também são usadas, de acordo com o tempo de gestação, por exemplo.

Aborto espontâneo[editar | editar código-fonte]

Aborto espontâneo, involuntário ou casual, é a expulsão não intencional de um embrião ou feto antes de 20-22 semanas de idade gestacional. Uma gravidez que termina antes de 37 semanas de idade gestacional que resulta em um recém-nascido vivo é conhecida como parto prematuro ou pré-termo. Quando um feto morre no interior do útero após a viabilidade, ou durante o parto, geralmente é chamado de natimorto.
A causa mais comum de aborto espontâneo durante o primeiro trimestre são as anomalias cromossômicas do feto/embrião, que contabilizam pelo menos 50% das perdas gestacionais precoces.
Outras causas incluem doenças vasculares (como o lúpus eritematoso sistêmico), diabetes, problemas hormonais, infecções, anomalias uterinas e trauma acidental ou intencional. A idade materna avançada e a história prévia de abortos espontâneos são os dois fatores mais associados com um risco maior de aborto espontâneo.

Aborto induzido[editar | editar código-fonte]

O aborto induzido, também denominado aborto provocado ou interrupção voluntária da gravidez, é o aborto causado por uma ação humana deliberada. Ocorre pela ingestão de medicamentos ou por métodos mecânicos. A ética deste tipo de abortamento é fortemente contestada em muitos países do mundo mas é reconhecida como uma prática legal em outros locais do mundo, sendo inclusive em alguns totalmente coberta pelo sistema público de saúde. Os dois polos desta discussão passam por definir quando o feto ou embrião se torna humano ou vivo (se na concepção, no nascimento ou em um ponto intermediário) e na primazia do direito da mulher grávida sobre o direito do feto ou embrião.
O aborto induzido possui as seguintes subcategorias:

Outras classificações[editar | editar código-fonte]

Quanto ao tempo de duração da gestação:
  • Aborto subclínico: abortamento que acontece antes de quatro semanas de gestação
  • Aborto precoce: entre quatro e doze semanas
  • Aborto tardio: após doze semanas

Riscos de um aborto[editar | editar código-fonte]

Os riscos para a saúde envolvidos no aborto induzido dependem de o procedimento ser realizado com ou sem segurança.
Organização Mundial de Saúde define como abortos não-seguros aqueles realizados por indivíduos sem formação, equipamentos perigosos ou em instituições sem higiene.[10] Os abortos legais realizados nospaíses desenvolvidos estão entre os procedimentos mais seguros na medicina.[3] [11] Nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade materna em abortos entre 1998 e 2005 foi de 0,6 morte por 100.000 procedimentos abortivos, tornando o aborto cerca de 14 vezes mais seguro do que o parto, cuja taxa de mortalidade é de 8,8 mortes por 100.000 nascidos vivos.[12] [13]
O risco de mortalidade relacionada com o aborto aumenta com a idade gestacional, mas permanece menor do que o do parto até pelo menos 21 semanas de gestação.[14] [15] Isso contrasta com algumas leis presentes em alguns países que exigem que os médicos informem os pacientes que o aborto é um procedimento de alto risco.[16]
aspiração uterina a vácuo no primeiro trimestre é o método de aborto não-farmacológico mais seguro, e pode ser realizado em uma clínica de atenção primária em saúde, clínica de aborto ou hospital. As complicações são raras e podem incluir perfuração uterinainfecção pélvica e retenção dos produtos da concepção necessitando de um segundo procedimento para evacuá-los.[17]
Geralmente são administrados antibióticos profiláticos (preventivos) (como a doxiciclina ou metronidazol) antes do aborto eletivo,[18] pois acredita-se que eles diminuem substancialmente o risco de infecção uterina pós-operatória.[19] [20] As complicações após abortos no segundo-trimestre são similares às que ocorrem após o aborto no primeiro trimestre, e dependem do método escolhido.
Existe pouca diferença em termos de segurança e eficácia entre o aborto farmacológicos usando regime combinado de mifepristona e misoprostol e o aborto não-farmacológico (aspiração a vácuo) quando são realizados no início do primeiro trimestre (até 9 semanas de idade gestacional).[21] O aborto farmacológico com o uso do análogo de prostaglandina misoprostol isolado é menos efetivo e mais doloroso do que o aborto usando o regime combinado de mifepristona e misoprostol ou do que o aborto cirúrgico.[22] [23]
Existe controvérsia na comunidade médica e científica sobre os efeitos do aborto. As interrupções de gravidez feitas por médicos competentes são normalmente consideradas seguras para as mulheres, dependendo do tipo de cirurgia realizado.[24] [25] Entretanto, um argumento contrário ao aborto seria de que, para o feto, o aborto obviamente nunca seria "seguro", uma vez que provoca sua morte sem direito de defesa.[26] [27]
Os métodos que não são realizados com acompanhamento médico (uso de certas drogas, ervas, ou a inserção de objectos não cirúrgicos no útero) são potencialmente perigosos para a mulher, conduzindo-a a um elevado risco de infecção permanente ou mesmo à morte, quando comparado com os abortos feitos por pessoal médico qualificado.
Segundo a ONU, pelo menos 70 mil mulheres perdem a vida anualmente em consequência de abortos realizados em condições precárias,[28] não há, no entanto, estatísticas confiáveis sobre o número total de abortos induzidos realizados no mundo nos países e/ou situações em que o aborto é criminalizado.
Existem, com variado grau de probabilidade, possíveis efeitos negativos associados à prática abortiva, nomeadamente a hipótese de ligação ao câncer de mama, a dor fetal, a síndrome pós-abortiva. Possíveis efeitos positivos incluem redução de riscos para a mãe e para o desenvolvimento da criança não desejada.
Em janeiro de 2012 uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde revelou que a prática do aborto é maior nos países em que ele é proibido e quase metade de todos os abortos feitos no mundo é realizada com altos riscos para a mulher.
Entre 2003 e 2008, cerca de 47 mil mulheres morreram e outros 8,5 milhões tiveram consequências graves na sua saúde, decorrentes da prática do aborto.
Quase todas as interrupções de gravidez intencionais realizadas de maneira insegura, aconteceram em nações em desenvolvimento, na América Latina e África. "O aborto é um procedimento muito simples. Todas essas mortes e complicações poderiam ter sido facilmente evitadas", disse Gilda Sedgh, pesquisadora-sênior do Instituto norte-americano Guttmacher, autora do estudo.[29]

