A insônia (português brasileiro) ou insónia (português europeu) (do latim, in sem + somnus sono) é uma dissonia caracterizada pela dificuldade em iniciar e/ou manter o sono e pela sensação de não ter um sono reparador causando prejuízo significativo em áreas importantes da vida do indivíduo. Do ponto de vista polissonográfico, é acompanhada de alterações na indução, na continuidade e na estrutura do sono. Geralmente aparece no adulto jovem, é mais frequente na mulher e tem um desenvolvimento crônico.[1]
É o transtorno de sono mais comum, respondendo por cerca de 25% das buscas em clínicas especializadas em tratamento de problemas do sono. Cerca de metade dos pacientes com insônia também tem depressão maior.[2]
Índice
[esconder]Classificação[editar | editar código-fonte]
Classificação DSM IV[editar | editar código-fonte]
Segundo o dicionário de saúde mental (DSM IV) a insônia pode ser classificada como primária ou secundária. Primária quando ela é a principal doença e secundária quando ela for sintoma de outra doença ou efeito colateral de uma droga. A insônia como sintoma de outro transtorno é duas vezes mais comum que a primária.[1]
Além disso deve-se levar em conta a principal queixa[3]:
- Dificuldade em iniciar o sono: Pode ser causado por distúrbios do ciclo circadiano, consumo de estimulantes, eventos estressantes, doenças neurológicas ou transtornos de ansiedade. Em crianças, isso pode se manifestar como dificuldade em iniciar o sono sem a intervenção do cuidador.
- Dificuldade em manter o sono: Caracterizada por despertares freqüentes, no caso de regularmente despertar por pesadelos passa a ser classificado como terror noturno. Pode ser causado por drogas, como álcool e nicotina, por dor crônica, ou a problemas respiratórios, como asma e apneia do sono. Em crianças, a dificuldade em voltar ao sono pode estar associada a intervenção do cuidador.
- Dificuldade para voltar a dormir: Mais comum em idosos, ao despertar muito cedo o sono pode voltar durante a tarde. Pode ser um efeito colateral, um transtorno endócrino ou estar associado a depressão maior.
Classificação da OMS[editar | editar código-fonte]
Na Classificação Internacional de Doenças (CID 10) pode ser classificado como causa orgânica (G47.0) ou por causa psicofisiológica (F51.0). Porém do ponto de vista clínico e polissonográfico existem grandes semelhanças entre os subtipos de insônia, ambos com causas orgânicas e psicofisiológicas, sendo desnecessárias as subdivisões.[4]
Classificação por tempo[editar | editar código-fonte]
- Insônias transiente
As insônias de transiente ou de curta duração são as que duram de poucos dias até três semanas. Geralmente são causados por estresse grave ou persistente como preocupações com a saúde própria ou de familiares; luto ou perda substancial; problemas familiares, profissionais ou de relacionamentos.
- Insônia intermitente
Caso os episódios de insônia ocorram de tempos em tempos, com períodos de sono regular e revigorante entre eles, passa a ser chamada de insônia intermitente.[5]
- Insônia crônica
As insônias de longa duração ou crônicas são as que duram mais de três semanas. Podem ser relacionadas a estresse contínuo, depressão, abuso de álcool ou drogas e hábitos inadequados para dormir, como o excesso de café (cafeína).
Causas[editar | editar código-fonte]
- Estimulantes do SNC: cafeína, nicotina, anfetaminas, cocaína, metanfetaminas, antidepressivos, pseudoefedrina...
- Abstinência de depressores do SNC: álcool, nicotina, benzodiazepinas, opioides, antipsicóticos, anticonvulsivantes...
- Eventos estressantes: avaliação de desempenho, doença ou morte de ente querido, problemas de relacionamento...
- Mudança na rotina de sono: especialmente em trabalhadores com jornadas variáveis ou após viagens longas por jet lag.
