CONTEXTO
O período literário conhecido como Pré-Modernismo situa-se, aproximadamente, nas duas primeiras décadas do séc. XX, precedendo o movimento modernista de 22. Na verdade, o Pré-Modernismo não corresponde a uma escola literária, mas sim a um confluir de escritores que, não correspondendo a nenhuma das estéticas de fins do século XIX, tiveram uma produção de impacto, apresentando novas vertentes estilísticas e/ou temáticas em nossa literatura.
Os principais autores do período são:
Lima Barreto (1881-1922)
João do Rio (1881-1921)
Augusto dos Anjos (1884-1914)
Euclides da Cunha (1866-1909)
Monteiro Lobato (1882-1948)
Lima Barreto (1881-1922)
João do Rio (1881-1921)
Augusto dos Anjos (1884-1914)
Euclides da Cunha (1866-1909)
Monteiro Lobato (1882-1948)
A Avenida Central, atual Rio Branco, no início do séc. XX, após a Reforma Pereira Passos
O Rio de Janeiro do início do século XX, capital da recém-proclamada República, em meio a suas profundas transformações promovidas pela reforma urbana de Pereira Passos, na região central da cidade, é o pano de fundo da obra de dois grandes representantes do momento pré-modernista: Lima Barreto e João do Rio.
A Reforma Pereira Passos, também conhecida à época por Bota Abaixo, instaurava o período conhecido como Belle Époque, marcado por ares europeizados do Centro da Cidade, sobretudo. O Rio de Janeiro apresentava-se como a Paris dos Trópicos.
PRÉ-MODERNISMO
Esse mesmo cenário agudiza conflitos sociais na cidade. A percepção dessa desigualdade social marcada será sublinhada na obra de Lima Barreto. O escritor, de fato reconhecido em sua grandiosidade apenas postumamente, trouxe-nos uma prosa em linguajar mais corrente, de certa forma, retomando o projeto de abrasileirar a linguagem literária brasileira, iniciado por Alencar e que atingiria seu clímax com os modernistas de 22. Sua literatura é de denúncia de desigualdades sociais e preconceitos, de temáticas que retratam aspectos mais populares da sociedade e de construção de um projeto de país utópico, como bem retratadas em sua obra maior O triste fim de Policarpo Quaresma.
Também nutrido de mordaz senso de observação, João do Rio − Paulo Barreto, de nascimento− em suas crônicas principalmente, foi crítico severo das transformações por que o Rio passava. As quais, segundo ele, a título de modernidade, retiravam da cidade sua verdadeira alma. Vemos isso no trecho seguinte:
MODERNIZAÇÃO (João do Rio)*
— As avenidas são a morte do velho Rio. Este mercado, onde não moram mais os mercadores, esse mercado fechado e higiênico pode ser aquela antiga praça centro da miséria, da luxúria viscosa, de tantas e tantas tradições? Nunca! Amanhã, temo-lo demolido como a velha Saúde, amanhã atiram esses becos por terra; amanhã desmancham a rua Tobias Barreto, a rua do Nuneio, a rua da Conceição, e a parte bizarra, curiosa, empolgante da cidade desaparece absolutamente! Vamos ficar como todas as outras cidades!
— As avenidas são a morte do velho Rio. Este mercado, onde não moram mais os mercadores, esse mercado fechado e higiênico pode ser aquela antiga praça centro da miséria, da luxúria viscosa, de tantas e tantas tradições? Nunca! Amanhã, temo-lo demolido como a velha Saúde, amanhã atiram esses becos por terra; amanhã desmancham a rua Tobias Barreto, a rua do Nuneio, a rua da Conceição, e a parte bizarra, curiosa, empolgante da cidade desaparece absolutamente! Vamos ficar como todas as outras cidades!
— As ruas morrem, e mudam de alma. Se nós mudamos, que queres tu que elas façam?
[...]
[...]
*Texto escrito por Paulo Barreto (João do Rio), publicado na Gazeta de Notícias, em 12 de janeiro de 1908
Em estilo de produção totalmente diverso desses autores, eis que surge Augusto dos Anjos. Até hoje, é, possivelmente, um caso único e de difícil classificação estética. Sua tradicional na forma e inovadoramente ímpar no conteúdo. Instaura-se em seu texto todo um vocabulário e terminologia de viés cientificista e muito pouco usual na tradição poética.
Outro a se destacar em obra magnânima é o jornalista Euclides da Cunha, por meio de Os Sertões, marco introdutório da temática do Nordeste, a ser retomada depois pela geração modernista de 30, em nossa literatura. Essa é uma produção que une o tom literário ao apuro jornalístico, sobretudo em suas descrições e caracterizações do contexto da Guerra de Canudos, a qual estava encarregado, profissionalmente, de acompanhar.