Câncer de mama[editar | editar código-fonte]

O médico estadunidense Joel Brind é o principal defensor de uma suposta relação causal entre o aborto induzido e o risco de desenvolvimento de câncer de mama.[30]
Sua teoria é que no início da gravidez, o nível de estrogénio aumenta, levando ao crescimento das células mamárias necessário à futura fase de lactação. A hipótese de relação positiva entre câncer de mama e aborto sustenta que se a gravidez é interrompida antes da completa diferenciação celular, então existirão relativamente mais células indiferenciadas vulneráveis à contracção da doença.[carece de fontes]
Esta hipótese não é aceita pelo consenso científico das entidades ligadas ao câncer.[31] [32] [33] Bind é um pesquisador com uma agenda enviesada e pseudocientífica para a promoção de suas crenças religiosasatravés do do "Breast Cancer Prevention Institute".[34] [35]

Dor do feto[editar | editar código-fonte]

A existência ou ausência de sensações fetais durante o processo de abortamento é hoje matéria de interesse médico, ético e político. Diversas provas entram em conflito, existindo algumas opiniões defendendo que o feto é capaz de sentir dor a partir da sétima semana[36] enquanto outros sustentam que os requisitos neuro-anatómicos para tal só existirão a partir do segundo ou mesmo do terceiro trimestre da gestação.[37]
Os receptores da dor surgem na pele na sétima semana de gestação.
hipotálamo, parte do cérebro receptora dos sinais do sistema nervoso e que liga ao córtex cerebral, forma-se à quinta semana.
Todavia, outras estruturas anatómicas envolvidas no processo de sensação da dor ainda não estão presentes nesta fase do desenvolvimento. As ligações entre o tálamo e o córtex cerebral formam-se por volta da 23ª semana.[38] Existe também a possibilidade de que o feto não disponha da capacidade de sentir dor, ligada ao desenvolvimento mental que só ocorre após o nascimento.[39]
Novos estudos do Hospital Chelsea, realizados pela Dra. Vivette Glover em Londres sugerem que a dor fetal pode estar presente a partir da décima sétima semana de vida do feto. O que justificaria, segundo os proponentes do aborto, o uso de anestésicos para diminuir o provável sofrimento do feto. Estes estudos contrariam a versão da entidade que reúne obstetras e ginecologistas do Reino Unido, o Royal College of Obstretics and Gynacologists; para esta organização, só há dor depois de 26 semanas.[40]

Síndrome pós-abortiva[editar | editar código-fonte]

A síndrome pós-abortivo seria uma série de reações psicológicas apresentadas ao longo da vida por mulheres após terem cometido um aborto.
Há vários relatos de problemas mentais relacionados direta ou indiretamente ao aborto; uma descrição clássica pode ser encontrada na obra "A psicopatologia da vida cotidiana", de Sigmund Freud.[41] No livro "Além do princípio de prazer", Freud salienta: "Fica-se também estupefato com os resultados inesperados que se podem seguir a um aborto artificial, à morte de um filho não nascido, decidido sem remorso e sem hesitação."[42]
Há médicos portugueses, porém, que questionam a existência do síndroma; não existe nenhum estudo português publicamente divulgado sobre o assunto. Entretanto nos Estados UnidosReino Unido e mesmo noBrasil, essa possibilidade já é bastante discutida, com resultados contrastantes.[43] [44]
O síndroma pós-abortivo (PAS), conhecido também como síndroma pós-traumático pós-abortivo ou por síndroma do trauma abortivo, é um termo que designa um conjunto de características psicopatológicas que alguns médicos dizem ocorrer nas mulheres após um aborto provocado.[45] Alguns estudos, no entanto, concluem que alguns destes sintomas são consequência da proibição legal e/ou moral do aborto e não do ato em si. [carece de fontes]
Entretanto, tal síndrome teria sido catalogada em inúmeras pesquisas, entre elas a do dr. Vincent Rue, que no estudo da Desordem Ansiosa Pós-Traumática (DAPT), presente em ex-combatentes do Vietnã, e teria sua correspondente na síndrome pós-aborto (SPA).
Algumas estatísticas de organizações pró-vida argumentam que há um aumento de 9% para 59% nos índices de distúrbios psicológicos em mulheres que se submetem ao aborto.[46]
Outro estudo, do Royal College of Psychiatrists, a associação dos psiquiatras britânicos e irlandeses, considerou que o aborto induzido pode trazer distúrbios clínicos severos para a mulher, e que essa informação deve ser passada para a mesma, antes da opção pelo aborto.
Esse estudo foi repassado à população pelo Jornal Britânico Sunday Times.[47]

Mulheres grávidas vítimas de violência[editar | editar código-fonte]

Embora existam notícias[48] indicando que muitas mulheres grávidas morrem em consequência de atos violentos, aparentemente[49] não há dados conclusivos que cruzem esta informação com o risco de morte geral das mulheres não-grávidas em situações semelhantes.