- Hábitos irregulares: Dormir e acordar em horas diferentes a cada dia, o organismo precisa de uma rotina para regular o ciclo de sono-vigilia;
- Ambiente inadequado: As luzes brilhantes, sons agudos e movimentos despertam o cérebro e atrasam o sono. Por isso deve-se evitar computador, TV, celular ou aparelhos similares antes de dormir. Dormir com animais também piora a qualidade do sono. Cheiros, superfícies e temperaturas desagradáveis também podem impedir o sono.
- Comer demais antes de deitar: aumenta o risco de refluxo gastroesofágico e constipação.
- Transtornos psicológicos: depressão clínica, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, hiperatividade...
- Transtornos neurológicos: Traumatismo cranioencefálico, Demência vascular, Doença de Parkinson, doença de Alzheimer e a rara insônia familiar fatal...
- Transtornos hormonais: hipertiroidismo, menopausa, TPM, Síndrome de Cushing...
- Problemas respiratórios: apneia do sono, asma, DPOC...
- Síndrome das pernas inquietas: mover as pernas dificulta entrar em sono profundo.
- Outras doenças crônicas: câncer, diabetes, doença cardíaca, qualquer causa de dor crônica...
Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]
Os sintomas da insônia geralmente são[9]:
- Sonolência durante o dia
- Cansaço e fraqueza
- Mau humor e irritabilidade
- Dificuldade de concentração e memória
- Reflexos mais lentos
A insônia crônica aumenta o risco de acidentes e de desenvolver transtornos psiquiátricos.
Epidemiologia[editar | editar código-fonte]
Entre 10 e 30% dos adultos tem pelo menos um episódio de insônia no mês e cerca de 5% vários episódios por mês. A insônia é 40% mais diagnosticada em mulheres. É incomum entre crianças e adolescentes. É mais frequente entre adulto jovem (entre 20 e 30 anos) e entre idosos (maiores de 65 anos).[10]
A insônia ocorre mais em populações urbanas do que rurais. Estudos populacionais de adultos no Brasil revelaram a insônia em 32% da população de São José do Rio Preto, no estado de São Paulo, uma cidade de porte médio; avaliação semelhante em zona rural revelou insônia em 16,8%, no Município de Jaraguari, Estado do Mato Grosso do Sul.[1]
Prevenção[editar | editar código-fonte]
Episódios de insônia muitas vezes podem ser prevenidos com modificação dos hábitos inadequados para dormir, preparando o local de dormir, organizando uma rotina de sono, evitando estimulantes, praticando exercícios regularmente ou com técnicas de meditação.[11]
Tratamento[editar | editar código-fonte]
O tratamento é bastante amplo e depende da causa. O tratamento da insônia crônica deve começar organizando o tratamento de qualquer condições subjacentes que possa causar a insônia, como problemas cardíacos, pulmonares ou endócrinos.