Por fim, o destacado Monteiro Lobato, autor cuja produção extrapola a temática infanto-juvenil de O sítio do Pica-pau Amarelo a qual o consagrou por muitas gerações. Lobato foi autor atento às grandes questões do país. Como dizia, “Um país se faz com livros e homens”. Além de escritor de dezenas de obras, também atuou como tradutor, ensaísta, editor. É seu o personagem Jeca Tatu, até hoje tomado como certo estereótipo caricatural do caipira brasileiro.
EXERCÍCIOS
RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA
A minha situação no Rio estava garantida. Obteria um emprego. Um dia pelos outros iria às aulas, e todo o fim de ano, durante seis , faria os exames, ao fim dos quais seria doutor!
Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premente, cruciante e onimodo* de minha cor... Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a consideração de todo a gente. Seguro do respeito à minha majestade de homem, andaria com ela mais firme pela vida afora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia falar, dizer bem alto os pensamentos que estorciam no meu cérebro.
O flanco, que minha pessoa, na batalha da vida, oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria mascarado, disfarçado...
Ah! Doutor! Doutor!...Era mágico o título, tinha poderes e alcances múltiplos, vários polifórmicos...Era um pallium*, era alguma cousa como clâmide* sagrada, tecida com um fio tênue e quase imponderável, mas a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da chuva afastar-se-iam transidas do meu corpo, não se animariam a tocar-me nas roupas, no calçado sequer. O invisível distribuidor de raios solares escolheria os mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexoráveis, com o comum dos homens que nãoé doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola inflado e grosso, como um sapo-entanha antes de ferir a martelada à beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praças, pelas salas, recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? Como está, doutor? Era sobre-humano!...
A minha situação no Rio estava garantida. Obteria um emprego. Um dia pelos outros iria às aulas, e todo o fim de ano, durante seis , faria os exames, ao fim dos quais seria doutor!
Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premente, cruciante e onimodo* de minha cor... Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a consideração de todo a gente. Seguro do respeito à minha majestade de homem, andaria com ela mais firme pela vida afora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia falar, dizer bem alto os pensamentos que estorciam no meu cérebro.
O flanco, que minha pessoa, na batalha da vida, oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus, ficaria mascarado, disfarçado...
Ah! Doutor! Doutor!...Era mágico o título, tinha poderes e alcances múltiplos, vários polifórmicos...Era um pallium*, era alguma cousa como clâmide* sagrada, tecida com um fio tênue e quase imponderável, mas a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da chuva afastar-se-iam transidas do meu corpo, não se animariam a tocar-me nas roupas, no calçado sequer. O invisível distribuidor de raios solares escolheria os mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexoráveis, com o comum dos homens que nãoé doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola inflado e grosso, como um sapo-entanha antes de ferir a martelada à beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praças, pelas salas, recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? Como está, doutor? Era sobre-humano!...
Onímodo - de todos os modos; pallium - manto, capa; clâmide - manto
(Lima BARRETO)
O discurso do personagem-narrador manifesta uma ânsia de reconhecimento social expressa em detalhes ou pequenos objeto. Transcreva do 4º parágrafo um exemplo desse procedimento narrativo.
Resposta
“Era mágico o título, tinha poderes e alcances múltiplos, vários polimórficos."
(Lima BARRETO)
O discurso do personagem-narrador manifesta uma ânsia de reconhecimento social expressa em detalhes ou pequenos objeto. Transcreva do 4º parágrafo um exemplo desse procedimento narrativo.
Resposta
“Era mágico o título, tinha poderes e alcances múltiplos, vários polimórficos."
A matéria narrada neste texto não é representada como um fato, mas como um projeto. Indique o recurso linguístico que caracteriza essa representação.
Resposta
Formas verbais no Futuro do Pretérito.
Formas verbais no Futuro do Pretérito.
A realidade social compõe a obra literária sob diversas formas. No texto de Lima Barreto, o ponto de vista do autor acerca dos efeitos da exclusão social revela-se por meio de um procedimento narrativo. Explique tal procedimento.
Resposta
Descrição detalhada das contradições do sistema de ensino pelo narrador.
Resposta
Descrição detalhada das contradições do sistema de ensino pelo narrador.
Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma “escola literária”, por apresentar individualidades muito fortes, com estilos, às vezes, antagônicos – como é o caso de Lima Barreto, podemos perceber pontos comuns às principais obras desse período. Destaque esses pontos.
Resposta
Denúncia da realidade brasileira: tipos humanos marginalizados como o escrivão Isaías Caminha; ruptura com o passado: Lima Barreto ironiza tanto os escritores “importantes” que utilizavam uma linguagem pomposa quanto os leitores que se deixavam impressionar por eles.
Resposta
Denúncia da realidade brasileira: tipos humanos marginalizados como o escrivão Isaías Caminha; ruptura com o passado: Lima Barreto ironiza tanto os escritores “importantes” que utilizavam uma linguagem pomposa quanto os leitores que se deixavam impressionar por eles.
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