Consequências a longo prazo para a criança não desejada[editar | editar código-fonte]

Muitos membros de grupos pró-escolha[50] consideram haver um risco maior de crianças não desejadas (crianças que nasceram apenas porque a interrupção voluntária da gravidez não era uma opção, quer por questões legais, quer por pressão social) terem um nível de felicidade inferior às outras crianças incluindo problemas que se mantêm mesmo quando adultas, entre estes problemas incluem-se:
  • doença e morte prematura[51]
  • pobreza
  • problemas de desenvolvimento[51]
  • abandono escolar[52]
  • delinquência juvenil[53]
  • abuso de menores
  • instabilidade familiar e divórcio[54]
  • necessidade de apoio psiquiátrico[54]
  • falta de autoestima[55]
Uma opinião contrária, entretanto, apresentada por grupos pró-vida, seria que, mesmo que sejam encontradas correlações estatísticas entre gravidez indesejáveis e situações consideradas psicologicamente ruins para as crianças nascidas, esta situação não pode ser comparada com a de crianças abortadas, visto que estas não estão vivas. Uma "situação de vida" não seria passível de comparação com uma "situação de morte", visto a inverificabilidade desta enquanto situação possivelmente existente (a chamada "vida após a morte") pelos métodos científicos disponíveis. Como não se pode estipular se uma situação ruim de vida, por pior que fosse, seria pior que a morte, o aborto, no caso, não poderia ser apresentado como solução, visto que não dá a capacidade de escolha ao envolvido, enquanto ainda é um feto.[56] [57] [58]

Métodos de indução[editar | editar código-fonte]

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Aborto farmacológico[editar | editar código-fonte]

Também conhecido como aborto médico, químico ou não-cirúrgico, é o aborto induzido por administração de fármacos que provocam a interrupção da gravidez e a expulsão do embrião. O aborto farmacológico é aplicável apenas no primeiro trimestre da gravidez.
Tornou-se um método alternativo de aborto induzido com o surgimento no mercado dos análogos de prostaglandina no início dos anos 1970 e do antiprogestágeno mifepristona (RU-486) nos anos 1980.[59] [60] [61]
Os regimes de aborto mais comuns para o primeiro trimestre utilizam mifepristona em combinação com um análogo de prostaglandina (misoprostol) até 9 semanas de idade gestacional, metotrexato em combinação com um análogo de prostaglandina até 7 semanas de gestação, ou um análogo de prostaglandina isolado.[59] Os regimes de mifepristona–misoprostol funcionam mais rápido e são mais efetivos em idades gestacionais mais avançadas do que os regimes combinados de metotrexato-misoprostol, e os regimes combinados são mais efetivos que o uso do misoprostol isolado.[60]
Em abortos muito precoces, com até 7 semanas de gestação, o regime combinado de mifepristona-misoprostol é considerado mais efetivo do que o aborto cirúrgico (aspiração à vácuo).[21] Os regimes de aborto médico precoce que utilizam 200 mg de mifepristona, seguido por 800 mcg de misoprostol vaginal ou oral 24-48 horas após apresentam efetividade de 98% até as 9 semanas de idade gestacional.[62] Nos casos de falha do aborto farmacológico, é necessária a complementação do procedimento com o aborto cirúrgico.[63]
Os abortos farmacológicos precoces são responsáveis pela maioria dos abortos com menos de 9 semanas de gestação na Grã-Bretanha,[64] [65] França,[66] Suíça,[67] e nos países nórdicos.[68] Nos Estados Unidos, o percentual de abortos farmacológicos precoces é menor.[19] [69]
Regimes de aborto farmacológico usando mifepristona em combinação com um análogo de prostaglandina são os métodos mais comumente usados para abortos de segundo trimestre no Canada, maior parte da Europa, China e Índia,[61] ao contrário dos Estados Unidos, onde 96% dos abortos de segundo trimestre são realizados cirúrgicamente com dilatação e esvaziamento uterino.[70]

Aborto cirúrgico ou por procedimentos[editar | editar código-fonte]

Os procedimentos no primeiro trimestre podem geralmente ser realizados usando anestesia local, enquanto os realizados no segundo trimestre podem necessitar de sedação ou anestesia geral.[19]

Aspiração uterina a vácuo[editar | editar código-fonte]

Um aborto realizado por aspiração a vácuo com equipamento elétrico em uma gestação de oito semanas (seis semanas após a fertilização).1: Bolsa amniótica2: Embrião3: Endométrio4:Espéculo5: Cureta de aspiração6:Saída para a bomba à vácuo
No procedimento de aspiração uterina a vácuo o médico realiza vácuo no útero da gestante para remover o feto. São utilizados equipamentos manuais ou elétricos para a realização do vácuo. Geralmente são realizados em gestações de até doze semanas (primeiro trimestre).
aspiração manual intrauterina (AMIU) consiste em uma aspiração cujo vácuo é criado manualmente utilizando-se uma cânula flexível acoplada a uma seringa. Foi desenvolvida para ser realizada ambulatorialmente sem anestesia geral, não necessitando ser realizada em bloco cirúrgico. Não é necessária a dilatação cervical.
O procedimento também pode ser utilizando um aparelho de vácuo eléctrico. Neste tipo de aspiração o conteúdo do útero é sugado pelo equipamento.
Ambos os procedimentos são considerados não-cirúrgicos e são realizados em cerca de dez minutos. São eficazes e seguros, pois apresentam um baixo risco para a mulher (0,5% de casos de infecção).

Dilatação e curetagem uterina[editar | editar código-fonte]

Figura mostrando como é empregada a técnica da curetagem
Em gestações mais avançadas, nas quais o material a ser removido do útero é muito volumoso, recorre-se à curetagem. Ao contrário da aspiração uterina à vácuo, que pode ser realizada em consultórios ou clínicas, a dilatação e curetagem é um procedimento cirúrgico, devendo ser realizado em um hospital com bloco cirúrgico. Inicialmente o médico alarga o colo do útero da paciente com dilatadores, para permitir a passagem da cureta a seguir. A cureta é um instrumento cirúrgico cortante, em forma de colher, que é introduzida no útero para realizar a raspagem. Servindo-se da cureta, o médico retira todo o conteúdo uterino, incluindo o endométrio.
Uma das principais complicações da curetagem é a perfuração uterina causada pela cureta.
Evita-se a realização da curetagem uterina em gestações com mais de 12-16 semanas sem antes realizar a expulsão fetal.