Vários estudos concluem que a terapia cognitivo-comportamental para insônia é superior a longo prazo que tratamento com benzodiazepinas ou outros sedativos. A terapia pode envolver técnicas para lidar com a ansiedade, um diário para identificar os hábitos não-saudáveis, só usar a cama para dormir e sexo, regular a luz e música do quarto e parar de se esforçar para dormir.[12]
- Medicamentoso
Apesar de serem menos eficientes e terem diversos efeitos colaterais, os sedativos são mais usados que a psicoterapia no tratamento da insônia. Especialistas defendem que deveriam ser prescritos para insônia primária apenas se a psicoterapia não for suficiente.[13]
A classe mais comumente usada de hipnóticos(soníferos) são as benzodiazepinas. Os benzodiazepínicos não são significativamente melhores para a insônia do que os antidepressivos. Devem ser usados para tratar ansiedade por menos de 6 meses, pois causam dependência física, síndrome de abstinência e piora da qualidade de sono a largo prazo. [14]
Um novo grupo de sedativos chamado de grupo Z (Zolpidem, Zaleplona e Zopiclone) possui mecanismo de ação e eficácia similar às benzodiazepinas, mas com menos efeitos indesejáveis a largo prazo.[15]
Embora todos os antidepressivos atuem sobre o sono e reduzam a dor e ansiedade, alguns antidepressivos como amitriptilina, doxepina, mirtazapina e trazodona tem efeito sedativo imediato e por isso são prescritos para tratar a insônia.[16]
Estudos também mostraram que as crianças que estão no espectro do autismo ou têm dificuldades de aprendizagem, Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou doenças neurológicas relacionadas podem se beneficiar do uso de melatonina.[17] Melatonina também tem um bom resultado entre idosos e viajantes frequentes e ajuda a prevenir Alzheimer. Sua eficiência tratando insônia em adultos é pobre, reduzindo em média apenas 6 minutos do tempo necessário para dormir.[18]
Anti-histamínicos(anti-alérgicos), como difenidramina (Tylenol), causam sonolência e podem ser comprados sem prescrição médica, sendo populares como automedicação, mas não deveriam ser usadas para insônia crônica, por gerarem dependência química e efeitos anticolinérgicos indesejados como taquicardia, visão embaçada e constipação.[19]
- Ervas medicinais
Dentre as plantas com potencial sonífero se destacam a valeriana, camomila, maracujá, lavanda, cannabis, Withania somnifera e a kava kava. É importante ressaltar que assim como qualquer medicamento, as ervas medicinais também tem efeitos colaterais, risco de sobredose e contra-indicações.[20]
- Acupuntura
Vários estudos foram feitos com pequenas amostras, má qualidade metodológica, forte viés de publicação, condições muito diversificadas de critérios e sem investigar os participantes que abandonaram o estudo. Frequentemente encontraram pequeno efeito positivo da acupuntura com agulhas, mas com grande diferença de resultados individuais. Uma revisão sistemática desses estudos conclui que a evidência atual não é suficientemente rigorosa para apoiar ou refutar a acupuntura para o tratamento da insônia. [21]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ ab c Jaime M Monti. Insônia primária: diagnóstico diferencial e tratamento. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(1):31-4 [1]
- ↑ Association of Sleep Disorders Centers: diagnostic classification of sleep and arousal disorders. Prepared by the Sleep Disorders Classification Committee. Roffwarg H, chairman. Sleep 1979;2:1-137.
- ↑ "Sleep Wake Disorders ." Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5.. 5th ed. Washington, D.C.: American Psychiatric Association, 2013.
- ↑ Reynolds CF, Kupfer DJ, Buysse DJ, Coble PA, Yeager A. Subtyping DSM-III-R primary insomnia: a literature review by the DSM-IV work group on sleep disorders. Am J Psychiatry 1991;148:432-8.
- ↑ [2]
- ↑ National Sleep Foundation. What Causes Insomnia? https://sleepfoundation.org/insomnia/content/what-causes-insomnia
- ↑ University of Maryland Medical Center. Insomnia. http://umm.edu/health/medical/reports/articles/insomnia
- ↑ Mayo Clinic Staff. Insomnia - Symptoms and causes. http://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/insomnia/symptoms-causes/dxc-20256961
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- ↑ WHO. Dyssomnias. pp 7-11. http://www.who.int/selection_medicines/committees/expert/17/application/Section24_GAD.pdf
- ↑ Treatment for Insomnia. WebMD Medical Reference Reviewed by Louis R. Chanin, MD on August 21, 2014. http://www.webmd.com/sleep-disorders/guide/insomnia-symptoms-and-causes#2
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- ↑ Cheuk, DK; Yeung, WF; Chung, KF; Wong, V (12 September 2012). "Acupuncture for insomnia.". The Cochrane database of systematic reviews. 9: CD005472. doi:10.1002/14651858.CD005472.pub3
[3] Insônia - causas e como melhorar desse problema
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