terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

PEDRA DO REINO

A história da Pedra do Reino, palco da matança ocorrida entre os dias 14 e 17 de maio de 1838, começa pelo menos 270 anos antes, em Portugal, quando D. Sebastião é declarado rei aos 14 anos, em 1568.


D. Sebastião

O espírito aventureiro, explosivo, religioso e também belicoso do rei, o faz cometer inúmeros atos questionáveis. O maior, no entanto, é aquele em que perde a vida, lutando contra os mouros na Batalha de Alcácer-Quibir, na África.


Morte de D. sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir

A desastrosa operação causou não só a morte do rei, mas a desgraça do próprio país, que caiu na miséria. Enfraquecido, o reino foi ocupado pelas tropas de Filipe II, rei da Espanha.

Inconformado, o povo português transformou a morte de D. Sebastião num acontecimento simbólico: um dia ele voltaria para libertar e trazer de volta a felicidade ao seu povo.

Segundo o escritor belmontense Ernando Alves de Carvalho, o messianismo político-religioso de Portugal do século XVI ressurge deturpado e violento no interior de Pernambuco, três séculos depois.

Os chefes do movimento prometiam uma vidamelhor quando retornasse o rei. Negro voltaria branco, feio seria bonito, o pobre seria rico, doente voltaria com saúde.

O sebastianismo em Pernambuco existiu na primeira metade do século XIX em dois lugares. Na Serra do Rodeador, em Bonito, e na Serra Formosa, em São José do Belmonte. Ambos termiraram em tragédia.

Os fanáticos sebastianistas da Serra Formosa fundaram uma espécie de reino, que os dava direito a uma coroa feita de cipós.

Também manipulavam uma bebida à base de ópio e jurema. O primeiro rei foi João Antônio. Ele dizia que o rei havia lhe aparecido para mostrar-lhe um tesouro.

Andava com pedrinhas brilhantes nas mãos, angariando "fiéis", que o seguiram e fixaram sua comunidade na Pedra Bonita. João Antônio não resistiu à pressão das autoridades e afastou-se da Vila.

Deixou em seu lugar o cunhado, João Ferreira, que se tornaria o rei mais louco, cruel e sanguinário.

Ele fez as pessoas crerem que Dom Sebastião estaria "encantado" na Pedra e só retornaria, realizando todas as promessas feitas àquele povo, quando o lugar fosse lavado com sangue.

São muitos os relatos de mortes voluntárias (com pessoas se jogando do alto da Pedra) e involuntárias (a maioria era decapitada, incluindo crianças) ocorridas entre os dias 14 e 17 de maio.

Cinquenta e três pessoas foram sacrificadas nos três dias da matança, incluindo sua mulher, a rainha Izabel.

Tal ato despertou a ira do cunhado, Pedro Antônio. Ele falou aos discípulos que, na verdade, Dom Sebastião precisava agora do sangue do próprio rei. João Ferreira, conta-se, teria morrido com requintes de crueldade.

O major Manoel Pereira da Silva, outro conhecido personagem da história, soube do ocorrido e foi com suas tropas conter a verdadeira chacina provocada pelos reis da Pedra Bonita (que Ariano Suassuna, em seu romance, chamou de Pedra do Reino).

Os cavaleiros da cavalgada que ocorre atualmente, no local, rememoram a ida do major ao reino mais sangrento da "monarquia" brasileira.

A história, o tempo e a memória em A pedra do reino, de Ariano Suassuna

Cláudia Mentz Martins

Resumo


O romance A pedra do reino, de Ariano Suassuna, publicado em 1971, contém em sua composição a cultura popular nordestina e a presença do movimento messiânico da Pedra do Reino. A costura entre esses itens é feita pelo narrador- protagonista que relata sua trajetória e, por extensão, a de sua família, questionando os fatos oficiais da história nacional, manipulando o tempo da narrativa e da narração, e usando a sua própria memória e a de outros indivíduos da comunidade.

Palavras-chave


Ariano Suassuna; A Pedra do Reino; Romance; Tempo; Memória; História;

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