Dilatação e evacuação[editar | editar código-fonte]

O procedimento de curetagem é aplicável ainda no começo do segundo trimestre, mas se não for possível terá de recorrer-se a métodos como a dilatação e evacuação. Neste procedimento o médico promove primeiro a dilatação cervical (um dia antes).
Na intervenção que é feita sob anestesia é inserido um aparelho cirúrgico na vagina para cortar o material intra-uterino em pedaços, e retirá-los de dentro do útero. No final é feita a aspiração. O feto é remontado no exterior para garantir que não há nenhum pedaço no interior do útero que poderia levar a infecção séria. Em raríssimas situações (0,17% das IVGs realizadas nos Estados Unidos em 2000) o feto é removido intacto.

Eliminação ou expulsão fetal (indução do trabalho de parto)[editar | editar código-fonte]

A eliminação ou expulsão fetal geralmente é reservada para gestações com mais de doze semanas. Consiste em forçar prematuramente o trabalho de parto com o uso do análogo de prostaglandina misoprostol. Pode-se associar o uso de ocitocina ou injeção no líquido amniótico de soluções hipertônicas com solução salina ou ureia.
Após a expulsão fetal, pode ser necessária a realização de curetagem.

Aborto por esvaziamento craniano intrauterino[editar | editar código-fonte]

O aborto por esvaziamento craniano intrauterino (ECI), também conhecido como aborto com "nascimento parcial", é uma técnica utilizada para provocar o aborto quando a gravidez está em estágio avançado, entre 20 e 26 semanas (cinco meses a seis meses e meio).[71] Guiado por ultrassom, o médico segura a perna do feto com um fórceps, puxa-o para o canal vaginal, e então retira o feto do útero, com exceção da cabeça.
Faz então uma incisão na nuca, inserindo depois um cateter para sugar o cérebro do feto e então o retira por inteiro do corpo da mãe. Em alguns países, essa prática é proibida em todos os casos, sendo considerada homicídio e punida severamente.[72] [73] Esta técnica tem sido alvo de intensas polêmicas nos Estados Unidos.
Em 2003, sua prática foi proibida em todo o país, gerando revoltas de movimentos pró-aborto.[74]

Outros métodos[editar | editar código-fonte]

No passado, diversas ervas já foram consideradas portadoras de propriedades abortivas e foram usadas na medicina popular.[75] No entanto, o uso de ervas com a intenção abortiva pode causar diversos efeitos adversos graves e até mesmo letais, tanto para a mãe quanto para o feto, e não é recomendado pelos médicos.[76]
O aborto, às vezes, é tentado através de trauma no abdômen. O grau da força, se intensa, pode causar diversas lesões internas graves sem necessariamente induzir com sucesso a perda fetal.[77] No Sudeste da Ásia, há uma tradição antiga de se tentar o aborto através de forte massagem abdominal.[78]
Métodos utilizados em abortos autoinduzidos não seguros incluem o uso incorreto de misoprostol e a inserção de materiais não cirúrgicos como agulhas e prendedores de roupas no útero. A utilização destes métodos não seguros raramente é observada em países desenvolvidos, onde o aborto cirúrgico é legal e disponível.[79]

História[editar | editar código-fonte]

A história do aborto, segundo a Antropologia, remonta à Antiguidade.
Há evidências que sugerem que, historicamente, dava-se fim à gestação, ou seja, provocava-se o aborto, utilizando diversos métodos, como ervas abortivas, o uso de objetos cortantes, a aplicação de pressão abdominal entre outras técnicas.

Terminologia[editar | editar código-fonte]

A palavra aborto tem sua origem etimológica no latim abortacus, derivado de aboriri ("perecer"), composto de ab ("distanciamento", "a partir de") e oriri ("nascer").

Sociedade e cultura[editar | editar código-fonte]

Debate sobre o aborto[editar | editar código-fonte]

Situação jurídica do aborto ao redor do mundo:
  Legalizado em todos os casos
  Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde, fatores socioeconômicos ou má-formação do feto
  Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde ou má-formação do feto
  Legalizado em caso de estupro, risco de vida ou problemas de saúde
  Legalizado em caso de risco de vida ou problemas de saúde
  Proibido em todos os casos
  Varia por região
  Não há informação

Consequências positivas[editar | editar código-fonte]

Em um estudo polêmico de Steven Levitt da Universidade de Chicago e John Donohue da Universidade Yale associa a legalização do aborto com a baixa da taxa de criminalidade na cidade de Nova Iorque e através dos Estados Unidos. Tal estudo apresenta, com base em dados de diversas cidades norte-americanas e com significância estatística, o possível efeito da redução dos índices de criminalidade onde o aborto é legal. Ainda segundo os autores, estudos no Canadá e na Austrália apontariam na mesma direção.
O recurso a abortos ilegais, segundo os defensores da legalização, aumentaria a mortalidade maternal. Tanto a mortalidade quanto outros problemas de saúde seriam evitados, segundo seus defensores, quando há acesso a métodos seguros de aborto.
Segundo o Instituto Guttmacher, o aborto induzido ou interrupção voluntária da gravidez tem um risco de morte para a mulher entre 0,2 a 1,2 em cada 100 mil procedimentos com cobertura legal realizados em países desenvolvidos. Este valor é mais de dez vezes inferior ao risco de morte da mulher no caso de continuar a gravidez.
Pelo contrário em países em desenvolvimento em que o aborto é criminalizado as taxas são centenas de vezes mais altas atingindo 330 mortes por cada 100 mil procedimentos.[80] Para o Ministro da Saúde brasileiroJosé Gomes Temporão, defensor da legalização do aborto, a descriminalização do aborto deveria ser tratada como problema de saúde pública.[81]

Consequências negativas[editar | editar código-fonte]

Como consequências negativas da legalização do aborto na sociedade, apontam-se, entre outras: a banalização de sua prática, a disseminação da eugenia, a submissão a interesses mercadológicos de grupos médicos e empresas farmacológicas, a diminuição da população, o controle demográfico internacional, a desvalorização generalizada da vida, o aumento de casos de síndromes pós-aborto, e, indiretamente, o aumento do número de casos de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).[82] [83] [84]

Legislação[editar | editar código-fonte]

Dependendo do ordenamento jurídico vigente, o aborto do nascituro considera-se uma conduta penalizada ou despenalizada, atendendo a circunstâncias específicas.
As situações possíveis vão desde o aborto ser considerado um crime contra a vida humana, até ao apoio estatal para a sua realização a pedido da grávida. [85]

Meios de comunicação[editar | editar código-fonte]

Os assuntos relacionados com o aborto de gravidez ainda são um grande tabu em boa parte do mundo, sobretudo em países de maioria religiosa. Os meios de comunicação divulgam posicionamentos e opiniões variadas sobre a prática. O assunto já foi tema de muitas músicas, filmes e documentários.
Recentemente Rebecca Gomperts provocou polêmica no Facebook, com a publicação de um manual de aborto caseiro seguro.[86] O Facebook retirou, entretanto, a imagem que continha informações sobre como praticar o aborto com segurança - recorrendo a um medicamento com efeito abortivo - em países onde o aborto é ilegal.[87]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Commons possui uma categoriacontendo imagens e outros ficheiros sobre Aborto
Wikiquote
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Referências

  1. Ir para cima S.A., Priberam Informática,. Significado / definição de abortamento no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa dicionario.priberam.pt. Visitado em 2015-09-04.
  2. Ir para cima Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
  3. ↑ Ir para:a b Grimes, D. A.; Benson J. Singh S. Romero M. Ganatra B. Okonofua F. E. Shah I. H.. (2006). "Unsafe abortion: The preventable pandemic" (PDF). The Lancet 368 (9550): 1908–1919. DOI:10.1016/S0140-6736(06)69481-6PMID 17126724.
  4. Ir para cima Shah, I.; Ahman E.. (dezembro 2009). "Unsafe abortion: global and regional incidence, trends, consequences, and challenges" (PDF). Journal of Obstetrics and Gynaecology Canada 31 (12): 1149–58. PMID 20085681.
  5. ↑ Ir para:a b "Induced abortion: Incidence and trends worldwide from 1995 to 2008" (PDF)The Lancet 379 (9816): 625–632. 2012. doi:10.1016/S0140-6736(11)61786-8PMID 22264435.
  6. Ir para cima Sedgh G, Henshaw SK, Singh S, Bankole A, Drescher J. (setembro 2007). "Legal abortion worldwide: incidence and recent trends". Int Fam Plan Perspect 33 (3): 106–116. DOI:10.1363/ifpp.33.106.07PMID 17938093.
  7. Ir para cima Culwell KR, Vekemans M, de Silva U, Hurwitz M. (julho 2010). "Critical gaps in universal access to reproductive health: Contraception and prevention of unsafe abortion". International Journal of Gynecology & Obstetrics 110: S13–16. DOI:10.1016/j.ijgo.2010.04.003PMID 20451196.
  8. Ir para cima Luna, Naara. (2013). "O direito à vida no contexto do aborto e da pesquisa com células-tronco embrionárias: disputas de agentes e valores religiosos em um estado laico". Religião & Sociedade 33 (1): 71-97.DOI:10.1590/S0100-85872013000100005ISSN 0100-8587.
  9. ↑ Ir para:a b c d e ROCHE, Natalie E. (2004). Therapeutic Abortion] Emedicine.com. Visitado em 8 de março de 2006.
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    • The regimen (200 mg of mifepristone, followed 24–48 hours later by 800 mcg of vaginal misoprostol)previously used by Planned Parenthood clinics in the United States from 2001 to March 2006 was 98.5% effective through 63 days gestation—with an ongoing pregnancy rate of about 0.5%, and an additional 1% of patients having uterine evacuation for various reasons, including problematic bleeding, persistent gestational sac, clinician judgment or patient request.
    • The regimen (200 mg of mifepristone, followed 24–48 hours later by 800 mcg of buccal misoprostol)currently used by Planned Parenthood clinics in the United States since abril 2006 is 98.3% effective through 59 days gestation
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    Se você mora num país onde não há acesso ao aborto e você deseja realizar um aborto medicinal com Mifepristone e Misoprostol, por favor consulte o site Women on Web. Este é um serviço de ajuda ao aborto medicinal online que te direcionará a um médico que poderá te fornecer o aborto medicinal.
    Uma mulher pode também fazer um aborto até 12 semana de gravidez utilizando apenas Misoprostol.
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    Como se faz um aborto?

    Neste site nós fornecemos informações sobre o Misoprostol (que precauções devem ser tomadas, como os medicamentos funcionam, qual a melhor dose, o que a mulher deve esperar, como tomar os medicamentos e as possíveis complicações) Nós também fornecemos informações científicas. Utilizando apenas o Misoprostol a taxa de sucesso de abortos é de 90%.

    A mulher não deve auto-induzir o aborto se viver num país onde pode fazer um aborto legal e seguro. Nesse caso, deve ir ao médico (https://www.womenonwaves.org/en/map/country)

    Algumas mulheres tentam mesmo abortar introduzindo objectos sujos ou pontiagudos no útero, ou agredindo-se com socos na barriga. Isto é muito perigoso e nunca deve ser feito, pois existem sérios riscos de danos internos, infecções, fortes hemorragias, e a mulher pode mesmo morrer.

    Para muitas mulheres pôr termo a uma gravidez é uma decisão difícil. Não existindo profissionais de saúde com quem as mulheres possam falar acerca deste método e de outras alternativas, aconselhamos a que converse sobre o assunto com um familiar ou amigo. Em especial, aconselhamos às mais jovens que falem com os pais sobre a sua decisão e todo o procedimento.
    As mulheres que estão 100% seguras de que desejam abortar e a quem, de facto, não resta outra opção, devem imprimir e analisar com atenção as instruções que se seguem. É melhor discuti-las com um(a) amigo(a). A mulher nunca deve tomar Misoprostol sozinha.
    Para colocar alguma questão acerca deste método ou partilhar alguma experiência após ter lido a informação abaixo, envie um e-mail para: info@womenonweb.org

    Como funciona um aborto com o Misoprostol?

    A mulher não deve auto-induzir um aborto se estiver grávida há mais de 9 semanas.
    O Misoprostol causa contracções no útero. Como consequência, o útero expele o produto da gravidez. A mulher pode ter dores fortes, hemorragia mais intensa do que na menstruação normal, náuseas, vómitos e diarreia. A mulher corre o risco de hemorragia muito forte; se assim acontecer, tem de ser assistida por um médico.
    O aborto com Misoprostol resulta em mais de 90% dos casos.
    O Misoprostol encontra-se à venda nas farmácias de todos os países.

    A experiência y os riscos de um aborto induzido pelo Misoprostol são semelhantes aos de um aborto espontâneo.

    O aborto espontâneo dá-se em 10% das gravidezes.
    No caso de complicações, o tratamento é igual ao do aborto espontâneo. Se surgir algum problema, a mulher pode sempre ir ao hospital ou recorrer a um médico. O médico procederá como se tivesse havido um aborto espontâneo.
    Disponibilizamos de seguida alguma informação importante e que deve ser lida por todas as mulheres que desejam induzir o aborto com o Misoprostol.

    PRECAUÇÕES:

    O Misoprostol não deve ser usado sem aconselhamento médico num país onde o aborto é seguro y legal.

    Aconselhamos vivamente a recorrer a um médico ou uma clínica. É mais seguro.

    A mulher deve certificar-se de que está grávida.

    Basta fazer um teste de gravidez ou uma ecografia.

    O Misoprostol só deve ser usado quando a mulher está 100% segura de que quer pôr termo à gravidez.

    A mulher deve tentar fazer uma ecografia antes de usar o Misoprostol.

    A ecografia permite ver se a gravidez ocorre no útero e saber de quantos meses a mulher está grávida.

    O Misoprostol não deve ser usado após 12 semanas de gravidez.

    Uma gravidez de nove semanas significa que passaram 84 dias após o primeiro dia da última menstruação. Se a mulher achar que tem uma gravidez superior a 12 semanas, ou se a ecografia assim o confirmar, não aconselhamos o uso do Misoprostol a não ser sob supervisão médica.
    O medicamento continua a ser eficaz, mas o risco de hemorragia intensa, dores fortes e complicações aumenta proporcionalmente ao tempo de gestação.

    Uma mulher nunca deve estar sozinha ao induzir o aborto.

    É importante que a mulher esteja acompanhada ao induzir o aborto. Pode ser o companheiro, um(a) amigo(a), ou familiar, mas a mulher deve estar com alguém que tenha conhecimento do aborto e que possa ajudar no caso de haver complicações. Quando a hemorragia começa, é necessário que a mulher esteja em contacto com alguém que possa ajudar no caso de surgirem complicações.

    O Misoprostol só pode ser usado sem aconselhamento médico se a mulher não sofrer de qualquer doença grave.

    Não há problema com a maior parte das doenças. No entanto, doenças graves como, por exemplo, anemia severa, podem causar complicações devido à forte hemorragia que o aborto implica. Algumas doenças podem por vezes justificar um aborto legal, mesmo nos países com leis restritivas.

    Não tome drogas ou álcool durante o tratamento!!!

    O Misoprostol não deve ser usado se existir a hipótese de gravidez ectópica (extra-uterina).

    A gravidez ectópica (ou extra-uterina) não ocorre no útero, mas na trompa de Falópio. Este é um pequeno órgão situado entre o útero e o ovário. Uma gravidez ectópica pode ser detectada através de uma ecografia. Nesse caso, é necessária a intervenção de um ginecologista para proteger a saúde da mulher. Se a mulher não for tratada, corre o risco de forte hemorragia interna devido à ruptura da trompa de Falópio.
    Qualquer ginecologista em qualquer país, mesmo nos países onde o aborto é ilegal, trata este tipo de situação. Uma gravidez ectópica não pode ser tratada com Misoprostol.

    O Misoprostol nunca deve ser usado nos casos em que a mulher tem inserido um dispositivo intra-uterino (DIU).

    O DIU é um contraceptivo, uma pequena espiral de 3 cm inserida pelo médico no útero da mulher para evitar a gravidez. Uma mulher que tem o DIU inserido e está grávida deve fazer uma ecografia, pois o risco de uma gravidez ectópica é maior. Se a gravidez estiver a ocorrer no útero, é necessário que o DIU seja removido antes do aborto.

    O Misoprostol só deve ser usado se a mulher estiver a poucas horas de viagem do hospital.

    Deste modo, se surgirem complicações, poderá ter rápido acesso a cuidados médicos.

    O Misoprostol nunca deve ser usado se a mulher for alérgica ao Misoprostol ou qualquer outra prostaglandina.

    Os casos de reacção alérgica são extremamente raros. A mulher saberá com certeza se já usou este tipo de medicamentos e se teve reacção alérgica. Se nunca utilizou o medicamento, também nunca manifestou reacção alérgica, mas não deverá preocupar-se com o uso do Misoprostol

    É possível que a tentativa de aborto com o Misoprostol não resulte.

    A possibilidade de o aborto resultar com o Misoprostol é apenas de 90%. O tratamento falha quando o medicamento não causa qualquer hemorragia ou se, apesar de haver hemorragia, a gravidez prossegue. A mulher pode usar de novo o medicamento dentro de alguns dias, mas pode acontecer que não resulte.
    No caso de o aborto não ocorrer passados 7 dias da utilização do Misoprostol, e não havendo um médico disposto a ajudar, só resta à mulher viajar para outro país — e fazer um aborto legal — ou levar avante a gravidez.
    Existe um ligeiro aumento do risco de a criança nascer com malformações, como deformações nas mãos ou nos pés e problemas no sistema nervoso do feto, se a gravidez continuar após a tentativa de aborto com o medicamento. Alguns médicos poderão considerar que isto justifica um aborto legal.

    Qualquer infecção sexualmente transmissível deve ser tratada.

    Se existir o risco de uma infecção sexualmente transmissível (IST, também conhecida como DST), como clamídia e gonorreia, consulte um médico e trate adequadamente a infecção. O risco de contrair esta infecção aumenta se tiver ocorrido violação (em muitos países, esta situação justifica o aborto legal, caso a mulher engravide), ou a mulher tenha mantido relações sexuais com um desconhecido.
    Ser portador de uma infecção sexualmente transmissível aumenta o risco de inflamação do útero e das trompas de Falópio. Esta inflamação é designada por doença de inflamação pélvica (DIP) ou salpingitis ou adnexitis.

    COMO OBTER O MISOPROSTOL

    (Venda de tabuletas abortar, Cytotec, Citotec, Mifepristone, RU486)?
    Na maior parte dos países, o Misoprostol encontra-se à venda nas farmácias.
    Mas se for possível obter a ajuda do Women on Web, é melhor fazer o aborto medicinal utilizando o Mifeporstone e o Misoprostol. Realizando um aborto medicinal com estes dois medicamentos a taxa de sucesso é muito maior (passa de 90% para 98%).
    Cytotec e Arthrotec são especialidades farmacêuticas genericamente designadas por Misoprostol. Às vezes consegue-se comprar o medicamento sem receita, outras é pedida receita médica. É menos provável que precise de receita para o Arthrotec.
    Misoprostol: designação genérica; medicamento usado para evitar úlceras gástricas.
    Cytotec ou Misotrol ou Mibetec ou Cyprostol: designação farmacêutica específica para Misoprostol.
    Arthrotec y Oxaprost: contém Misoprostol e um analgésico chamado Diclofenac. Indicado para dores nas articulações, ou artrite. O Arthrotec é geralmente mais caro do que o Cytotec.
    - Cytotec (200µg Misoprostol)
    - Arthrotec 50 or 75 (200µg Misoprostol)
    - Cyprostol
    - Misotrol (Chili)
    - Prostokos (25µg Misoprostol) (Brazil)
    - Vagiprost (25µg Misoprostol) (Egypt)
    - Oxaprost 50 or 75 (200µg Misoprostol) (Argentina)
    - Misotac (Egypt, Ghana, Sudan, Tanzania, Uganda, Zambia)
    - Mizoprostol (Nigeria
    - Misive (Spain)
    - Misofar (Spain)
    - Isovent (Kenya, Nepal)
    - Kontrac (India, Democratic Republic Congo)
    - Cytopan (Pakistan)
    - Noprostol (Indonesia)
    - Gustrul (Indonesia)
    - Asotec (Bangladesh)
    - Cyrux (Mexico)
    - Cytil (colombia)
    - Misoprolen (Peru)
    - Artrotec (Venezuela, Hong Kong, Australia)
    (even more: Mibetec, Cytomis, Miclofenac, Misoclo, Misofen, Arthrofen, Misogon, Alsoben, Misel, Sintec, Gastrotec, Cystol, Gastec, Cirotec, Gistol, Misoplus, Zitotec, Prestakind, Misoprost, Cytolog, GMisoprostol, Mirolut, Gymiso)
    Para adquirir estes medicamentos, a mulher pode, por exemplo, dizer que a avó está com uma crise tão forte de artrite reumatóide que nem sequer consegue ir à farmácia e que não tem dinheiro para ir ao médico pedir a receita do medicamento. Se tiver problemas em comprar os medicamentos numa farmácia, tente outra, ou peça a alguém do sexo masculino — um amigo ou o companheiro —, pois este terá com certeza menos problemas. Ou talvez encontre um médico disposto a passar a receita. Normalmente, é mais fácil adquirir o produto numa pequena farmácia local do que nas farmácias das grandes cadeias.
    Nalguns países, o Cytotec pode ser adquirido no mercado negro (locais onde também se compra marijuana). Tente, porém, certificar-se de que se trata mesmo de Misoprostol, de que não é falso, nem se trata de outro medicamento!
    A mulher deve comprar, no mínimo, 12 comprimidos de Misoprostol com 200 mcg. Um comprimido de Cytotec ou Arthrotec deverá conter 200 microgramas de Misoprostol. Veja a dosagem do Misoprostol na embalagem. Normalmente, os comprimidos contêm 200 mcg, mas existem outras dosagens. Se os comprimidos tiverem uma dosagem diferente, faça o cálculo do número de comprimidos suficiente para perfazer o mesmo total de Misoprostol.

    COMO USAR O MEDICAMENTO?

    Em países onde o aborto é ilegal, pode usar-se apenas o Misoprostol para induzir o aborto. O uso indevido do Misoprostol pode ser prejudicial para a saúde da mulher!!

    Para induzir o aborto, a mulher deve colocar 4 comprimidos de 200 microgramas (no total de 800 µg) de Misoprostol sob a lingüeta e mantidos aí até se dissolverem. Não engula!!.

    3 horas depois a mulher deve colocar mais 4 comprimidos de Misoprostol sob a lingüeta. Não engula!!

    A mulher deve colocar de novo, pela terceira vez, 4 comprimidos de Misoprostol 3 horas depois.

    Se a mulher usar arthrotec/oxaprost para induzir um aborto, ela deve deixar dissolver os 4 comprimidos debaixo da língua até que a camada exterior esteja dissolvida (cerca de meia hora). Ela deve deitar fora a parte interior do comprimido. A parte interior do comprimido é o diclofenaco, um analgésico e é melhor não engolir o interior dos comprimidos.
    A taxa de sucesso é de 90%.
    Após a primeira dose de Misoprostol, a mulher deverá sangrar e sentir dores. A hemorragia começa normalmente 4 horas depois da utilização dos comprimidos, mas, por vezes, mais tarde. A hemorragia é muitas vezes o primeiro indício de que o aborto começou. Se o aborto continuar, a hemorragia e as dores tornam-se mais intensas. O fluxo da hemorragia é muitas vezes maior e mais intenso do que na menstruação normal, e acontece expelirem-se coágulos de sangue. Quanto mais avançada a gravidez, mais fortes serão as dores e a hemorragia. No final do aborto, as dores e a hemorragia diminuem. O momento do aborto pode ser identificado com o pico da hemorragia, dores e contracções, que se tornarão mais intensas. Um pequeno saco gestacional, com alguns tecidos em volta, pode ou não ser visível dependendo do tempo de gravidez. Por exemplo, se a mulher estiver grávida de apenas 5 a 6 semanas, o saco gestacional não será visível. Com nove semanas, a mulher poderá provavelmente encontrar o saco no meio do sangue.
    Quando a mulher não tem qualquer hemorragia após a terceira dose, significa que não houve aborto. Pode tentar outra vez uns dias depois ou terá de viajar para um país onde o aborto é legal, ou, ainda, tentar de novo consultar um médico.
    Para aliviar as dores, a mulher pode usar analgésicos como o Paracetamol.
    (Von Hertzen H, ea WHO Research Group; Efficacy of two intervals and two routes of administration of misoprostol for termination of early pregnancy: a randomised controlled equivalence trial, Lancet. 2007 Jun 9;369(9577):1938-46. )

    Hemorragia pós-aborto

    A hemorragia continua ligeiramente durante uma a duas semanas após o aborto, por vezes menos, outras vezes mais. A menstruação volta normalmente passadas quatro a seis semanas.

    Confirmação do aborto

    Algumas mulheres perdem sangue, mas não têm um aborto. Como tal, é importante que a mulher se certifique de que o aborto realmente ocorreu. Pode demorar duas a três semanas até que o teste de gravidez se revele negativo. Se possível, a mulher deve fazer uma ecografia uma semana após o aborto para ter a certeza de que o útero está vazio.

    EFEITOS SECUNDÁRIOS

    Os efeitos secundários mais comuns são náuseas, vómitos e diarreia. Pode por vezes ocorrer febre ligeira.

    QUANDO RECORRER A UM MÉDICO OU IR AO HOSPITAL

    Se houver hemorragia intensa

    Uma hemorragia intensa é aquela que dura mais de 2-3 horas e absorve mais do que 2-3 pensos higiénicos (para fluxo intenso) por hora. Tonturas ou sensação de desmaio podem significar excesso de perda de sangue, o que é perigoso para a saúde da mulher. Se o fluxo intenso da hemorragia não diminuir depois de 2-3 horas, pode ser sinal de aborto incompleto (vestígios da gravidez ainda no útero), o que necessita de tratamento cirúrgico. Isto pode acontecer algumas horas após o uso do Misoprostol, mas também duas semanas ou mais depois do aborto.
    Nesse caso, a mulher tem de procurar ajuda e dirigir-se ao hospital ou médico mais próximo.
    Nos países em que as mulheres podem ser condenadas por praticarem um aborto, não é necessário informarem os profissionais de saúde que tentaram abortar; podem dizer que tiveram um aborto espontâneo. O médico NÃO consegue ver a diferença. O tratamento é igual para os dois casos e implica uma curetagem — conhecida como aspiração por vácuo — em que o médico esvazia o útero.
    Os médicos têm a obrigação de ajudar em qualquer circunstância.

    Se tiver febre

    Arrepios, tal como a ligeira subida da temperatura do corpo são efeitos secundários normais do Misoprostol. Contudo, se a mulher tiver febre (> 38 graus Celsius) durante mais de 24 horas, ou se a febre for superior a 39 graus, deve contactar um médico, pois pode haver uma infecção, causada por um aborto incompleto, que precisa de ser tratada (com antibióticos e/ou através de aspiração por vácuo).

    Se o Misoprostol não tiver resultado

    Isto acontece quando o Misoprostol não provocou hemorragia ou deu-se apenas uma pequena perda de sangue e a gravidez continuou. Existe um ligeiro aumento do risco de malformações congénitas, tais como deformações nas mãos ou nos pés e problemas no sistema nervoso do feto, se a gravidez prosseguir após a tentativa de aborto com estes medicamentos. Devido a este ligeiro risco de malformações congénitas, e no caso de a mulher não abortar espontaneamente após o uso do Misoprostol, deve ser feita uma aspiração por vácuo.

    Pode dizer que sofreu um aborto natural. Em países onde as mulheres podem ser julgadas por induzirem um aborto, não é necessário informar o médico de que o aborto não foi natural - pode simplesmente dizer-lhe que sofreu um aborto espontâneo. O médico NÃO CONSEGUE ver a diferença. O tratamento também é o mesmo. O tratamento é uma curetagem, também conhecido como aspiração por vácuo, durante o qual o médico retira o tecido que permaneceu no útero. Os médicos são obrigados a ajudar em qualquer caso.

    PARA O FUTURO

    A mulher deve usar contracepção eficaz para evitar uma nova gravidez indesejada.
    O DIU pode ser inserido pelo médico assim que a hemorragia cessa e o teste de gravidez é negativo, ou quando a ecografia mostra um útero vazio.
    Os contraceptivos orais também podem ser utilizados logo que cessa a hemorragia, mas não são totalmente eficazes durante o primeiro mês. Use outros contraceptivos, tais como preservativos, para protecção extra durante esse primeiro mês.
    Para colocar alguma questão acerca deste método ou partilhar alguma experiência, envie um e-mail para:info@womenonweb.org

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